Grupo inglês corteja a música brasileira

Instituição da canção negra e do acid jazz, o Incognito lança aqui Who Needs Love?, cuja faixa-título é cantada pelo brasileiro Ed Motta

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Por Agencia Estado
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Uma das instituições da música negra inglesa, o grupo-projeto Incognito lança no Brasil o disco Who Needs Love? (Trama), que embute no seu miolo uma deslavada declaração de amor à música e à cultura brasileiras. Além da faixa-título ser cantada por ninguém menos que o funk soul brother brasileiro Ed Motta, o álbum dos britânicos tem outra faixa chamada Cada Dia (Day by Day), que contém os seguintes versos: "Sonho com a Bahia todo dia/Espero vê-la em breve/Um dia/Eu rezo." O autor dessa ponte cultural jamais veio ao Brasil, mas sabe muito mais de Brasil do que muito estudante universitário. Ele é o compositor e guitarrista Jean Paul ´Bluey´ Maunick, líder do combo Incognito, que nasceu nas Ilhas Maurício e chegou à Inglaterra quando tinha 10 anos, apaixonando-se pela música brasileira por vias indiretas. "No final dos anos 60, eu estava no México e enlouqueci com a seleção brasileira, com o futebol de Carlos Alberto e Rivellino. O Brasil então veio para mim como uma grande fantasia, como se fosse um filme que eu montasse em minha cabeça com elementos culturais, da música, cinema, futebol. Eu me delicio imaginando as cores, os sons, o sol penetrando em todos os lugares, e vejo o Brasil como o lugar de onde eu vim, como uma ilha cercada de praias", contou Bluey, falando por telefone ao Estado, de sua casa em Londres. "Minha origem, assim como a dos brasileiros, tem base na ancestralidade dos escravos africanos, na música fundamentada na batida dos tambores, nos violões e nos contadores de história", ele continua. "Tenho inúmeros fãs brasileiros aqui na Inglaterra, que freqüentam nossos shows e com os quais conversamos e bebemos, e eles nos mostram as coisas", ele diz. Fã de Tim Maia e do grupo Black Rio, ele ouviu dizer que o cantor tinha alguém na família que também cantava, e interessou-se pela música de Ed Motta. "Quando ouvi Ed Motta, reconheci nele minha própria influência na música dele. Vi que estávamos conectados. Há uma progressão natural entre Ed e eu. Quando mostrei a faixa para ele, ele acabou cantando de um jeito Ed Motta, imprimindo sua marca na canção." Ele acabou encontrando e tornando-se amigo tanto de Ed quanto o pessoal da Black Rio. O Incognito é apontado como um dos grupos fundamentais no desenvolvimento do chamado acid jazz, que gerou filhotes na Europa como St. Germain, Erik Truffaz e Nils Molvaer. "Atualmente, temos 16 músicos integrando a banda, um dos motivos pelo qual é difícil que venhamos a tocar no Brasil. Não somos endinheirados, vivemos pela música e da música", ele conta. Além de Ed Motta e da Black Rio, o Incognito já manteve colaborações com outros brasileiros, como Carlos ´Soul´ Slinger e o baixista Alex Malheiros, do grupo Azymuth.

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