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Filipe Catto busca o lúdico em si mesmo em seu terceiro disco

‘CATTO’ cria narrativa fantasiosa inspirado em Coney Island

Por Pedro Antunes
Atualização:

Um dia antes do aniversário de 30 anos, Filipe Catto sentiu a água morna na praia de Coney Island, em Nova York, em uma tarde de setembro mais quente do que de costume. Nadou entre turistas russos e com latinos que moram na cidade. No dia seguinte, voltou ao local, desta vez para posar para a amiga Lorena Dini. Aquele clique, dia depois de se banhar no mar costumeiramente gelado da Costa Leste americana, foi escolhido para a capa do terceiro disco dele, CATTO, lançado em formato digital, distribuído pela Biscoito Fino – a versão física chegará no início de 2018, assim como o show ancorado na nova safra de canções. 

“Foi um momento impactante. Na hora, senti que havia algo especial. Lembro exatamente da hora daquela foto. Assim como lembro do dia anterior, do banho de mar. Foi algo que me marcou. Talvez seja pelo cenário, do parque de diversões de Coney Island, que é um lugar parado no tempo”, explica.

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Equilíbrio. 'Pela primeira vez, tive tempo de criar um disco, de experimentar texturas e arranjos' Foto: Lorena Dini

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Coney Island, com a sua famosa roda-gigante, é um espaço lúdico acessado por Catto para a criação desse álbum. Faz parte da cultura pop, afinal. Presente no cenário de filmes como Warriors – Os Selvagens da Noite (1979) e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), ou mesmo em séries de TV (Seinfeld é um exemplo) e em videoclipes (Beyoncé gravou, lá, cenas do vídeo de XO). “O lúdico também é atemporal, é uma das suas características. Por isso, essa foto em Coney Island é tão representativa”, diz. 

É o disco mais libertário de Catto e chega no momento de virada. Quem já passou dos 30 anos sabe a alteração nos rumos da vida que a proximidade da terceira década de existência acarreta. Há quatro anos, adotou a corrida como prática frequente, deixou o cigarro, diminuiu os tragos de birita. Há tempos não ingere carne e pratica ioga. A transformação pessoal se esparramou para o trabalho como músico também. “Tudo isso são processos internos que também esbarram na autoestima. E o trabalho se equilibra nisso”, explica. “E não teria como isso não se refletir na música.”

A feitura de CATTO, o disco, já reverbera no novo Catto, o artista. “Pela primeira vez, tive tempo de criar um disco, de experimentar texturas e arranjos.” Os álbuns de estúdio anteriores careceram de processo. No primeiro, Fôlego, de 2011, gravou as vozes das 15 faixas em uma noite só. Para o segundo, Tomada, lançado há dois anos, Catto teve duas semanas de estúdio. “E foi gravado num esquema ao vivo”, relembra.

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CATTO está a bons quilômetros de distância dos dois antecessores na questão de preenchimento do espaço sonoro, justamente pelo tempo de se pensar em arranjos. Nos discos anteriores, a voz dele, como intérprete ou autor, estava dois degraus acima da instrumentação, em uma estética padrão para discos de artistas que têm a voz como seu principal instrumento. Agora, encontra-se o ponto de equilíbrio. “Entendi que não sou só um cantor, sou um artista”, conta. 

Catto explica que conhecer Felipe Puperi, integrante do Wannabe Jalva, produtor e artista solo (recentemente, lançou o projeto solo Tagua Tagua, com um EP chamado Tombamento Inevitável), foi definidor. Puperi produziu CATTO, o disco, gravou guitarras, teclados, sintetizadores e criou os arranjos de cordas “na unha”, como brinca Catto. “Nós viemos da mesma cidade, frequentamos as mesmas festas, temos as mesmas referências.” Catto conheceu o produtor por amigos em comum. Chamou para um bar e uma cerveja e, de lá, saíram com a ideia de lançarem um single. Numa outra noite, dessa vez bebericando taças de vinho, todo o conceito estético do disco, o nome e parte das músicas selecionadas para o repertório já estava feita. 

Ao todo, CATTO foi criado de março a outubro deste ano e reúne canções de artistas como Rômulo Fróes e César Lacerda (com Como Um Raio, que abre o disco, e Faz Parar), António Variações (Canção de Engate), Bruno Capinan (Um Nota Um), Marina Lima e Antônio Cícero (É Sempre o Mesmo Lugar), e Igor de Carvalho e Juliano de Holanda (Eu Não Quero Mais). O lado compositor de Catto é contemplado em parcerias com Zélia Duncan (em Só Por Ti, na qual Zélia e Catto contrapõem suas androginias) e Fabio Pinczowski (em É Sempre o Mesmo Lugar), e em Lua Deserta, faixa assinada por Catto sozinho. Ao todo, elas constroem uma narrativa, como uma peça teatral ou um filme. “Queria que esse disco soasse como um filme do Spielberg”, brinca Catto com Coney Island como plano de fundo, é claro. 

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