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Herbie Hancock, a grande atração do jazz do TIM Festival

O baixista Charlie Haden e o pianista Ahmad Jamal também estarão no evento

Por Agencia Estado
Atualização:

Os ingressos para o show estão esgotados, mas isso não é novidade quando Herbie Hancock toca. O tecladista é a grande atração jazzística do TIM Festival, que tem outros nomes lendários como o baixista Charlie Haden e o pianista Ahmad Jamal. Hancock atravessa a quinta década de sua vida profissional com certa nostalgia do passado - em 2005 ele reuniu os remanescentes do seu grupo Headhunters e fez alguns concertos nos EUA. Isso não significa que Hancock tenha desistido da invenção. Também no ano passado ele fez uma turnê pela Europa com um novo quarteto, destacando-se no conjunto o guitarrista Lionel Loueke, do Benin, com quem explorou a fusão entre jazz e música étnica africana. Hancock está mesmo em ritmo de revisão. Este ano, o pianista preferido de Miles Davis teve lançada uma caixa com dois discos que trazem suas melhores gravações na Warner, Blue Note, Columbia e Verve (The Essential Herbie Hancock, Sony BMG). O pacote serve para compensar a frieza com que foi recebido seu disco Possibilities no ano passado. Apesar do elenco "all star" de convidados (Sting, Paul Simon, John Mayer, Christina Aguilera), Possibilities não convenceu a crítica, que classificou o resultado de híbrido e pouco original. Hancock é assim. Vai da genialidade de um garoto de 11 anos, que estreou (em 1951) como solista mozartiano da Sinfônica de Chicago à normalidade de um pianista acompanhante de grandes astros pop. Claro que Hancock é bem melhor quando coloca seu talento de compositor e arranjador a serviço do jazz. É dele uma das grandes trilhas sonoras de filmes do gênero: a de Round Midnight (para Bertrand Tavernier, em 1987), que junta com propriedade standards e temas originais. Ahmad Jamal e o talento para reinventar clássicos A exemplo dele, o outro pianista de jazz convidado para o TIM Festival também começou a carreira cedo. Para ser mais exato, aos 3 anos, quando seu tio Lawrence desafiou-o a tocar no piano a peça que acabara de executar. Ahmad Jamal, ainda não convertido ao islamismo e chamado simplesmente de Frederik, sentou-se ao piano e nunca mais parou. Já tocou diversas vezes no Carnegie Hall, sendo a primeira delas há 55 anos, acompanhando a orquestra de Duke Ellington e a voz de Billie Holiday. Jamal já esteve no Brasil duas vezes. Seu talento para reinventar antigos clássicos é admirável, como prova em seu mais recente disco, After Fajr (Dreyfuss), em que, ao lado de Idris Muhamad (percussão) e James Cammack (baixo), toca My Heart Stood Still como se pensasse apenas com a mão esquerda, sempre a serviço de dramáticos ostinatos. O título do disco faz menção à fé muçulmana de Jamal. A canção principal é uma referência à oração da manhã em que o pianista/compositor expressa sua convicção religiosa. O politizado e eclético Charlie Haden Já o baixista Charlie Haden, que também foi garoto prodígio (estreou aos dois anos, cantando), não faz o gênero religioso. É - sempre foi - um músico politizado. Nos anos 1970, criou com a pianista e compositora Carla Bley um grupo (Liberation Music Orchestra) que interpretava peças engajadas (canções da Guerra Civil Espanhola, hinos a Che Guevara). Há dois anos, sentindo que o sentimento antiamericano crescia no mundo, reuniu-se novamente com Carla Bley e ressuscitou a liberada orquestra (da qual fez parte Gato Barbieri, antes de O Último Tango em Paris). Haden é um músico eclético, o que não se traduz em concessões comerciais. Ao contrário. Toca, sim, com guitarristas de ascendência pop (como Pat Metheny, com quem gravou há dez anos Beyond Missouri Sky, um belo disco) e participou de alguns dos melhores discos do pianista Keith Jarrett. O intimista Haden, que improvisou com Ornette Coleman, estabelece um diálogo harmônico com seus músicos do Quarteto West, que o acompanham no TIM Festival. Essencial.

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