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Gil celebra o reggae no palco

Ritmo jamaicano, com destaque para versões das músicas de Bob Marley, orienta o repertório do show Kaya n´Gan Daya, que estréia no feriadão

Por Agencia Estado
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O pintor Antonio Dias foi ver. Herbert Vianna ficou entusiasmado ao ouvir Alagados, no bis, e prometeu vir a São Paulo para ver de novo. Zeca Pagodinho subiu ao palco e tocou agogô. Caetano Veloso foi com a família toda. E também Lulu Santos, Branco Mello, Wagner Tiso, Jaques Morelembaum, Milton Nascimento. Kaya n´Gan Daya, o novo show de Gilberto Gil, convenceu os cariocas em temporada no Canecão e nesta quinta-feira desembarca em São Paulo, no Directv Music Hall. O show ilustra o fascínio de um músico popular daqui - Gil - por uma música popular de lá - o reggae, da Jamaica. Gilberto Gil canta 21 canções durante o espetáculo, começando com Time Will Tell, de Marley, e fechando com Esperando na Janela, baião gonzaguiano, as duas influências terminais do baiano. Mas é só um istmo teórico a presença dos dois gêneros. O reggae predomina, com 14 canções de repertório de Marley. Na carreira toda, Gil gravou diversas versões regueiras, como Vamos Fugir, No Woman No Cry, Barracos, A Novidade e outras. Canta todas elas. E ainda mostra uma possibilidade rastafariana para o standard Garota de Ipanema, de Tom Jobim. Gilberto Gil ouviu reggae pela primeira vez em Londres, durante o exílio, no fim dos anos 60. Foi em um restaurante jamaicano, em Portobello Road, chamado Mangrove. "A gente ia lá porque eles faziam banana frita e a gente achava engraçado ter banana frita em Londres", conta. Naquela altura da vida, a banana frita fez mais efeito do que o som que se ouvia por lá, o tal do reggae. Foi somente em 1973, na praia do Calhau, em São Luís do Maranhão, que ele atentou para o novo fenômeno musical. "Ouvi No Woman No Cry numa barraca de praia e perguntei ao dono o que era aquilo", lembra. "Ele me disse que era Jimmy Cliff, um músico que eu conhecera em Londres." Sete anos depois, Gil e Cliff disseminariam o reggae pelo Brasil, com shows, discos, versões e um approach comportamental - dreadlocks nos cabelos, cigarro artesanal na boca, um discurso esotérico e certa pose messiânica. Gil, que de messiânico não tem nada, ainda assim virou um arauto do gênero, e nunca parou de acreditar nele e nos seus profetas - o principal, o cantor Bob Marley, que ele considera "o primeiro grande artista pop da periferia". Agora, com um show, um disco e um DVD, Gil homenageia essa pedra de toque da música. Sua relação com o reggae tem uma historicidade circular. Em 1984, quando foi à Jamaica gravar Vamos Fugir no estúdio de Bob Marley, o Tuff Gong, Gil procurou Aston ´Familyman´ Barrett, parceiro do jamaicano. Foi à casa dele e disseram que ele estava "lá". Gil perguntou: "Lá onde?". Responderam: "Na prensa de discos." Era uma casa nos fundos e, ao chegar lá, Familyman estava abaixado e Gil perguntou de novo: "O que faz aí?" Familyman respondeu: "Um disco de dub." Gil presenciava ali mais uma transmutação do reggae, que depois daria em outros filhotes, como o raggamuffin´. Ele vê também conexões com o blues e com o charleston e os ritmos sulistas americanos. A obsessão de Gil pelo reggae é muito maior do que a que ele demonstra por outros ritmos negros de gueto, como o hip hop, por exemplo. Ele só gravou dois raps na carreira: Haiti (com Caetano Veloso) e Rep (uma brincadeira entre o rap e o repente, no disco O Sol de Oslo, gravado na Noruega). E tem a natureza, digamos assim, "canabinólica" do reggae. Bob Marley fez sua profissão de fé na "marofa" em uma canção clássica, Easy Skankin (que está no disco de Gil, mas não no show). Na Jamaica, Kaya é o nome que se dá à maconha, um termo yamaka (habitantes originais da ilha). "Kaya queria dizer erva curativa", conta Gil, repetindo versão que ouviu de Rita Marley, a viúva do cantor jamaicano. "Depois é que os rastamen assumiram o termo." Gilberto Gil também foi grande adepto dessa faceta do gênero. Fumou, tragou, gostou e nunca negou. Chegou a ser preso e enfrenta problemas até hoje para entrar nos Estados Unidos por causa da erva. Mas agora Gil parou com o fumacê. "Tenho 60 anos, não posso brincar com meu coração", diz. "Para mim, a maconha é anfetamina pura, me deixa extremamente excitado, e não tem nada de calmante", ele explica. "Só é calmante depois de 4 a 5 horas e eu não agüento mais, não." Em junho, Gilberto Gil comemora com a família seus 60 anos, em uma festa íntima. Será uma pausa na turnê de Kaya N´Gan Daya, que vai a Milão, Manchester, Londres e até Beirute, no conturbado Líbano. Serviço - Gilberto Gil. Quinta-feira, às 21h30; sexta e sábado, às 22 horas, e domingo, às 20 horas. De R$ 20,00 a R$ 70,00(estudantes); R$ 25,00 a R$ 80,00 (ingressos antecipados); e R$ 40,00 a R$ 140,00 (preço normal). Directv Music Hall. Av. dos Jamaris, 213, tel. 5643-2500. Até 9/6. Patrocínio: Volkswagen Bora

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