Ivan Lins faz show em SP

Ele traz A Cor do Pôr-do-Sol, que já passou pelo Rio e por Belo Horizonte e canta músicas de Noel Rosa, Totonho Villeroy e suas parcerias com Vítor Martins, entre outros

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos músicos mais sofisticados da música brasileira, e não só dela, Ivan Lins é um autodidata que só chegou ao piano já quase adulto - tocando um instrumento afinado meio tom acima do diapasão, o que fez dele o rei dos bemóis e dos sustenidos. Tímido, era o líder, nos anos 70, do Movimento Artístico Universitário - MAU -, que tinha como integrantes, entre outros, Gonzaguinha e Aldir Blanc. Adiante, foi o nome de frente do elenco do programa Som Livre Exportação, da Globo, palco para os novos talentos da música brasileira. Nessa época, sem abrir mão da extrema sofisticação, tornou-se um dos autores mais populares da MPB, predileto dos grandes intérpretes, como Elis Regina e Nana Caymmi. No início dos ano 90, criou uma gravadora - a Velas - em sociedade com o parceiro mais constante, Vítor Martins. Afastou-se da gravadora no ano passado e retomou o ritmo da carreira, que estava irregular. Lançou, em dezembro, um belíssimo disco de canções de Natal, campeão de vendagem entre os do gênero, e acaba de pôr nas lojas A Cor do Pôr-do-Sol, CD cujo repertório serve de base para o do show que apresenta de sexta a domingo no DirecTV Music Hall. O espetáculo tem 23 músicas, contadas as do bis - ou epílogo, como propõe o roteiro de Ivan e do diretor Túlio Feliciano -, das quais 12 saem do disco novo. O que é muito corajoso. Em geral, cantores-compositores cantam os sucessos misturados às músicas inéditas. Ivan inverteu. "E a platéia, que espera os sucessos, não sente, porque vou ligando as novas às músicas minhas, ou de outros, que tenham temas afins", explica o músico. "Por exemplo, quando canto a nova Ladrão, que tem letra de Totonho Villeroy, emendo com Onde Está a Honestidade, de Noel Rosa, que todos conhecem." E que ele já gravou, aliás. Um de seus últimos trabalhos para a gravadora Velas foi um tributo, em três volumes, a Noel Rosa, trabalho de fundamental importância por evidenciar a modernidade da obra do gênio de Vila Isabel. Sua preocupação era exatamente essa: mostrar quanto a música urbana deve a Noel. Ivan Lins, para além do talento imenso, faz coisas assim por generosidade - porque sempre quer compartilhar com o máximo de gente possível aquilo que lhe dá prazer. De fato: fundou a gravadora Velas para que Guinga, seu companheiro de geração, pudesse, afinal, começar a gravar discos. Gravado, enfim ouvido, Guinga é hoje considerado um dos maiores compositores de todos os tempos. ReproduçãoIvan Lins no Carnegie Hall, com a cantora Leila Pinheiro A Cor do Pôr-do-Sol, o show, já foi apresentado em Belo Horizonte e no Rio. No início do ano, o CD será lançado nos Estados Unidos, e, em maio, Ivan começa uma excursão por lá. Depois volta ao Brasil, para apresentar o espetáculo em outras cidades. "Acho que o disco tem fôlego e acredito que tenha carreira longa; portanto, o show também terá carreira longa", acredita. Ivan trabalhou, na montagem do roteiro, com o especialista Túlio Feliciano, que é quem melhor dirige espetáculos musicais por estas paragens. "O Túlio é um mágico" elogia o compositor. "E ele bolou ousadias de cena que eu resolvi bancar - não importa ganhar ou não dinheiro, importa mesmo é fazer um espetáculo de alto nível, mostrar poetas trabalhando, e digo isso porque o Túlio, que é um poeta, sabe extrair poesia de quem dirige." Ivan está patrocinando o show, em parceria com Lílian Klabin - não acha ruim que o dinheiro tenha de sair de seu bolso. "Patrocínio para música popular é muito difícil; vai quase tudo para o teatro, ou para a música erudita, o que é justo, já que essas atividades são menos lucrativas do que a música que toca no rádio, ou que deveria tocar no rádio", diz ele - é isso. Ivan não se preocupa em trazer para si o benefício desde que alguém que mereça seja beneficiado. Por isso mesmo, para a homenagem que recebeu no dia 25, no Carnegie Hall, em Nova York, fez questão de levar dois músicos brasileiros que admira: "Pudemos, na nossa parte, que abriu o show, dar uma idéia da música moderna brasileira, começando com o lado mais pop, representado pelo Ed Motta - que encantou os americanos -, passando pela bossa nova, que Leila Pinheiro canta magnificamente, e chegando à minha música" - que não é classificável. Faça sambas, valsas, canções, toadas, bossas, boleros, Ivan Lins compõe música de Ivan Lins: ele é o seu estilo. Confira no show deste fim de semana: das novas e excelentes Dois Córregos (parceria com Caetano Veloso) e Emoldurada (letra de Celso Viáfora), às mais que conhecidas Ai, Ai, Ai, Ai, Ai, Formigueiro e Meu País, todas com Vítor Martins, o retrato sonoro e vivo de um clássico. Ivan Lins. Sexta e sábado, às 22 horas; e domingo, às 20 horas. De R$ 20,00 a R$ 50,00. DirecTV Music Hall. Avenida dos Jamaris, 213, tel. 5643-2500. Até 12/11. Patrocínio: Volkswagen

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.