Ithamara Koorax volta com "Serenade in Blue"

Depois de colher sucesso no exterior, cantora lança seu sexto álbum cercada de nomes de peso, como Gonzalo Rubalcaba, Dom Um Romão, Marcos Valle Eumir Deodato e grupo Azimuth

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Por Agencia Estado
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Uma das vozes marcantes que surgiram nos anos 90, Ithamara Koorax andava sumida. Depois do lançamento do CD Bossa Nova Meets Drum´n´Bass, em 1998, a cantora apostou na expansão das fronteiras de seu trabalho e lançou-se no mercado externo. Aposta certeira. Fez sucesso nas paradas inglesas, ávidas por novas sonoridades, e, especialmente no Japão. O sucesso atraiu a atenção da gravadora norte-americana Milestone, que reúne a nata do jazz mundial - Isaac Hayes, Chet Baker, Thelonious Monk, Sonny Rollins e Duke Ellington, só para citar alguns. Daí nasceu seu sexto álbum, Serenade in Blue, cantado em inglês e português, no qual Ithamara volta a cercar-se de músicos (e amigos) de peso. Serenade in Blue é, segundo Ithamara, mais um passo na caminhada que vem fazendo há pelo menos uma década. Caminhada que se acelerou com o lançamento de Rio Vermelho, em 1995, disco que lhe rendeu elogios da crítica e contou com colaborações de luxo, como a do baixista americano Ron Carter e de Antônio Carlos Jobim (co-autor da toada Correnteza, de Luiz Bonfá). "Esse disco abriu portas por causa dessas participações mas desde o começo da carreira estive próxima de músicos que admiro e isso ajudou muito também", avalia a cantora, nascida em Niterói, no Rio, onde começou a carreira tendo como madrinha ninguém menos que a Divina Elisete Cardoso. Em seu mais recente CD - produzido por Arnaldo DeSouteiro -, Ithamara promoveu um reencontro com velhos amigos. "É uma grande celebração", define a cantora. Nas nove faixas do disco, ela passeia pela lounge music - estilo que tangencia o jazz e o blues -, acompanhada por gente como o cubano Gonzalo Rubalcaba (piano), Dom Um Romão (bateria), Marcos Valle (piano), Eumir Deodato (piano), e o grupo Azimuth, do pianista José Roberto Bertrami, entre outros. Todos já marcaram presença em trabalhos anteriores de Ithamara. Afinidades - "Eu não convido as pessoas pelo nome, mas pela afinidade musical e de estilo", diz a cantora, que no CD transita por standards internacionais - Serenade in Blue, Moon River, Aranjuez, Un Homme et une Femme e The Shadow of your Smile - e clássicos da música brasileira - a faixa de abertura Bonita (Jobim/Gilbert), Mas Que nada (Jorge Ben) e Aquarela do Brasil (Ary Barroso). Dom Um Romão exerce seu virtuosismo em Bonita e Mas Que nada. Nesta última, o baterista também ganhou sua dose de reencontro: Jorge Ben (que compôs a música ainda sem o Jor no nome) integrava o conjunto de Romão no início da carreira. "Decidi prestar uma homenagem a eles cantando essa canção", confessa Ithamara. "Esse trabalho costurou encontros que fizeram a minha história", afirma a cantora. Na verdade, são reencontros. Um deles foi com José Roberto Bertrami - que fez o arranjo da faixa-título do disco - e o grupo Azimuth. Os caminhos trilhados por eles quase sempre convergiram para uma mesma direção, desde o início da década de 90, quando começaram a tocar juntos. "Minha história e a do Azimuth são indissociáveis." Serenade in Blue é um trabalho refinado, que reflete a maturidade que Ithamara vem conquistando com a carreira no exterior. Uma carreira que, por enquanto, vai continuar meio distante do Brasil. Ela acredita que o mercado brasileiro hoje não teria condições de absorver seu trabalho. "A nossa música nunca esteve tão indigente", critica a cantora. "Admiro gente como Laurindo Almeida, Luiz Bonfá, Tom Jobim (nos anos 80), Sérgio Mendes e outros que têm um trabalho maravilhoso mas nunca tiveram espaço no próprio país." Indigência - Ithamara diz que não aceita um mercado dominado pelos axés e pagodes da vida, que relega nomes importantes da história da MPB a segundo plano. "O que o Edu Lobo é hoje no País?", questiona a cantora. "É um músico do primeiro time, com uma produção fantástica, mas não toca em rádio; isso é indigência." E completa: "Me incluo nesse time e portanto, acho que estou no caminho certo." Mas Ithamara prefere deixar a decepção de lado e falar da divulgação do trabalho nos Estados Unidos. Seu objetivo é receber o reconhecimento do público norte-americano, livre de rótulos como world music. "No Japão, escapei dos guetos de música brasileira, que apresentam bons trabalhos, mas são limitados", conta. O sucesso alcançado no outro lado do mundo foi impulsionado pela regravação do standard Cry me a River. A partir de então as portas do país foram abertas. Ithamara fez excursões em 91, 92, 95 e 96 para divulgar os CDs Rio Vermelho , Almost in Love - The Luiz Bonfá Songbook e Wave 2001 (gravado em Tóquio ao lado de alguns dos principais músicos japoneses). Depois dos shows de divulgação de Serenade in Blue, Ithamara pretende voltar ao estúdio. Dessa vez, vai gravar obras do compositor Dave Brubeck, que mandou recentemente para a cantora mais de 30 letras inéditas, acompanhadas de um cartão e de partituras. Portanto, segurem-se nas cadeiras. Parece que vem mais coisa boa por aí. Serenade in Blue - CD da cantora Ithamara Koorax. Milestone Records. Preço médio: US$ 14,98. Vendas pelo site fantasyjazz.com.

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