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Free Jazz termina como festa da e-musica

A 16ª edição do festival foi encerrada na madrugada desta segunda-feira em São Paulo. No Rio, 45 mil pessoas passaram pelo MAM nos três dias do evento

Por Agencia Estado
Atualização:

O Free Jazz Festival encerrou na madrugada de segunda-feira a sua 16ª edição, a maior até hoje, recheada de música eletrônica. Os números ainda não foram contabilizados mas, levando-se em conta o público carioca, 45 mil, é de se esperar que o saldo do festival seja excepcional. Misturando os maiores nomes da e-música com nomes tradicionais do jazz (incluindo algumas brigas sonoras entre os palcos), o festival apostou na vanguarda das picapes como a renovação do jazz e, para salientar a orientação, deixou veteranos sexagenários num palco restrito e mais elitizado. A noite de domingo começou com o som forte dos tambores de Pernambuco, com o Cordel do Fogo Encantado, e terminou com a Big Beat Boutique inglesa de Normam Cook, o DJ Fat Boy Slim, no palco Cream, que arrastou a festa até de manhã. Começou sua apresentação às 4h30 já da segunda-feira e, a exemplo do que fez com a platéia carioca, levantou o público com exímia perícia e propósito no comando das picapes. O grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado abriu a noite às 19h anunciando uma programação recheada de ritmos e percussão com influência afro. O quinteto abusou de zabumba, pandeiro e atabaque mostrando um forte som regional. A tradição é base do trabalho do Cordel, banda do interior de Pernambuco, na evolução do mangue beat. Se comparada à temporada que fizeram em São Paulo meses atrás, o quinteto revelou-se mais eletrônico, rock and roll e universal. Tocaram para um público cativo, que os acompanha desde que deixaram o Nordeste para vir morar em São Paulo. Depois de chegar à capital paulista, passaram por um período de aprendizado, que incluiu uma turnê pela Europa. Época que contribuiu para apurar o som do conjunto. Na seqüência, apresentou-se o Sidestepper, projeto de salsa colombiana eletrônica do DJ inglês Richard Blair. Seu disco lançado no Brasil pela gravadora Trama, More Grip, é muito superior ao espetáculo apenas razoável que apresentaram neste domingo, principalmente pela diferença na qualidade entre os músicos que registraram o disco e os que foram escalados para o show. No estúdio, a mistura dessas duas sonoridades aparentemente díspares - inglesa e colombiana - soa autêntica. Ao vivo, parece uma expropriação indevida do cancioneiro tradicional da Colômbia. Por esses motivos, o sexteto (dois DJs, um baterista, duas vocalistas e um cantor) não conseguiu manter o pique de quem assistiu aos pernambucanos. Também não serviu de entrada para os fãs dos Orishas. Salsa, rumba, son, trovas e rap. Sim, ritmo e poesia. Os responsáveis por essa façanha - transformar rap em música cubana e vice-versa - são os rapazes do Orishas, quinteto (dois MCs, um vocalista, um percussionista e um DJ) que encerrou a programação do New Directions do Free Jazz 2001. Os orixás de Havana não vivem em Cuba, não acompanham o sucesso que fazem em sua terra natal - a música da banda serve de trilha para o carro, para a praia, para o elevador, enfim, pode ser ouvida em todos os cantos da cidade. Em São Paulo, pareciam não acreditar que o expressivo público presente no Jockey Club, apenas para vê-los, fosse formado por brasileiros. De início, pareciam estar dispostos a repetir o repertório do álbum A Lo Cubano: abriram com a introdução e emendaram Represent. Em dado momento, no entanto, dispensaram o DJ e, apenas com percussão acústica, cantaram temas da cultura popular da Ilha. São essas referências que fazem dos Orishas inovadores. Não à toa, aparecem entre as dez maiores promessas da música mundial na lista da revista Time. Main Stage - A noite soul emplacou no Main Stage. Com os veteranos do The Temptations e a novíssima musa do gênero Macy Gray, o palco principal do Free Jazz teve sua noite mais concorrida, a maior lotação, a platéia mais animada, satisfeita de ter garantido ingresso - esgotado desde terça-feira. Quem chegou mais cedo já pôde esquentar as baterias por volta das 21h30, no palco Village, com o samba-rock do Trio Mocotó e canja de Paula Lima. No palco principal, a festa começou às 22 horas com descontraído The Temptations, seus hits do soul celebrizados