Festival Mimo vai trazer o rock do deserto

Evento que começa em outubro e vai passar pela primeira vez pelo Rio de Janeiro terá o tuareg Bombino

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Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Omara Moctar poderia estar em um clube de blues de Chicago fazendo jam sessions com Buddy Guy. Sentiria-se em casa se gravasse com o mexicano Carlos Santana e nos céus se recebesse seu ídolo maior, o inglês Mark Knopfler. Mas não. Moctar andava mais ocupado em sobreviver pelas areias do Saara, vivendo com sua família em algum lugar entre o Níger, o Mali e Burkina Fasso. Um típico tuareg, os ciganos do deserto, frequentemente expulsos das terras pelos governos dos países nos quais tentam criar raízes.

A transformação de Omar Moctar em guitarrista e cantor é um desses milagres operados pelo rock. “Quando eu era adolescente, fui apresentado à música tuareg tradicional, além de muito rock norte-americano e britânico”, conta Bombino, o nome que adotou depois do início de sua carreira. Muito jovem, antes dos 18, uma guitarra caiu em suas mãos. “Eu aprendi a tocar sozinho. Costumava pegar o instrumento dos meus primos e tocar por várias horas.” A música de Bombino já foi registrada em quatro discos desde 2009.

Bombino Foto: Divulgação

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O mais recente e melhor deles é Nomad, de 2013, produzido por Dan Auerbach, guitarrista e vocalista da banda Black Keys. Há uma distorção maior nas guitarras, mas poucas interferências na ‘pegada tuareg’ de Bombino. Ele cria seguindo os padrões da música árabe e cantando em dialetos de seu povo. Sua guitarra Fender Stratocaster também pode soar limpa e em círculos. Ouvi-lo de olhos fechados é uma experiência. “Mas eu não diria que minha música é religiosa. Diria que ela é sobre o espírito e espero que, quando eu a toque, isso chegue às pessoas. Não sou uma pessoa religiosa, mas acredito no espírito.”

Bombino é uma das atrações do Festival Mimo 2015, que já tem datas: em Paraty (RJ) será de 2 a 4 de outubro; também em outubro, segue pelo circuito das históricas Ouro Preto e Tiradentes; e, de 20 a 22 de novembro, finaliza a temporada em Olinda. A capital do Rio de Janeiro, pela primeira vez, vai sediar uma das etapas, de 20 a 22 de novembro. Os espaços a serem usados para shows serão Parque Lage, Museu da República, Igreja da Candelária, Igreja do Outeiro da Glória, Igreja da Penha e Sala Cecília Meireles. 

A produtora e idealizadora do festival, Lu Araújo, sócia na empreitada de Luiz Calainho e Fernanda Cortez, diz que o cenário de crise requer ainda mais ousadia. “Estamos, como todos os brasileiros, atravessando um período difícil economicamente. Não seria diferente para projetos culturais como Mimo, principalmente porque ele depende exclusivamente de patrocínios, já que é oferecido gratuitamente ao público. Acho que é momento de se reinventar e buscar alternativas para manter a nossa trajetória de sucesso, trabalhando junto com nossos parceiros.” Os bancos Bradesco e BNDES confirmaram apoio para esta edição.

Além de Bombino, a África será representada também pelo malinês Salif Keita, conhecido em sua terra como “garganta de ouro”. Histórias desses homens do norte africano não faltam. Salif é albino e esta condição fez com que seus pais fossem obrigados a deixá-lo no ostracismo na infância, já que seu povo considerava este um sinal de azar.  Mais tarde, quando decidiu cantar, descobriu que o fato de possuir ancestrais pertencentes à família real do Mali o impediria de ir para os palcos – missão apenas dos griôts sem sangue azul e a uns trinta degraus abaixo da realeza. Keita desafiou as leis e se aventurou para criar seu primeiro grupo em 1967, o Super Rail Band, na capital do Mali, Bamako. 

CURIOSIDADES

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- Atrações Para a edição deste ano, estão confirmados até agora Salif Keita (Paraty) e Bombino (Rio e Olinda)- Festival de Cinema As inscrições para os editais do Festival Mimo de Cinema, para documentários, longas e curtas que tenham a música como tema, serão abertas na semana que vem pelo site www.mimo.art.br- Números O balanço de suas 11 edições anteriores ficou assim: 880 mil espectadores, 157 filmes exibidos, 300 concertos – todos com entrada gratuita –, 600 músicos participantes e artistas de países que vão de Cuba à Suíça

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