PUBLICIDADE

Gravadora relança histórias infantis de Braguinha

Por Agencia Estado
Atualização:

Se Maria Cecília chorasse, a historinha não era boa. Se ficasse contente, o caminho estava certo, pois "o importante é que as crianças gostem e fiquem felizes". Filha única de Astréa e Carlos Alberto Ferreira Braga - Braguinha para os amigos, Carlinhos para a família e João de Barro para a música popular brasileira -, Maria Cecília, hoje com 62 anos, foi uma das crianças que cresceu ouvindo os versos e as melodias encantadoras de Chapeuzinho Vermelho, a primeira história da série Disquinho. Gravada em meados dos anos 40 pela Continental, ela chega às lojas de todo o País nesta semana pela primeira vez em formato de CD. Toda a coleção de clássicos infantis, idealizada por Braguinha, que adaptou a maior parte dos contos e teve como parceiro o maestro e compositor Radamés Gnatalli, responsável pela orquestração, está sendo reeditada em pleno século 21 pela Warner Music. Elza Fiuza e Candeias Jota Junior também foram autores de algumas adaptações da coleção. Braguinha, que hoje está com 94 anos, adaptou em torno de 25 histórias infantis. "No geral, eram historinhas universais. Mas eu também fiz algumas", conta ele, em entrevista do seu apartamento em Copacabana, onde mora há 25 anos. "Eu nunca soube fazer música, então, cantava os versinhos e a melodia para Radamés. Éramos muito amigos." A primeira parte da série traz Aventuras do Aracuã, de sua autoria. Porém, os títulos musicados por João de Barro mais conhecidos são: Chapeuzinho Vermelho, O Pequeno Polegar, Estória da Baratinha, A Cigarra e a Formiga, Gata Borralheira, A Formiguinha e a Neve e O Gato de Botas. Antes de Disquinho, Braguinha já havia trabalhado para o mercado infantil. A idéia da série foi amadurecida quando o compositor se incumbiu da dublagem brasileira de Branca de Neve e os Sete Anões, de Walt Disney, em 1938. Para o filme, João de Barro, que já respondia pelas funções de diretor-artístico da gravadora Columbia, mas ainda não tinha assumido o cargo, reuniu um grande elenco, que incluía Dalva de Oliveira e Carlos Galhardo. Não foi apenas a dublagem que ficou para a história. As suas letras feitas em português para a trilha sonora também conquistaram o público. O compositor fez outros trabalhos de dublagem para os desenhos do Walt Disney, como Pinóquio (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942). Na sua única biografia, Yes, Nós Temos Braguinha, escrita por Jairo Severiano, ele relata uma passagem divertida sobre a gravação de Bambi: "Quem gravava a voz de Bambi era Peri Ribeiro, filho de Herivelto Martins e de Dalva de Oliveira, então com uns 4 ou 5 anos. Como fazia um calor insuportável, o pobre menino começou a reclamar e aí o jeito foi deixar ele tirar a roupa e gravar nu." Sua mulher e parceira fiel, Astréa, hoje com 87 anos, conta que, logo após a experiência na dublagem de Branca de Neve, Braguinha pensou: "Acho que vai ficar bonito fazer isso também em um disquinho." Ele o fez com grande prazer. "Esses disquinhos infantis são uma das coisas de que mais gosto em toda minha carreira." A filha, Maria Cecília, é a melhor testemunha desse período. "Vivi num mundo de sonhos criado pelo papai. Era ouvi-lo batucando na mesa e assobiando, já sabíamos que ele estava compondo (Braguinha é autor de mais de 400 canções)", recorda ela. "Ele não deixou a vovó de Chapeuzinho Vermelho sofrer na barriga do lobo, como propõe a idéia original. E logo ela foi salva, para a minha felicidade e a dos meus amigos, que ficavam em casa ouvindo as histórias na vitrolinha." Chapeuzinho Vermelho é o mais solicitado da série. Segundo o diretor de Marketing Estratégico da gravadora, Marcelo Maia, há uma expectativa de vendagem de 500 mil CDs do primeiro lote da coleção, composto por 25 histórias. A série, em 1976, atingiu a cifra de 5 milhões de discos editados. Agora, cada um dos CDs relançados vai custar cerca de R$ 9,00. Braguinha emocionou-se ao ver a coleção reeditada. Já estava complicado fazê-lo concentrar-se na entrevista, pois ele está há cerca de três anos com uma grave deficiência auditiva que o entristece bastante. Mas quando manuseou a coleção, mergulhou no mundo de histórias. Só Astréa o traz de volta. É um amor indescritível. "Ele é repentista", diz ela. "Sou mais letrista", rebate ele. "Aqui em casa, tudo sempre foi verso, espontaneamente", completa ela. "Mas os seus versos, profissionais, nunca foram para mim. Braga, você fez algum para mim?", pergunta ela. "Quem sabe. Eu não fazia as músicas para ninguém, então, talvez você fosse dona de muitas delas", responde ele. "Você é minha querida."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.