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Gilberto Gil em início de carreira

Sai em Salvador uma coletânea que resgata pérolas produzidas pela JS Discos, a primeira da Bahia, que registrou a estréia de Gilberto Gil

Por Agencia Estado
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Em 1963, um jovem sanfoneiro bossa-novista de 21 anos foi contratado pelo Estúdio JS, de Salvador, para compor alguns jingles comerciais. Ele vinha de ônibus desde o bairro Santo Antônio do Além do Carmo, onde vivia. Você pensava que fosse impossível/ Mas afinal, seu calçado chegou/ É mais durável, pois é flexível/ É bossa nova que a Calba criou. O sanfoneiro tinha estilo, como vêem. Cerca de 30 anos depois, aquele músico baiano, que ganhava "50 não sei o que" por cada jingle composto, ganharia o Grammy, o mais prestigioso prêmio da indústria musical americana. Gilberto Gil trocou a sanfona pelo violão, e o resto todo mundo sabe. Mas a história inicial da carreira de Gilberto Passos Gil Moreira vem à tona agora com a apresentação do catálogo do selo JS Discos, que lançou o primeiro compacto de Gil em 1963, Gilberto Gil - Sua Música, Sua Interpretação. Ele conta em entrevista à Agência Estado que lembra das músicas, mas não sabe as letras. Três das quatro canções do compacto, jamais regravadas pelo cantor baiano, estão de volta às lojas de Salvador em uma coletânea (de outros lugares do País, só é possível adquirir pelo correio). Tem também gravações raras de Batatinha, Maria Creuza, Carlos Lacerda, Mestre Bimba, Trio Xangô, entre outros. "Eu gravava porque gostava daquilo, não era um bom negócio naquela época", disse à reportagem, por telefone, desde Salvador, o produtor Jorge Santos, de 74 anos, o dono da primeira primeira gravadora da Bahia, que funcionou entre as décadas de 60 e 80. O compacto de estréia de Gil foi prensado em cera de carnaúba ("Um tijolão: se caísse no chão, quebrava", lembra Jorge Santos), em 78 RPM. Além dos primórdios da carreira de Gil o catálogo redivivo da JS Discos tem preciosidades da música baiana, como o pianista erudito Fernando Lopes, a dupla Antonio Carlos e Jocafi e a "música de inspiração mediúnica" de Hermano Silva. Resgate - Lançada há cerca de um mês no Solar do Unhão, na Bahia, a coletânea da JS Discos pretende ser a ponta do iceberg de um projeto de resgate musical. A gravadora de Jorge Santos funcionava num espaço de 20 metros quadrados, como lembra José Jorge Randam, de 69 anos, sócio de Santos na empreitada (e autor do texto na contracapa do primeiro disco de Gil). "Não tínhamos gravador de fita, era tudo direto no acetato", lembra o publicitário Randam. "Não tinha tecnologia, mas tinha imaginação", diz ele. Segundo ele, boa parte do acervo reconstituído foi obtida por meio de colecionadores, já que muito daquilo tinha se perdido. Com o auxílio do pesquisador Roberto Torres, conseguiu resgatar 27 discos. José Jorge Randam disse que jamais poderia imaginar, naquela época, que aquele cantor de "vozinha pequena" pudesse chegar a conquistar o mundo com sua música. "Acreditava nele como compositor, mas não tinha idéia de que pudesse ir tão longe", lembra. Além de Gil, ele lembra de outras feras do catálogo da JS Discos, como Batatinha ("Era gráfico no Diário de Notícias") e Riachão ("Fez uma música em minha homenagem", orgulha-se). Já Jorge Santos lembra com carinho de Carlos Lacerda, "o governador dos teclados", e de Alcivando Cruz, "um dos maiores violonistas que eu conheci". O CD que inaugura o Projeto Resgate da gravadora JS Discos poderá ser distribuído pela Som Livre em breve - há negociações nesse sentido. Por enquanto, só é possível encomendá-lo pelo correio (Rua Metódio Coelho, 91, Edifício Prado Empresarial, sala 403, tel. 71 358-2398).

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