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Globo abandona vencedor do festival de música

Por Agencia Estado
Atualização:

Ricardo Soares anda pelas ruas sem ser incomodado. Vive tranqülo só com a mulher e o filhinho de seis anos, curte navegar pela Internet e faz música quando elas lhe vêm à cabeça. Sempre que pode, ouve rock dos anos 50 e 60 e passeia pela cidade com a família a bordo de seu Kadett 96. Tudo bem. Mas quem é Ricardo Soares? Nem seis meses se passaram desde que o pomposo Festival da Música Brasileira da Rede Globo terminou e seu vencedor já é um anônimo. Ricardo Soares, que levou o prêmio máximo e uma estrondosa vaia com sua canção Tudo Bem Meu Bem, luta agora para gravar um humilde CD independente com humildes quatro músicas -- até o momento, sua obra completa. Esquecido pela própria emissora que o "revelou", não faz shows, não tem gravadora, nem produtor, nem empresário e nem músicas suficientes para lançar um disco normal. Soares diz que não foi informado oficialmente de que o vencedor do festival, além de engordar a conta bancária com R$ 400 mil, teria direito a gravar um CD pela Som Livre. "Li isso na imprensa." Foi aí que decidiu erguer as mangas. Chamou o amigo tecladista Johnny Boy e começou a trabalhar em um estúdio caseiro. Seu sonho agora é lançar um álbum para fazer jus ao polêmico título de "melhor compositor do Brasil", conferido a ele pela Globo e por um vistoso corpo de jurados. "Minha intenção é fazer um disco com quatro músicas para levá-lo às gravadoras. Quero encontrar meu público e mostrar minha cara." Assim que terminou o festival, o músico sentiu que seria abandonado. Como se a própria Rede Globo quisesse enterrar o monstro que havia descoberto, não convidou Soares para participar de nenhum de seus programas. A Som Livre também não se interessou em gravá-lo. "Tento entender até agora. Logo que terminou, fui me afastando da Globo e da Som Livre. E eles esqueceram de todo meu trabalho. Na minha opinião, acho que ninguém entendeu esse festival. Nem a imprensa, nem o público e nem a própria Globo", lamenta. Ricardo Soares chora de bolsos cheios. Se não se tornou um Chico Buarque ou um Gilberto Gil, acordou um dia com R$ 400 mil a mais na conta. De pronto, largou a carreira de programador de computadores e investiu o dinheiro no mercado financeiro. Apesar de ainda morar na mesma casa, na Vila Mariana, e guiar o mesmo Kadett 96, está economicamente tranqüilo. "Quero investir tudo isso em música agora." O Ricardo Soares que apareceu no festival não é, segundo o próprio, o verdadeiro Ricardo Soares. Ele diz que a Globo o maquiou muito e o transformou em um "artista Frankstein". "Usei roupas que a Globo escolheu para eu usar e a música que cantei ficou mais com a cara do Carlini (Luiz Carlini, roqueiro e produtor da música)." Gaúcho de Sapucaia do Sul, de família pobre, Soares chegou a São Paulo em 1991 para trabalhar com computadores. Com um breve currículo na área musical, não se lembra da última vez que subiu num palco. Ou melhor, lembra sim. Foi na final do Festival da Globo, em setembro do ano passado, no Credicard Hall. No momento em que recebia o prêmio das mãos do constrangido apresentador Serginho Groisman, ouviu sete mil vozes o vaiarem em uníssono. Como se sentiu? "Fui vaiado porque toquei rock and roll para um público de MPB. Me senti um herói."

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