Hip hop chega aos 20 anos no topo das paradas

Liderado nos EUA por nomes como Puff Daddy, Lauryn Hill, Notorious B.I.G., Missy "Misdemeanor" Elliott, Tupac Shakur e Nas, gênero desbanca o rock, firma-se como a estrela da indústria fonográfica mundial e ganha até seu próprio museu

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Por Agencia Estado
Atualização:

O hip hop chegou aos 20 anos com os dois pés no mainstream internacional. O gênero musical underground que começou a ser notado com o lançamento de Rapper´s Delight, em 1979, é hoje o que mais ganha destaque na indústria fonográfica norte-americana. Com o crescimento da importância do Hip Hop Music Awards, promovido pela revista The Source, o anúncio da criação do Hip Hop Museum, na cidade de Mount Vernon, no interior do estado de Nova York, e lançamentos como o livro The Vibe History of Hip Hop, de Alan Light, a indústria mostra que deve continuar ganhando força nos próximos anos. O hip hop do novo milênio nem precisaria de eventos ou lançamentos para gerar notícia. Nos últimos anos, graças ao impulso de nomes como Puff Daddy, Lauryn Hill, Notorious B.I.G., Missy "Misdemeanor" Elliott, Tupac Shakur e Nas, o gênero passou a perna no rock e se tornou uma indústria que movimenta, além da venda de CDs, o lançamento de filmes, linhas de roupas e muita influência no comportamento dos jovens negros - e mais recentemente, também dos brancos - nos Estados Unidos. Vinte anos depois que a produtora Sylvia Robinson formulou o grupo Sugar Hill - um trio que conquistou as emissoras de rádio, saturadas de disco music, fazendo raps sobre a base de Good Times, do Chic -, muita coisa mudou. Além de ter se tornado a influência mais forte na sonoridade de grupos pop como Limp Bizkit, Korn e Rage Against the Machine, o estilo ganha ramificações cada vez mais apropriadas para as diferentes fatias do mercado. "A percepção sobre o hip hop mudou muito", disse o fundador da The Source, David Mays, ao jornal nova-iorquino Daily News. "Antes as pessoas viam o rap como uma música cheia de violência que se aproveitava de trechos de outras e hoje elas sabem que isso não é verdade." É claro que o maior sinal disso é o investimento de anunciantes em publicações destinadas ao público do hip hop, que cada vez mais deixa de ser exclusivamente formado por negros. As principais marcas de roupas e cosméticos hoje gastam boa parte de seus orçamentos em revistas como Vibe, Rap Pages e The Source. "Anunciantes que não chegavam perto de nós há cinco anos hoje são clientes regulares", diz Mays. O hype é tanto que, no ano passado, Foxy Brown virou garota-propaganda de Calvin Klein e Queen Latifah tem hoje seu próprio talk-show no canal Fox. O que é polêmico, no entanto, é a qualidade da música feita hoje em dia. Enquanto boa parte da indústria considera que houve uma evolução muito grande desde os tempos em que Vanilla Ice conseguiu vender mais de 7 milhões de unidades do disco To The Extreme e MC Hamer se transformou na cara do hip hop com You Can´t Touch This, outra facção acha que as apropriações de hits dos anos 80 que são marca registrada da música de Puff Daddy são tão ruins quanto. "Uso samples conhecidos em minhas produções para atrair atenção de pessoas que normalmente não ouviam hip hop", disse "Puffy" em entrevista à Planet Pop, no lançamento de seu último disco, Forever. Críticas sobre a própria música sempre acompanharam o hip hop. De acordo com o livro The Vibe History of Hip Hop, lançado no ano passado pela editora Crown nos Estados Unidos, em 1979 o bairro nova-iorquino do Bronx era divido em quatro "turmas" principais. O DJ Breakout and the Funky Four dominavam as festas e os clubes da região superior do bairro, Gun Hill Road; Kool Herc era o chefão do lado Oeste; Afrika Bambaataa ficava com lado Leste e Grandmaster Flash com o Sul. Todos eles ficaram surpresos ao descobrir que os responsáveis pelo primeiro hit do hip hop no rádio foram três rappers que não faziam parte de uma dessas regiões. "Não acreditamos quando percebemos que uma música muito pior do que a nossa estava sendo servida para o público", disse Grandmaster Flash à revista norte-americana Time Out. Mas o sucesso de Rapper´s Delight serviu para movimentar ainda mais a cena, que ganhava força havia vários anos, graças às festas, apresentações e sessões de grafitagem comandadas por Bambaataa e sua Zulu Nation e Grandmaster Flash. The Vibe History of Hip Hop conta vários detalhes sobre os anos 70, quando surgiu o termo hip hop e os dançarinos de break ganharam o apelido de B-Boys, e também explica fenômenos como o Run D.M.C. e os Beastie Boys, passando pelo sucesso do Blondie com Rapture - o primeiro hip hop "de brancos". A história do hip hop também vai poder ser vista no museu dedicado ao gênero que vai ser construído na cidade natal de Puff Daddy e Heavy D. O projeto de US$ 300 mil vai ser instalado em uma sede desativada do corpo de bombeiros do município de Mount Vernon, poucos quilômetros acima do Bronx, reunindo discos objetos e documentos dos principais nomes do gênero. A instituição, que deve ser inaugurada no ano 2001, também vai servir como um centro de treinamento profissional para jovens carentes.

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