PUBLICIDADE

Festival de Campos quer recuperar sua identidade

"Campos do Jordão não é, não pode ser só glamour", diz Roberto Minczuk, novo diretor artístico do festival

Por Agencia Estado
Atualização:

Para que serve um festival de inverno? A pergunta tem sido feita com freqüência ao longo dos últimos 34 anos do Festival de Campos do Jordão. As datas para este ano já estão marcadas - de 3 a 25 de julho. As inscrições para músicos, abertas até sexta-feira. E o evento tem novo diretor artístico, o maestro Roberto Minczuk. É hora, então, de perguntar de novo: quais os objetivos do festival, um dos eventos que mais atraíram polêmica na vida musical recente do País? "O festival precisa ser uma festa da música, um espaço de confraternização entre os músicos, os nossos músicos, e o público. Campos do Jordão não é, não pode ser só glamour", diz o maestro, que está reformulando a grade de aulas para jovens artistas, o quadro de professores e a programação de concertos, com o intuito de "recuperar a verdadeira vocação do festival". Quando o festival surgiu na década de 70 propunha-se a ser um espaço no qual atrações internacionais serviriam como atrativo turístico para um região que, no inverno, recebia grande afluência de pessoas. O tempo passou e, se de um lado o apelo turístico se fortaleceu, de outro a discussão acerca da proposta artística do festival só cresceu. Ainda na década de 70, passou a ser cobrada a presença de artistas brasileiros. Campos também esteve no centro do debate envolvendo a divulgação da música nacional: para alguns compositores, deveria ser um espaço de convergência de novos autores, da nova música; para organizadores, esse tipo de limitação não seria bem-vindo. Mais tarde, na década de 90, a programação abriu-se à música popular. Um dos últimos bastiões da música dita erudita caía. Para alunos, ficava cada vez mais difícil conseguir espaço na programação. Atrações internacionais vinham, ficavam uma tarde na cidade, apresentavam-se em concertos para os quais era difícil conseguir ingressos (caros e vendidos de modo irregular) e não tinham contato nenhum com os alunos. O festival, enfim, perdia sua cara e, em temporadas irregulares, também o seu sentido. Minczuk acredita que sem uma identidade bem definida não há como sustentar o festival. Sem uma cara, em resumo, não dá para formatá-lo adequadamente e, assim, não se atinge resultado nenhum. "O festival deixou de investir em nossos músicos, que carecem de informação e formação", ele começa. "O festival não pode ter um caráter de momento, passageiro. É necessário promover a música de modo sadio, pensar que ela pode transformar as pessoas. Sem isso em mente, fica difícil sair do lugar." Uma das primeiras decisões é manter, como já foi feito no ano passado, a exclusividade da música erudita. Nada contra a MPB, garante, mas este é um passo importante para "recuperar a vocação do festival". Minczuk lembra que seu primeiro festival foi em 1978, como aluno. Diz que o contato com outros jovens, de diversos lugares do País, fez dele um artista melhor; que a troca de experiências com professores foi fundamental. Segundo Minczuk, encontros como esse vão ocorrer com freqüência. Os professores, garante, não vão só dar aulas, mas também tocar, algumas vezes até com os próprios alunos. Entre os mestres definidos estão o trompista Sören Hermansson, o clarinetista Edmilson Nery, o violonista Edelton Gloeden, o contrabaixista Günter Klaus, o violoncelista Antonio Meneses, os violinistas Boris Belkin e Claudio Cruz, entre outros. Os cursos de regência serão ministrados por John Neschling. Minczuk ainda esconde o jogo com relação às atrações internacionais, à programação de concertos - o que se sabe é o que dá para concluir da afirmação de que os professores também vão fazer concertos ao longo do mês. De qualquer forma, algumas novidades já estão definidas. Campos ganha, a partir deste ano, o posto de compositor residente. Será Marlos Nobre, que vai trabalhar com os alunos e ter um painel de suas obras executado pelos músicos que se apresentarem - aí está incluída uma nova peça, comissionada pelo festival. Também estarão na cidade três "conjuntos de música de câmara residentes": o Quinteto de Metais da Filarmônica de Nova York, o Quarteto Amazônia e o Duo Con-Texto, de percussão (Suíça). Os concertos terão, também, uma orientação temática, digamos assim. Haydn, diz Minczuk, é compositor fundamental no processo de refinamento da técnica e da interpretação de qualquer músico, orquestra ou conjunto de câmara. Por isso, seu nome foi escolhido para fazer parte de grande parte das apresentações. A Osesp também deve abrir o festival, como tem feito desde 1998, com um programa que terá a participação do pianista Pablo Rossi, de 13 anos. "Ele é exemplo do que quero dizer. Foi estudante em Campos, eu o ouvi tocar, levei-o para a Osesp e agora ele volta ao festival como solista." As apresentações, assim como palestras, encontros e seminários, vão ocorrer não apenas no Auditório Cláudio Santoro como, também, no Palácio Boa Vista, nas Igrejas São Benedito e Santa Terezinha e na Praça do Capivari. As inscrições para os bolsistas pode ser feita até sexta-feira. Mais informações nos sites www.ulm.sp.gov.br, www.festivaldeinverno.sp.gov.br e www.cultura.sp.gov.br. Ao todo são 160 vagas para bolsistas. As audições serão realizadas no dia 6 de junho e a divulgação dos selecionados começa no dia 9.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.