ao longo de 40 anos de estrada e sua coreografia simples, lúdica, quase infantilizada. Em seus ternos coloridos, de tons suaves, o quinteto vocal repassou canções de diversas fases do conjunto, embora da formação original reste apenas um cantor, Otis Williams. Hipnotizada, a platéia acompanhou a seqüência de hits com palmas e coros. Just My Imagination e My Girl foram os pontos altos, e a música-tema de Meu Primeiro Amor ainda contou com a interpretação de fãs que o quinteto chamou ao palco. Deixaram de presente à Macy Gray um público satisfeito e eletrizado - e ainda cheio de celebridades, da atriz Marisa Orth aos músicos Simoninha e Max de Castro e o ex-jogador de futebol Raí. De calça jeans, manta rosa e um enorme chapéu, a diva Macy abriu o show com Relating to a Psychopath, de seu álbum The Id. Em quase 1h30 de palco, mostrou à platéia os novos caminhos experimentados pelo soul e pelo r&b, assimilando um forte acento pop e muita influência eletrônica. No set list, Caligula, Sex o Matic e Oblivion. Um belo contraponto aos veteranos do The Tempations. Bem humorada - apesar do extravio de sua bagagem -, Macy encerrou sua participação e a programação do palco principal do Free Jazz 2001 vestindo a camisa reserva da seleção brasileira e entoando o hit I Try, do disco de estréia Macy Gray On How Life Is. A platéia fez o que pode para retardá-la em cena, mas acabou se contentado em voltar à área do palco Village, onde, novamente, o Trio Mocotó fazia a última incursão. Club - Os brasileiros do Curupira abriram a noite do palco Club com excelente música nacional. Os multi-instrumentistas, André Marques, Ricardo Zohyio e Cleber Almeida repassaram vários ritmos brasileiros em composições próprias utilizando apitos, pequenas flautas, viola caipira, violão, baixo, violino, piano, piano elétrico e escaleta e empolgaram a platéia, incluindo os integrantes do quinteto de Phill Woods, que assistiam animados à apresentação do trio. Pat Martino subiu ao palco em seguida. Boa apresentação para os fãs da guitarra de Pat, repleta de ricas improvisações sobre escalas. O pianista James Ridl, que o acompanhava, fez show a parte. Phill Woods e seu quinteto encerraram a noite do palco com excelente jazz bebop. Em apropriadas roupas de domingo (com direito a sandália e boné) desfilaram as várias décadas de experiência do grupo. Foram prejudicados, e muito, pelo som que vazava dos outros palcos e interferia no ambiente acústico montado para o Club. Visivelmente constrangido, Phill Woods ainda tentou reclamar, com bom humor, dizendo que aquilo (o som de fora) não podia ser música. Rio de Janeiro - Em balanço extra-oficial, a organização do festival contabilizou, para a edição carioca, um total de 23.760 ingressos vendidos: 11,3 mil para o Main Stage, 5,66 mil para o Cream, 5 mil para o New Directions e 1,8 mil para o Club. O único palco com lotação esgotada nas três noites foi o Club. No palco principal, sobraram ingressos apenas para a segunda noite, sexta-feira, dedicada à música eletrônica. Neste dia, revezaram-se DJ Dolores e Orchestra Santa Massa, Roni Size e, encerrando, o DJ inglês Richard James. A área de convivência Free Village, com seus bares, restaurantes, áreas de descanso e um pequeno palco, recebeu a maior visitação do evento. Cerca de 45 mil circularam pela área, de livre acesso. Durante os três dias, o serviço médico contou 79 atendimentos, nenhum grave, sem necessidade de remoção. Já os bombeiros foram acionados para 15 remoções para as ambulâncias. O consumo de bebidas desenha bem o perfil de cada palco. As 11,3 mil pessoas do Main Stage consumiram 20 caixas de uísque, 2 mil de cerveja, 40 de energético. No palco dedicado ao jazz, o Club, com cerca de um sexto da lotação do Main Stage, foram 59 caixas de uísque e apenas 120 de cerveja e 6 de energético. Já o balanço do New Directions, dedicado às novas tendências da música, e o do palco Cream, que varava a madrugada com música eletrônica, confundem-se, uma vez que ocuparam o mesmo espaço em horários diferentes. Somados, representaram um consumo de 10 mil latas de cerveja, mil doses de uísque, 700 de cachaça e 800 de vodka, para um público total de 10,66 mil pessoas. A assessoria informou que o balanço dos dados gerais das três noites do Free Jazz em São Paulo só serão contabilizados nesta segunda-feira.

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