Guitarrista de Amália acompanha fado de Bibi

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Por Agencia Estado
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Cantar fado é fácil. Basta ter coração. Cantar fado é difícil. É preciso ter coração. Há quem cante coisas do fado - músicas que são fado -, mas não cante fado. Amália Rodrigues cantava fado. Bibi Ferreira canta fado. O coração - alma, sentimento, sensibilidade - as aproxima, mais do que qualquer outra qualidade. Quem pensa assim é Carlos Gonçalves. Ele foi, por quase 28 anos, responsável pela guitarra portuguesa que acompanhava Amália. Foi convidado por Bibi Ferreira para acompanhá-la no espetáculo Bibi Vive Amália. Carlos Gonçalves tem 62 anos - fará 63 no dia 23 de julho - e é profissional de música desde os 20. Viu Amália cantando numa casa de fados, acompanhada, como tradicionalmente, por uma guitarra portuguesa e um violão (em Portugal, diz-se viola). "Num momento, Amália resolveu fazer-se acompanhar por quatro músicos. E convidou a mim e a meu amigo Fontes Rocha. Fontes Rocha tinha problema na coluna. Deixou o grupo. Restamos três: guitarra, viola e violão baixo." Violão baixo é um instrumento pouco conhecido. Tem quatro cordas e som mais grave - mas não tão grave quanto o baixolão, usado no choro brasileiro para substituir o contrabaixo. As cordas da guitarra portuguesa, do violão de seis cordas e do violão baixo, usadas em Portugal, são de fabricação brasileira. São cordas de aço, pois as de aço têm o som característico do fado, como ensina o músico. A guitarra portuguesa usada para acompanhar o fado é tocada com o dedo indicador e o polegar. E com unhas de plástico, aplicadas sobre as unhas naturais, encaixadas no sabugo e fixadas com esparadrapo. Não se trata de uma tradição, mas de uma necessidade. Carlos Gonçalves conta que até o início do século passado, o fado era tocado em casas pequenas. Tornou-se música de grande público há pouco mais de 70 anos. As cordas precisavam ser feridas com mais força, para soar mais alto. A unha natural gastava-se. Daí o uso da artificial. Ele diz que Bibi, hoje, é parecida, fisicamente, com a Amália dos últimos tempos. A interpretação é perfeita. A voz traz à tona o coração. O canto é belíssimo. Mas não a compara com Amália: "Ela era única, incomparável." Carlos Gonçalves reconhece a existência de outras boas fadistas, mais jovens, em Portugal. Vai, mesmo, gravar com Mísia. Mas não a compara, ou a Dulce Pontes, com Amália, de quem era parceiro. "Há poucas cantoras perfeitas no mundo. Amália era uma." Bibi Vive Amália - Roteiro, texto e direção Tiago da Silva. Narração Nilson Raman. Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 50,00. Espaço Cultural Santo Agostinho. Rua Apeninos, 118, tel. 279-4858. Até domingo

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