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Jair Rodrigues mostrou sua versatilidade em último trabalho

Os dois volumes de 'Samba Mesmo' trazem repertório na linha da seresta, do choro e do samba-canção

Por Adriana Del Ré
Atualização:

"Você é a Adriana, do Estadão? Aqui é o Jairzão, de Cotia!". O gracejo veio seguido de uma risada franca. Assim, descontraída, começava a conversa com Jair Rodrigues por telefone, no mês passado. Foi uma das últimas entrevistas concedidas pelo cantor. Ele estava estusiasmado com o novo projeto, que lhe ativava a memória afetiva – de infância e de crooner – e, claro, lhe dava munição para uma nova turnê.

Ele havia acabado de lançar Samba Mesmo, em dois CDs. Dois belos volumes com repertório na linha da seresta, do choro e do samba-canção. A ideia partiu do filho, o músico Jair Oliveira, numa espécie de tributo à trilogia seresteira lançada pelo pai entre final dos anos 1970 e início dos 1980. Jairzão, que sempre ouvia – e confiava na opinião de Jairzinho – acatou a sugestão.

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Juntos, os dois partiram em busca de músicas que o cantor nunca tinha gravado. Chegaram a 23 clássicos, de Roberto Carlos (Como É Grande o Meu Amor Por Você), Paulo Vanzolini (Volta Por Cima), entre tantos outros, além de três inéditas: Se Eu Deixar, de Roque Ferreira; Todos os Sentidos, de Martinho da Vila; e Força da Natureza, engavetada desde 1974, de autoria do próprio Jair Rodrigues, Carlos Odilon e Orlando Marques.

"Apesar de cantar de tudo, as pessoas costumam associar meu pai ao samba, ao mais festivo. Até pela personalidade dele. Só que esses três antigos discos de seresta dele são tristes, mas lindos. Sempre tive vontade de retomar isso", contou, na época, Jair Oliveira, que assina a produção do projeto.

Jair Rodrigues, de fato, tem uma obra eclética, que vai do rap ao soul, passando pelo sertanejo. Mas como esquecer a verve, digamos, expansiva do cantor se ele dominava todos os cantos do palco, a ponto de até plantar bananeira com a perfeição de um acrobata – como fez no show de lançamento de Samba Mesmo no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, no começo de abril? E como esquecer seu jeito, digamos, extrovertido ao ouvi-lo iniciar uma entrevista em tom tão bem-humorado?

O lançamento de Samba Mesmo também levou Jair Rodrigues ao estúdio da TV Estadão, onde ele daria uma nova entrevista a esta repórter. Ali, a gentileza e a alegria do cantor foram praticadas presencialmente. E ele não foi sozinho. Estava acompanhado de seu fiel escudeiro, Jair Oliveira, que também participaria da entrevista, como produtor de Samba Mesmo e como protagonista de seu novo DVD, Jair Oliveira 30, que traz registro de um show que o músico fez em comemoração aos 30 anos iniciais de carreira.

Sob os olhares curiosos vindos da redação do Estado, Jair Rodrigues entrou no estúdio, não sem antes cumprimentar alegremente quem, no caminho, encontrava. Já sentado em uma cadeira, o cantor esperava, sem pressa, a hora de gravar. Estava disposto a colocar em prática qualquer ideia que surgisse para aquele bate-papo. Mesmo que essa ideia fosse cantar, no final da entrevista, uma música cuja letra não se lembrasse a contento.

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Bem que ele tentou buscar ajuda em uma ‘cola’ que carregava a tiracolo – algumas folhas de papel que pareciam trazer, justamente, letras de músicas. Mas foi em vão. Em meio àquele material embaralhado, não encontrou o que queria.

Assim, não houve alternativa a não ser recorrer a seu ‘HD externo’ – a memória do filho Jair – na hora de cantar Io e Te, música em italiano que levou a dupla para o festival de Sanremo de 1982, na Itália, e, a partir dela, Jair Oliveira recebeu convite para participar do grupo infantil Balão Mágico.

Pela importância da canção, Jairzinho a incluiu em seu projeto dos 30 anos de carreira – por isso, o pedido para que os dois a cantassem durante a gravação. "Você ainda é um garotão novinho, cheirando à tinta, você sabe as letras de cor. Me ajuda aí!", ele pediu ajuda ao filho, emendando, depois, quase uma gargalhada. Naquele momento, a cumplicidade entre os dois ficou evidente – e o duo saiu bonito.

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Entrevista finalizada, Jair Rodrigues distribuiu fortes abraços. Seu próximo destino era o estúdio da Rádio Estadão, que fica em frente ao da TV Estadão, no mesmo andar. E, nesse curto trajeto, Jairzão parou a cada pedido de foto. Sem muxoxos. Com a simpatia que também lhe deu fama.

Aos 55 anos de carreira, Jair Rodrigues se sentia satisfeito com o rumo que ela tinha tomado. Numa checagem rápida de sua idade, ele respondeu: "75 anos na cabeça e vou chegar até os 150. Vou encher o saco!" Foi, mais uma vez, uma forma bem-humorada que ele encontrou para dizer que queria mais tempo para fazer tudo o que desejava.

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