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Ibrahim Ferrer interpreta clássicos do bolero em 'Mi Sueño'

Trabalho de despedida do músico cubano, romântico por excelência, chega agora no Brasil

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Graças ao precioso projeto Buena Vista Social Club, de Ry Cooder, as vozes de Ibrahim Ferrer (1927-2005) e Omara Portuondo continuaram, dez anos depois, a encantar o mundo com sua doçura, um tanto além do filme/disco coletivo que os tirou do limbo. Ainda com o aval do Buena Vista, que também se tornou uma espécie de selo de qualidade da música cubana, Ferrer gravou seu último álbum, Mi Sueño, que sai agora no Brasil pela MCD.   Veja também: Ouça trecho de 'Quizás, Quizás', de Ibrahim Ferrer    Romântico por excelência, no seu trabalho de despedida Ferrer se debruçou sobre temas de bolero, um dos gêneros mais apropriados para devaneios de amor. Ele sempre quis fazer um projeto como este, daí o "meu sonho" do título do CD. Nas 12 faixas há clássicos Perfidia (Alberto Dominguez), Quizás, Quizás (Osvaldo Farrés) e até uma versão abolerada do clássico tango Uno (E.Discépolo/Mariano Mores).   Há, naturalmente, vínculos com parte da turma. Cooder produziu uma faixa, Melodía del Río, de Ruben González, que toca piano na mesma canção, que tem Joachim Cooder na bateria. Omara que dividiu com Ferrer os vocais no célebre dueto Dos Gardenias, agora o reencontra em Quizás, Quizás (Osvaldo Farrés). O baixista é Orlando "Cachaíto" López, que, como o exímio jovem pianista Roberto Fonseca, também está no CD de Omara, Flor de Amor, de 2005, que a MCD relança agora.   Além de tocar piano na maioria das faixas e assinar a direção musical, Fonseca divide a produção do álbum de Ferrer com Nick Gold. Os arranjos, seja com um grande conjunto, como em Si te Contara e Quiereme Mucho, ou em formações reduzidas, o maior charme do disco está nos arranjos. Regravada uma infinidade de vezes mundo afora, Perfidia, por exemplo, ganha uma das versões mais sofisticadas por conta do arranjo, com o piano de Fonseca em relevo.   A voz de Ferrer às vezes parece um pouco cansada, mas nada que comprometa a emoção. Surpreende também o fato de ele procurar variantes interpretativas para canções tão amplamente revisitadas. Quando Omara entra no dueto, ganha um reforço expressivo.   Naturalmente, a cantora também incluiu boleros em seu álbum Flor de Amor, que também foi produzido por Nick Gold e tem a mão de Alê Siqueira em quatro faixas. Além disso, o disco, que reúne belas cartas de amor musicadas, sela a união entre cubanos e outros brasileiros, como Swami Jr. (violão), Nailor Proveta (clarineta), Toninho Ferragutti (acordeon) e os percussionistas Marcos Suzano e Carlinhos Brown. O tribalista baiano também assina a faixa de encerramento do CD, Casa Calor. Omara viria depois a realizar outro projeto em colaboração com brasileiros, trocando impressões com Maria Bethânia.

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