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Funk carioca continua invadindo São Paulo

Bonde do Tigrão é o hit preferido nas lojas e banquinhas de camelôs do centro da cidade. Rapeiros paulistanos reclamam e dizem que o rap tem letras mais críticas, enquanto o funk limita-se a fazer a exaltação do sexo

Por Agencia Estado
Atualização:

O Centrão anda com um ritmo diferente. Das banquinhas de camelôs e das lojas, ouve-se bem alto: ?Tá tudo dominado?, refrão de um daqueles funks cariocas que, se ainda não são febre entre os paulistas, vendem aos montes. E os ambulantes estão eufóricos com isso. A banquinha Carlos Roberto Santos, na frente da Praça da República, era uma das poucas que não tinha o funk no primeiro lugar de suas vendas. A liderança é do CD Hymns of Norshipand Praise, uma coletânea de música para ambientes. ?É que sou especializado em música evangélica?, explicou. Mesmo assim, os lugares seguintes eram do Bonde do Tigrão (ou Tá Tudo Dominado) e Furacão 2000, tudo funk carioca. Os rapeiros paulistas nutrem certo desprezo pelos funkeiros cariocas. Mas, no seu principal reduto, o piso térreo da Galeria do Rock (Rua 24 de Maio, 62), funk carioca é o que mais vende. ?Ninguém do pessoal que freqüenta aqui gosta. É que aparece na Xuxa e aí vem gente comprar. A mídia impõe e vende?, diz Preto D, vendedor da loja Bronx, uma das especializada em rap ? mas que também ganha com a moda carioca. ?Rap é diferente? - Preto D conta que até pouco tempo atrás os CDs mais vendidos eram dos grupos Verbo Terrorista, Apocalipse 16 e Cartel Central, todos grupos que pregam a religião como maneira de sair do crime. ?O rap é completamente diferente desse funk. As letras do rap são conscientes. O funk fica nessa de dança da cadeira?, diz o vendedor, referindo-se a uma coreografia praticada nos bailes funks do Rio, que alude a práticas sexuais. ?O funk é moda. Vai durar uns dois meses?, profetiza. Hoje, o rap paulista e o funk carioca são ritmos distintos: o primeiro tem uma batida lenta, é cheio de samplers (uso de gravações de outros artistas) e letras repletas de mensagens e críticas. O funk, com batida mais rápida, sem melodia e com forte conteúdo sexual em suas letras. Mas os dois nasceram juntos, no meio da década de 80, como imitações do rap americano. ?Aqui e no Rio se ouvia a mesma coisa?, diz Caverna, ex-DJ e colaborador de várias revistas sobre rap. ?Na época, o único recurso era a bateria eletrônica. O rap daqui foi evoluindo, tanto nas letras quantos nos samplers. Lá, o funk ficou parado no tempo. Por isso, em todo funk, só se ouve tu-tu-tu-tu...?, diz imitando a batida rápida do funk carioca. Caverna também lembra que esse som conhecido como funk carioca nada tem a ver com o funk, ritmo marcado pelo balanço. ?Quem fazia funk era o James Brown, Jimmy Bo House, Bass Contruction, Tim Maia, King Combo. Esses sons a gente usa em sampler.

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