Guinga estréia como letrista e até canta em Casa de Vila

Depois de sete discos instrumentais, compositor decide-se pelo vocal em novo trabalho que mostrará ao público no Sesc Pompéia, nos dias 24 e 25

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Por Agencia Estado
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Guinga resolveu cantar. Depois de sete discos instrumentais (com uma ou outra faixa cantada por convidados), ele decidiu ser seu próprio intérprete, em Casa de Vila, seu novo CD. "Nunca pretendi ser cantor, mas compositores quando cantam suas próprias músicas, passam mais emoção. Chico Buarque e Tom Jobim são o melhor exemplo", explica o compositor, já gravado por grandes canários brasileiros, como Elis Regina e Leila Pinheiro. Quase todas as músicas são do ano passado, com exceção de Porto de Araújo, dele e Paulo César Pinheiro, que tem duas décadas, mas andava esquecida. Com Aldir Blanc (que assina Tudo Fora de Lugar), Pinheiro é o letrista mais constante de Guinga que, embora preze muito essas parcerias, se abriu a novas. "Tem muita gente boa fazendo música. Como gosto de ver o que os jovens produzem, conheci algumas dessas pessoas", avisa. "Para compor não tenho preferência, tanto entrego a melodia para o letrista quanto pego o que ele escreve e crio a música em cima. O importante é que nos emocione." Entre os poetas, está Edu Kneip, violonista e compositor como Guinga, ainda não descoberto pelo grande público, que assina Mar de Maracanã; Mauro Aguiar, parceiro de discos e noitadas de Edu, que fez Contenta, e Thiago Amud, outro talento que anda (ainda) pelos circuitos alternativos. A cantora Simone Guimarães "letrou" o choro Capital, enquanto o próprio Guinga se encarregou de Maviosa, sua estréia como letrista. "Nunca pensei que fosse capaz, mas um dia, voltando de uma pelada perto de Xerém (distrito de Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio), as palavras vieram de uma só vez", conta. "Não sei se vou fazer outra letra, mas gostei desta e resolvi gravar." Embora com voz pequena e timbre estranho, Guinga provoca Até porque não facilitou em nada seu desempenho. Suas melodias continuam intrincadas, "com dribles desconcertantes... que fazem pensar em Garrincha", elogia Francis Hime. "Guinga parece que vai para um lado, depois aponta para outros, e depois para outro e mais e mais!", entusiasma-se o maestro e compositor no texto distribuído pela gravadora Biscoito Fino. Guinga também chamou instrumentistas como Carlos Malta, Lula Galvão, Paulo Aragão e Marcus Tardelli (também seu produtor nesse disco) para criar arranjos que exploram, quase o tempo todo, o diálogo do violão (o dele sozinho ou junto com o de Lula Galvão) com metais. E prescinde mesmo de seu instrumento em "Jongo de Compadre", choro instrumental dele e Simone Guimarães, em que o arranjo de Paulo Sérgio Santos explora sustos e sutilezas da melodia. Já a última faixa, "Comendador Albuquerque", tem só seu violão. Essa mistura de violões e sopros não é novidade. Guinga tem tocado com o trompetista Jessé Sadock, com Paulo Sérgio Santos e Lula Galvão até nos Estados Unidos, com a Filarmônica de Los Angeles. "Não gosto de contar, porque parece cabotinismo, mas foi um sucesso", conta modesto. "Esse grupo vai me acompanhar no lançamento do CD no Sesc Pompéia, nos dias 24 e 25 de março e, depois, no Teatro Rival, no Rio (com Toninho Horta), na semana seguinte." Até outubro, sua agenda está dividida entre shows pelo Brasil e na Europa, quase sem folga. Com isso, tem sobrado pouco tempo para compor. "Sinto a maior falta. Não me considero cantor sequer instrumentista, acho que vim ao mundo para compor, mas preciso de concentração" comenta. "Nos últimos seis meses não parei e não fazer música me incomoda. O jeito será aprender a compor mesmo quando estiver nos quartos de hotel porque não vou parar este ano."

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