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Jair Rodrigues e Jair Oliveira lançam projetos próprios

Enquanto o pai chega às lojas com dois volumes do disco 'Samba Mesmo', o filho tem projeto de 30 anos de carreira

Por Adriana Del Ré
Atualização:

Apesar de serem donos de carreiras próprias, Jair Rodrigues e Jair Oliveira, pai e filho, sempre lançaram olhares carinhosos – e ouvidos atentos – um sobre o trabalho do outro. E trocaram experiências, influências. Coincidentemente, ambos estão com novos projetos, lançados agora com o mesmo cuidado recíproco. Aos 75 anos, o cantor Jair Rodrigues inscreve em sua discografia dois novos álbuns, divididos em volumes 1 e 2, sob o título Samba Mesmo e produção de Jair Oliveira. O filho contribui ainda com uma composição, o Samba Me Cantou, e com participação especial em No Rancho Fundo, ao lado da irmã Luciana Mello.

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Enquanto isso, o projeto Jair Oliveira 30, em versão DVD e também Blu-Ray (este, com documentário), registra o show único que o músico, de 39 anos, fez em 2011, ano em que completava 30 anos de trajetória, iniciada quando ainda era criança. No palco do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, relembrou canções que marcaram sua vida profissional até então, passando pelo grupo infantil Balão Mágico, na década de 80, pelo projeto Artistas Reunidos, no final dos anos 1990, e pela carreira solo, nos anos 2000. Ali, também recebeu, entre outros convidados, o pai para cantar Io e Te, música que os levou para o festival de Sanremo, na Itália, em 1982 – e abriu portas para Jair virar Jairzinho no Balão Mágico.

"Temos um respeito profissional um pelo outro, e aí incluo minha irmã Luciana", diz Jair Oliveira. No fogo cruzado dos elogios, Jair Rodrigues fala das habilidades do filho: "Ele é compositor, produtor, diretor, músico, canta. O menino está com a bola toda!".

Coração seresteiro. Os dois volumes de Samba Mesmo levam o crivo de Jair Rodrigues, mas têm o dedo de Jair Oliveira. Foi ele que, pensando em projetos irretocáveis que Jair Rodrigues fez ao longo dos 55 anos de carreira – em especial o Antologia da Seresta, lançado entre final dos anos 1970 e início dos 80 –, propôs ao pai o conceito do que seria seu novo trabalho.

"Apesar de ele cantar de tudo, as pessoas associam meu pai ao samba, ao mais festivo, alegre, até pela personalidade dele. Mas seus três discos de seresta são tristes e lindos", conta. "Sempre tive vontade de retomar isso, sem regravar aquelas serestas, mas fazendo uma incursão nesse tipo de interpretação, que é mais samba-canção, mais choro."

Jair Rodrigues topou o projeto, e os dois partiram em busca de músicas que o cantor nunca tinha gravado. Chegaram a 23 clássicos, de Roberto Carlos (Como É Grande o Meu Amor Por Você), Noel Rosa (Fita Amarela), Paulo Vanzolini (Volta Por Cima), entre tantos outros, além de três inéditas: [ ]Se Eu Deixar, de Roque Ferreira; Todos os Sentidos, de Martinho da Vila; e Força da Natureza, engavetada desde 1974, de autoria do próprio Jair Rodrigues, Carlos Odilon e Orlando Marques. Todas arranjadas dentro desse universo sonoro seresta/choro/samba canção. Mas até chegarem a essa seleção, os dois ‘Jaires’ passaram tardes regadas a músicas e histórias contadas pelo Jair pai.

A conexão entre os dois se estende para os palcos. Jair Oliveira já participou do show de lançamento de Samba Meu em São Paulo, na semana passada. E Jair Rodrigues é o convidado do filho no dia 30 de abril, na temporada de shows que ele faz com Jair Oliveira 30 no MuBE Nova Cultural, também em São Paulo.

