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Gil reverencia Bob Marley em CD e DVD

Compositor usou estúdio jamaicano em que o rei do reggae gravava e chamou seus grandes colaboradores para acompanhá-lo

Por Agencia Estado
Atualização:

Gilberto Gil reuniu amigos, imprensa e um séquito de personalidades, na segunda-feira à noite, no Espaço Unibanco, para lançar seu novo disco, Kaya n´Gan Daya (Warner Music) e um DVD, Kaya n´Jamaica, da Conspiração Filmes, dirigido por Lula Buarque de Hollanda. O DVD foi filmado nas gravações do disco, no estúdio Tuff Gong (em Kingston, na Jamaica), e numa avant première do show em dezembro de 2001, no Directv Music Hall, em São Paulo. Ou seja: o show que se vê no DVD foi feito cinco meses antes da estréia do show "oficial", que Gil mostra na semana que vem no Rio de Janeiro. O DVD explica em parte o CD, e um se torna quase parte essencial do outro, num processo que sofistica a relação entre música e imagem na nova tecnologia - quase um "tempo real". "Aqui tem 16 canções, mas podia ter 50, 60, 80", disse Gilberto Gil, sobre seu novo disco. "Podia ter outras 16 canções e ainda assim não iria dar conta", ponderou. Mas o baiano tinha, obviamente, suas preferidas. Entre elas, no topo das preferências, contou, estava Rebel Music, de Aston "Familyman" Barrett e Hugh Peart. "Eu não faria um disco com canções de Marley se não pudesse gravar Rebel Music", revelou. E brincou com a letra. "Não podemos sair por esse País aberto?" Homenagens - Ele contou também que foi coincidência ter gravado em seqüência discos em homenagem a suas maiores influências, Luiz Gonzaga (As Canções de Eu Tu Eles) e Marley (Kaya n´Gan Daya), o Rei do Baião e o Rei do Reggae. Pelo documentário, ficamos sabendo que o estúdio Tuff Gong não é mais o original em que Marley gravava (hoje, virou museu), e que Errol Brown, o engenheiro de som privé de Marley, também não acha que seja o som do baixo nem a parafernália de estúdio que faça a mágica do reggae - ele tem uma explicação muito mais racional. Ainda assim, ir ao Tuff Gong e reunir os grandes colaboradores de Marley - é particularmente forte a sessão que reúne o baterista Sly Dunbar e o baixista Robbie Shakespeare, a mais perfeita cozinha do reggae - é um esforço elucidativo do método e da história de Marley. Como diz Rita Marley, a viúva oficial, Bob Marley não era exatamente um intuitivo. Escrevia música o tempo todo, e chegava a compor depois de um show, em hotéis, na cama, em estúdios. Era um workaholic do reggae. E um amante abusado: o primeiro lugar no qual ele e Rita transaram foi na cozinha da casa dele. Ela vivia na Cidade Alta, e era proibido ir à Cidade Baixa, onde Marley vivia. "Mas eu sempre dava um jeito." Ficamos sabendo também que a palavra "samba", que Marley usa na letra de Lick Samba, não tem nada a ver com o ritmo brasileiro. Samba, explica Rita Marley, é o nome que se dá a uma espécie de linguajar caipira dos jamaicanos, que parece cantado, daí a associação musical. Gil consegue uma proeza rara, reunindo muitos remanescentes da corte do Imperador do Reggae, Bob Marley. Sly Dunbar e Robbie Shakespeare estão em Could You Be Loved, que tem ainda a guitarra de Samuel Rosa, do Skank, outro amante do gênero. Mas é na participação dos back vocais de Marley, as Three Little Birds, que reside o grande charme do disco. Elas contam que Marley compôs a música Three Little Birds especialmente para elas. "Agora, nós somos suas passarinhas", diz Marcia Griffiths, entregando a chave do mistério a Gil. Gilberto Gil explicou, pouco antes de mostrar o seu DVD aos convidados, que ele quis fazer um disco que tivesse exatamente o mesmo som de Marley que ele ouviu no rádio, e que o encantou desde adolescente. "É a música do jeito que ela está aqui dentro", disse, apontando para o peito. No texto que escreveu para o encarte do disco, Gil diz que encontrou "uma espécie de similitude entre o Cangaceiro e o Rastaman", duas figuras simbólicas que exercem grande fascínio sobre ele. Eis sua descrição: "O Cangaceiro: Estrelas de David ornando seu chapéu exótico, mal encobrindo cabelos longos e crespos, sua roupa de campanha, cartucheiras em cruz sobre o peito, os pés calçando pregatas de rabicho, as mãos armadas com fuzil para a luta pela liberdade e a justiça." "O Rastaman: as mesmas Estrelas de David, o Leão de Judá, sua juba em dreadlocks descobrindo, enfatizando cabelos também longos e crespos, sua roupa de campanha, a comida vegetariana, a maconha e nos lábios, numa língua cheia de novos signos, um discurso, arma para a luta também pela liberdade e a justiça." O elemento mais associado ao rastaman, a polêmica marijuana, quase não deu as caras na excursão neo-rastafári de Gilberto Gil à Jamaica: pelo menos não nas imagens do DVD. Apenas o baixista Arthur Maia, irreverente, brinca com a mitologia da maconha em dois momentos. Arthurzinho é legalize total.

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