Filarmônica de NY faz concerto histórico na Coréia do Norte

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Por JON HERSKOVITZ
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A mais antiga orquestra dos Estados Unidos fez na terça-feira um inédito concerto na Coréia do Norte, despertando em ambos os países a perspectiva de mais harmonia em suas relações. No programa havia obras de Richard Wagner, Antonin Dvorak e George Gershwin. O regime comunista norte-coreano vem buscando uma maior aproximação com o restante do mundo, depois de sua promessa de abrir mão de armas nucleares. "Sentimos que esta oportunidade vai aprofundar uma maior compreensão e confiança entre os dois países", disse a guia Pak Su-mi aos visitantes estrangeiros na Grande Casa de Estudos do Povo, um dos raríssimos lugares onde os norte-coreanos podem consultar a Internet, apesar das fortes restrições de acesso e dos computadores antiquados. Pak falava inglês, mas usava trajes típicos e -- como a maioria dos norte-coreanos adultos -- um distintivo com o retrato do falecido líder Kim Il-sung. Zarin Mehta, diretor-executivo da Filarmônica de Nova York, ecoou os comentários dela, dizendo que autoridades de ambos os países esperam que a visita -- é o maior grupo norte-americano no país desde a Guerra da Coréia (1950-53) -- ajude a normalizar as relações entre os velhos inimigos. "Recebemos a mesma mensagem do lado da Coréia do Norte, de que eles desejam estabelecer boas relações", disse Mehta a jornalistas na primeira entrevista coletiva já transmitida ao vivo para fora do misterioso país. Mehta disse que seis músicos norte-coreanos foram convidados para acompanhar a orquestra em uma das peças do programa, que foi exibido ao vivo no único canal da TV local. Durante a visita, a Coréia do Norte abriu suas portas, normalmente herméticas, a diversos jornalistas estrangeiros, dando-lhes acesso à Internet e a telefonemas internacionais quase sem restrições -- algo inédito num país que costuma prender pessoas que mantenham contatos não-autorizados com o restante do mundo. Analistas dizem que a Coréia do Norte vê a visita da orquestra, a seu convite, como uma vitória diplomática. A máquina de propaganda do regime quase certamente vai apresentar a viagem como uma missão dos Estados Unidos -- que são oficialmente o pior inimigo do país -- para prestar tributo ao líder Kim Jong-il, filho e sucessor de Kim Il-sung, no poder desde 1994. Os dois países não mantêm relações diplomáticas e tecnicamente permanecem em guerra, com tropas frente a frente há mais de meio século na vigiadíssima fronteira entre as duas Coréias. Mas não havia sinal de que Kim estivesse no meio da entusiasmada platéia, formada principalmente por generais e burocratas de primeiro escalão. O concerto começou com os hinos nacionais de ambos os países -- o da Coréia do Norte em primeiro lugar. As bandeiras das duas nações estavam sobre o palco.

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