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‘Eu não iria imitar Cauby em ‘Conceição'Jair Rodrigues, cantor e compositor

Como você chegou às músicas dos dois novos discos?Esse repertório me acompanha desde menino. Me lembro que, quando eu tinha 10, 12 anos, ouvia aqueles seresteiros ao pé da janela. Tem ainda as músicas que vieram depois, como as de Roberto Carlos. Éramos da mesma geração, dos anos 1960. Peguei também uma música do Gonzaguinha (É), outra do Chico Buarque (Apesar de Você). Fui um dos primeiros a gravar Chico.

No Vol. 1, tem canção inédita do Martinho da Vila. Como entrou?Fui participar do Sambabook dele no Rio. Quando estava lá, falei para o Martinho sobre o projeto e que precisava de uma música inédita dele. No ato, ele lembrou de um samba que tinha feito em Paris, chamado Todos os Sentidos.

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Você é um intérprete reconhecido. Como é revisitar músicas que fizeram sucesso na voz de outros cantores? Cada um tem sua forma de cantar. Eu não iria imitar Cauby Peixoto cantando Conceição, nem Elba Ramalho, em De Volta Pro Aconchego. Fiz do meu jeito para que não houvesse comparações.

Do Roberto Carlos, você gravou ‘Como É Grande o Meu Amor Por Você’. Nunca tinha gravado música dele. Até tem uma historinha. Fui assistir ao show do Roberto em São Paulo. Como sei que as pessoas querem gravá-lo e parece que ele não autoriza, depois do show, fui lá no camarim e disse: ‘Você deixa de ser besta, gravei uma música sua’ (risos). Quando falei qual era, ele disse: ‘Ô cachorrão, você não pede, você manda’. Ele já ficou todo contente: ‘Sempre quis que você gravasse uma música minha’.

'Tenho orgulho da fase do Balão Mágico’Jair Oliveira, músico, cantor, compositor e produtor Como nasceu o projeto para celebrar os 30 anos de carreira?Foi um show específico, de 2011, que montei para não deixar essa data redonda passar em branco. Queria contar a história desses 30 anos iniciais por meio de músicas marcantes. Para o início do show, coloquei um prefácio, uma música que pudesse dizer para as pessoas de onde eu vim, das minhas influências. Como minha principal influência é meu pai, acabei escolhendo Disparada.

O repertório segue a ordem cronológica de sua carreira, certo?Sim, tive vontade de fazer assim. Eu e meu pai cantamos Io e Te, música em italiano que tem um significado especial por ter levado a gente para o festival de Sanremo de 1982, na Itália, e, a partir dela, recebi convite para participar do Balão Mágico. Depois, canto com Simony Coração de Papelão, que é da fase da dupla que eu fiz com ela, após o fim do Balão, e Superfantástico. Só que tem uma curiosidade: nunca gravei essa música, porque eu não era do Balão na época em que ela foi lançada.

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E por que gravou agora?Porque geralmente, quando as pessoas lembram essa fase do Balão, elas cantam para mim essa música (risos). Na sequência, emendo canções de um período importante: o do projeto Artistas Reunidos, formado por mim, Wilson Simoninha, Max de Castro, Pedro Mariano, minha irmã Luciana Mello e Daniel Carlomagno. Fazia anos que a gente não conseguia se reunir para tocar juntos. Da metade do show para frente, exploro mais a minha carreira solo.

Muito se falou que você renegou a época do Balão. No projeto, a intenção é mostrar que não foi assim?Quando voltei dos EUA, onde estudei, lancei meu primeiro disco solo, em que ainda assinava Jairzinho Oliveira. Mas a partir do segundo, adotei meu nome de batismo, Jair Oliveira. Como o disco Dis’ritmia (2000) fez certo sucesso no exterior, eu via que as pessoas tinham dificuldade de pronunciar Jairzinho. A gente também sabe que a TV é um universo da redundância e, muitas vezes, eu deixava de fazer algumas coisas quando sabia que a pauta era só para falar do Balão. Então, acho que as pessoas ficaram meio sentidas e acabou-se espalhando um boato que não é real. Claro que coloquei isso no meu DVD: é algo que faz parte da minha carreira e do qual tenho orgulho.

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