Já que não houve acertos com relação a uma turnê brasileira de fato, o inglês Ian McCulloch, a indefectível voz do Echo and the Bunnymen, ataca nesta quinta-feira de DJ no projeto Sound do DJ Club (Alameda Franca, 241, Jardins). Considerando as preferências do Mister Lips (como também é conhecido), Lou Reed, David Bowie, James Brown e Frank Sinatra darão o tom do set list. A festa, privadíssima, terá ainda a discotecagem de Paulão, Lúcio Ribeiro, Kid Vinil, Miranda, Érica de Freitas e Márcio Custódio. Mas os fãs menos estelares poderão encontrar McCulloch no sábado, às 16h30, durante a tarde de autógrafos na Fnac (Avenida Pedroso de Moraes, 242). Tal qual o período em que engatou uma errática carreira-solo (entre 1988 e meados de 1995), McCulloch volta ao Brasil desacompanhado dos homens coelho para promover o nono álbum do grupo de Liverpool, o belo Flowers (lançado no Brasil pela Sum Records). O grupo já esteve no País por outras duas ocasiões, memoráveis apresentações em 1987 e 1999. "Nossas melhores platéias são as de Glasgow, Nova York, Paris e São Paulo", diz ele à reportagem na sede da gravadora, no Brooklin Novo. É o início de uma longa semana de entrevistas coletivas, participação em programas de rádio e TV, entre outras ocupações referentes à divulgação do álbum. "Tenho de fazer isso para continuar cantando e fazendo discos. Não vejo problema." No entanto, ele diz que a possibilidade de expressão é o que justifica as mais de duas décadas de cenário musical. "Eu era uma criança muito tímida e introspectiva, mas quando vi David Bowie percebi que podia me expressar livremente com a música. Essa foi a motivação para eu me tornar um artista." Nunca passou pela sua cabeça dedicar-se a outro ofício que não fosse a música? "Já pensei sim, gostaria de trabalhar em algo bem fácil talvez num escritório onde pudesse ficar sentado mandando nas pessoas", diverte-se. Com a tranqüilidade de quem tem a consciência de seu papel na história da música pop, McCulloch se diz o melhor cantor de todos os tempos. É uma imodéstia calculada e contraditória, posto que ele não esconde a reverência aos cantantes já citados. Contudo, exercita a verve ferina aos crooners britânicos que lhe eram páreos nos anos 80. "Robert Smith era muito afetado com toda aquela maquiagem e esquisitices góticas do The Cure. Já os Smiths tinham um instrumental fabuloso (McCulloch trabalhou com o guitarrista Johnny Marr), mas nunca gostei muito da voz do Morrisey." Decididamente, os contemporâneos não lhe fazem a cabeça. A fixação mesmo são os compositores da geração anterior à sua. "Houve um festival na Europa em que tocamos na mesma noite que Lou Reed e Iggy Pop. Foi emocionante", continua. "Enquanto todo mundo estava naquela de pós-punk, eu me interessava pelo psicodelismo dos anos 60, soul ou coisas do tipo Chocolate Watchband." Maturidade - McCulloch e o guitarrista Will Sergeant formaram o Echo and the Bunnymen em 1978. O nome Echo faz referência à bateria eletrônica usada até a entrada do baterista Pete de Freitas (que morreu num acidente automobilístico em 1989). Entre outras, o grupo é autor de um dos discos mais emblemáticos da década retrasada, o celebrado Ocean Rain (1984). "Na época eu disse que esse era o melhor disco já feito. Ouvindo hoje continuo tendo a mesma impressão", diz Mister Lips. Após emplacar hits como Killing Moon, Bring on the Dancing Horses, Lips Like Sugar e People Are Strange (música dos Doors gravada para a trilha do filme The Lost Boys), a banda encerrou atividades em 1988. O retorno deu-se em 1996. Precisávamos de uma parada, ela foi muito positiva para o nosso amadurecimento pessoal e artístico. Flowers reflete isso. Canções inspiradas, assinadas por dois veteranos da boa música. "Tenho 42 anos e nas letras de Flowers procurei escrever sobre como é estar envelhecendo com dignidade no meio musical."