Hanna Schygulla evoca em recital espírito de Brecht

Atriz mostra domingo em São Paulo o show Brecht... Aqui e Agora

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Por Agencia Estado
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Atriz de carisma infinito, Hanna Schygulla revela-se também uma cantora afinada com os problemas contemporâneos. "A globalização, que privilegia poucos, emperra o desenvolvimento das gerações e isso precisa ser contestado", comenta ela, musa dos grandes filmes de Rainer Werner Fassbinder, com um tom de voz delicado, mas firme. No domingo à noite, quando iniciar seu espetáculo Brecht... Aqui e Agora, no Cultura Artística, o timbre vai ganhar um tom mais forte e emotivo. A contestação encontra nas idéias do escritor alemão a principal aliada. "O modelo do comunismo saiu de moda e, no entanto, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais numerosos. E o espírito de Brecht demonstrou ser mais forte que todas as cortinas de ferro; assim, é disso que quero falar por meio das palavras dele e das minhas", comenta Hanna, no texto que escreveu para justificar a pergunta: "Por que Brecht?" O show iniciou carreira em março de 2000, na Cité de la Musique em Paris, e já percorreu diversos países, sempre apresentando um recital dedicado inteiramente a Bertolt Brecht e suas colaborações com Kurt Weil e Hanns Eisler. Não se trata, porém, de um espetáculo tradicional - essencialmente teatral e idealizado pela própria Schygulla, Brecht... Aqui e Agora entremeia canções com frases que divulgam o pensamento do escritor e da atriz. "O importante é a força da palavra, que surge poderosa tanto cantada como declamada." Com o acompanhamento no piano de Matthieu Gonet, o show é composto por 15 canções colhidas de espetáculos como A Ópera dos Três Vinténs (como Barbara Song, Die Moritat von Mackie Messer e Ballade von der Sexeuelle Hörigkeit) e Happy End (Surabaya Johnny e Bilbao Song), que permitem visualizar a personalidade de Brecht e seus questionamentos da realidade. Entre as canções, a atriz e cantora polonesa (quando nasceu, em 1943, a região da Silésia era considerada território alemão, mas hoje a cidade de Katowice é na Polônia) comenta sobre seu processo de criação, a primeira vez em que subiu no palco, o momento em que começou a pensar no espetáculo. "Minha grande alegria é que, depois de tantos anos interpretando as idéias de outras pessoas, eu agora posso desenvolver as minhas próprias." O cinema, aliás, continua em seus planos, mas sob uma rigorosa avaliação. Depois de participar de filmes marcantes de diretores diversos, como Ettore Scola, Wim Wenders e Marco Ferreri, entre outros, além das 20 produções dirigidas por Fassbinder, Hanna aguarda a chegada de um bom roteiro. "Espero por uma história ao mesmo tempo humana e de grande interesse", conta ela, que está há dois anos sem filmar. As comparações com outra musa do cinema, Marlene Dietrich, que também desenvolveu tardiamente uma carreira como cantora, não incomodam. Na verdade, ela prefere quando a semelhança aponta para a forte presença no palco. O que se torna real ao final do espetáculo, quando Hanna caminha lentamente pelo palco, cigarro entre os dedos, saindo do foco de luz, desejando um "boa noite" sensual e já deixando na memória de todos a doce lembrança de seus brilhantes olhos azuis. Brecht ... Aqui e Agora. Recital com Hanna Schygulla e Matthieu Gonet ao piano. Domingo, às 19 horas. De R$ 40,00 a R$ 130,00. Teatro Cultura Artística - Sala Esther Mesquita. Rua Nestor Pestana, 196, tel. 258-3616.

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