A pungente criação musical cheia de riquezas e fora das expectativas do que o Rio de Janeiro imaginário tem a oferecer a quem consome cultura (samba, choro, bossa nova, funk carioca...) é a linha que une a programação do festival Mulambo Jazzagrário. Tudo ali, mesmo quando não há voz, soa resistência. Grupos e artistas nascidos e criados nos espaços distantes dos olhos do Estado e dos investimentos privados se reúnem em uma programação surpreendente para shows que serão mostrados, graças ao apoio da Lei Aldir Blanc, em dois dias (sábado, 10, e domingo, 11), a partir das 16h, pelo canal do YouTube da Rádio Escada.
Esta será a sexta edição do Mulambo Jazzagrário, criado sob a aura do um músico ativista Fernando Grilo, morto aos 22 anos por complicações de uma apendicite quando viajava para fazer uma parceria com o percussionista Naná Vasconcelos, em 2015. A despedida precoce de um jovem que levava a difusão da música instrumental como uma missão inspirou seus amigos e sua mulher, Nathalia, a seguirem com o que ele já havia feito em projetos como o Jazz na caixa, em Vila Aliança, Bangu; Realengo of Jazz, sob o Viaduto de Realengo; e a Oficina de Música Criativa, em Manguinhos, Benfica. Mulambo Jazzagrário era o nome da banda de Grilo. A curadoria, a alma de um projeto como esse, é feita por Nathália e Roberto Barrucho.
As atrações de sábado (10) abrem com o artista dos sons experimentais e transcendentais Mbé, às 16h. Criado na Rocinha, Luan Correia, que usa o nome de Mbé (termo que em iorubá significa existir), é um pesquisador que usa seus conhecimentos como engenheiro de som e produtor para construir colagens de vozes, ruídos e sons eletrônicos. Seu primeiro álbum, Rocinha, acaba de sair com participações de Juçara Marçal e dos percussionistas baianos Luizinho do Jêje e Orlando Costa. Aos Meus, Cerimônia, A Caminho dos Palmares e todas as faixas de seu álbum cruzam denúncia social com afirmação ancestral em viagens perturbadoras.
A seguir, chegam Caio Oica e Um Perrengue Chic, direto do bairro de Ricardo de Albuquerque, com as informações da soul brasileira do subúrbio oeste ligadas um dia ao movimento Black Rio. Suingue, groove e fusion orgânicos contrapondo ao cientificismo eletrônico de Mbé. Às 18h, na sequência, chegam Laranjazz e o guitarrista Maurício Pazz. O trio Laranjazz foi formato na Lapa, no caldo de uma cena vibrante de jazz carioca que coabita o espaço histórico dos sambistas. Uni-lo ao paulistano Maurício Pazz, guitarrista pesquisador de outros instrumentos de corda, como o violão tenor e o bandolim, foi uma proposta dos curadores. Maurício tem passagens pro trabalhos com Anaïs Sylla, Chico César, Coletivo Roda Gigante, François Muleka, Luedji Luna, Marco Mattoli, Natália Matos e Renata Jambeiro.
Duas atrações maiores fecham então o sábado: o pianista pernambucano Amaro Freitas, fruto de uma das periferias culturalmente mais ricas do país, e o coletivo Zona Oeste Instrumental, com o percussionista Djalma Corrêa e o saxofonista e flautista Carlos Malta. Amaro pode ser uma espécie de do festival. Sua história de superação transposta em seu piano vem de berço. Sua família não podia sequer pagar por suas aulas de música. “Além de sua música ser revolucionária, sua postura também, deixando claramente de lado qualquer possível egotrip do artista de sucesso, o que pode ser observado no palco e bastidores do festival”, comenta no texto de release do evento, Nathália Grilo.
PROGRAMAÇÃO
Sábado, 10 de abril 16h - MBÉ 17h - Caio Oica e Perrengue Chic 18h - Laranjazz e Maurício Pazz 20h - Amaro Freitas 22h - Zona Oeste Instrumental + Djalma Corrêa + Carlos Malta
Domingo, 11 de abril 16h - Jovem Palerosi 17h - Do Nada + Maria Bonita 18h - Lata Doida 20h - Dembaia
FICHA TÉCNICA: Curadoria: Nathália Grilo e Roberto Barrucho Produção Executiva: Roberto Barrucho Coordenação de Produção: Nathália Grilo Captação de Som: Alberto Ferreira e Thiago Frazão Mixagem: Alberto Ferreira, Gabriel Marinho e Clã Records Captação de Imagem: Rádio Escada Direção de Fotografia: Daniel Santos