Guerra contra pirataria na música vive nova fase

A revelação chocante da semana é a de que 600 lojas de discos fecharam no primeiro semestre de 2003

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Por Agencia Estado
Atualização:

A guerra da indústria fonográfica contra a pirataria esquenta a cada semana nos Estados Unidos. Com a divulgação de números cada vez mais alarmantes (a revelação chocante da semana é a de que 600 lojas de discos fecharam no primeiro semestre de 2003), o mercado tenta agir com mais força para controlar o que muitos já consideram impossível. Associada à crise econômica mundial, a distribuição ilegal de arquivos e a copiagem industrial de CDs tornam a indústria da música uma das mais vulneráveis do momento. Há poucos dias, a indústria foi surpreendida com a revelação de que o número de CDs piratas em todo o mundo chegou a 1 bilhão de unidades. Que as gravadoras estão perdendo dinheiro já se sabia há algum tempo (principalmente com a onda de demissões que já ocorreu em 2003), mas agora a crise chega aos lojistas americanos. Foram 1,3 mil funcionários demitidos entre janeiro e junho; a Tower Records, que está à beira da falência, foi colocada à venda, um cenário sensivelmente mais animador do que o da rede Wherehouse Entertainment, que declarou falência e fechou 190 lojas. Muitas delas foram obrigadas a oferecer outros produtos, como brinquedos ou tinta para cabelos. A reação da Record Industry Association of America, que representa as gravadoras, é tentar usar a Justiça ? agora com processos contra provedores de internet e seus usuários. Recentemente, a entidade anunciou que vai entrar com ações judiciais contra indivíduos suspeitos de fazerem grandes downloads de músicas. Já foram emitidos 871 mandados contra usuários americanos, que prevêem multas de até US$ 150 mil para cada música ilegal que tem sido baixada em um computador pessoal. "Quem não quiser ser processado deve desinstalar os programas de seus PCs", afirmou o presidente da RIIA, Cary Sherman. O quanto a entidade vai conseguir fazer com quem que a meta seja cumprida, é impossível de se prever. Entre ameaças de processos até contra crianças e o fato de que a lei só pode ser aplicada dentro dos Estados Unidos, há espaço para muita discussão. Obviamente, a idéia é promover a causa e acrescentar um estigma à pratica do file sharing, algo que não foi conseguido nem com as campanhas estreladas por Madonna e Britney Spears, em 2002. De qualquer maneira, os dois maiores serviços de troca de arquivos, Kazaa e Morpheus, acusaram uma queda de 15% no tráfego de usuários nos dias seguintes ao do anúncio. Para os representantes das empresas, a flutuação é normal nesta indústria e "nunca definitiva". Os membros mais realistas do mercado fonográfico finalmente admitem que o erro foi cometido há 20 anos, quando as indústrias de eletrônicos não incluíram sistemas de proteção de cópias nos primeiros CDs. O presidente da Federação Internacional da Indústria Fonográfica, Jay Berman, reclamou que as gravadoras nunca conseguiram conversar com a indústria dos eletrônicos ou de computadores. Em entrevista coletiva, há poucos dias, ele chegou a admitir que, se as gravadoras tivessem previsto que a pirataria iria chegar aos níveis de hoje, teriam feito um lobby mais forte para a inclusão de sistemas de proteção nos CDs. Nos últimos anos, várias gravadoras vêm tentando incluir códigos que evitem a cópia de CDs, mas o resultado são discos que travam computadores ou não funcionam em aparelhos antigos. Ainda que os programas fiquem mais sofisticados, sempre haverá a possibilidade da cópia com o uso de softwares de gravação de áudio, algo que adiciona apenas mais alguns minutos no processo da pirataria. Outro realista da indústria é Tim Bowen, o presidente da BMG inglesa. Para ele, "o gato saiu do saco quando os CDs entraram no mercado". "Depois disso, havia muito pouco que a indústria fonográfica poderia fazer para proteger seu produto", disse o executivo à BBC.

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