PUBLICIDADE

Gal investe em repertório eclético

Gal Bossa Tropical, seu novo disco, é um caldeirão musical, com espaço para Beatles, Caetano, Rita Lee, Erasmo, Sérgio Britto e uma versão de Marcianita

Por Agencia Estado
Atualização:

Até hoje, a cantora Gal Costa se lembra dos tempos em que era uma garota na Bahia e respondia pelo nome de Maria da Graça (Gracinha, para os familiares). Quando colocava uma panela na cabeça e ouvia, fascinada, sua ressonância. Na época, ela escutava as músicas interpretadas por João Gilberto no rádio e ia para baixo da panela imitar a postura vocal do cantor. "Eu estudava a respiração do diafragma; ouvia a gravação do João e percebia como ele sustentava uma frase poética respirando de uma maneira sutil." Mas não era só a voz suave de João Gilberto o alvo de suas atenções. Crescendo com um rádio ao pé do ouvido, Gal apreciava de tudo, de Ângela Maria a Luiz Gonzaga, passando por Jackson do Pandeiro, Orlando Silva e tantos outros. Esse amplo universo musical acabou, de alguma forma, influenciando a carreira de cantora. O repertório eclético - salvo alguns projetos muitos específicos, como o CD Gal Canta Tom Jobim - é predominante em grande parte de sua discografia. E com seu mais recente CD, Gal Bossa Tropical, lançado pela Abril Music e MZA Music, não é diferente. No novo álbum, Gal Costa faz um passeio por diferentes referências musicais, usando como unidade para todas elas os arranjos tipicamente brasileiros. Ela canta, por exemplo, The Fool on the Hill, de John Lennon e Paul McCartney. "Sou louca pelos Beatles e achava o Paul McCartney um cantor maravilhoso. Acho ele ainda muito bom cantor, mas naquela época tinha uma pureza." Outra faixa em inglês do repertório é As Time Goes By, de Herman Hupfeld, eternizado pelo filme Casablanca, que Gal já havia interpretado, com sucesso, nos shows de divulgação do disco O Sorriso do Gato de Alice. Com Ovelha Negra, de Rita Lee, encontrou identificação. "Acho que essa música é a minha cara." E para dar maior autenticidade à letra na sua interpretação, Gal pediu a Rita permissão para mudar uma palavra. No trecho da música "Foi quando meu pai me disse: filha, você é a ovelha negra da família", a cantora baiana substituiu "pai" por "mãe". Isso porque Gal Costa não conheceu seu pai. "Quando nasci, meus pais estavam separados, ele já tinha outra família, inclusive filhos mais velhos que eu", diz. Ela conta que os pais foram casados por cerca de 8 anos e durante todo esse período tentaram ter um filho. Os dois brigaram e, no dia em que se encontraram para acertar a separação, ele a seduziu. "Minha mãe ficou grávida, mas eles não retomaram a relação. Então, ela se tornou meu ponto de referência, foi meu pai e minha mãe." Nesse caldeirão musical que é Gal Bossa Tropical, há outras garimpagens, como Mulher (Sexo Frágil), de Narinha e Erasmo Carlos; Epitáfio, de Sérgio Britto (e recente sucesso dos Titãs); a mexicana Marcianita, de José Imperatore Marcone e Galvarino Villota Alderete, com versão em português de Fernando Cesar; entre outras. Não faltaram homenagens a Caetano, em Desde Que o Samba É Samba, e a Vinícius de Moraes e Tom Jobim, em O Amor em Paz. Gal incluiu no repertório uma música inédita, Onde Deus Possa Me Ouvir, do compositor desconhecido Vander Lee. Desde os tempos de gravadora BMG, ela tem o projeto de gravar um CD só com músicas de compositores desconhecidos. E pretende colocá-lo em prática na nova gravadora. "Minha relação com a Abril Music está sendo maravilhosa. Sinto uma coisa que eu não sentia com a BMG, que é uma empolgação, uma vontade de colocar um disco na rua", afirma. "Mas o que me deixou feliz é que meu CD pela Abril custa R$ 18,00 nas lojas, enquanto meus discos pela BMG custavam R$ 29,00. Caríssimos." O show de lançamento do novo trabalho deve ter início em janeiro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.