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Festival de Campos inicia edição sobre diálogos

41.ª edição do evento promove o diálogo entre épocas, estilos, gêneros e destaca a música contemporânea

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Por Redação
Atualização:

João Luiz Sampaio - enviado especial

 

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CAMPOS DO JORDÃO (SP) - Foi uma abertura tranquila. Depois de anos em que a primeira noite do Festival de Inverno de Campos do Jordão se tornou palco de disputas políticas entre maestros, orquestras e governo, o clima no Auditório Claudio Santoro no sábado foi ameno. Verdade que a direção artística da Osesp, pouco antes do concerto de abertura, não queria o Hino Nacional Brasileiro incluído no programa – mas, na hora H, lá estava ele, abrindo a 41.º edição de evento.

 

 

Este ano, o tema do festival é o diálogo entre épocas, estilos e gêneros. A música contemporânea ganhou espaço maior, e vem acompanhada da proposta de mostrar que nada surge do acaso e que compositores de hoje se relacionam com a riqueza da história da música e os estímulos de nossa época num misto de diálogo e reinvenção.

 

No sábado, a Osesp fez a estreia de O Livro dos Sons, de Rodolfo Coelho de Souza. A obra parte das possibilidades sonoras da kalimba, instrumento de origem africana típico do período colonial, retrabalhadas pela orquestra e por inserções eletrônicas, propondo a busca por novos sons a partir de uma redefinição da própria técnica. O programa da orquestra tinha ainda a Sinfonia nº 7, de Dvorak, e o Concerto para Flauta, de Carl Reinecke. A Sétima é a mais romântica das sinfonias de Dvorak – sua história está relacionada não apenas ao impacto que a Sinfonia nº 3 de Brahms provocou no compositor, como também a lutas políticas do povo checo. Ganhou de Carlos Kalmar, porém, uma leitura apenas correta e linear. Encantamento mesmo só no concerto de Reinecke, com solos do excelente Emmanuel Pahud, primeira flauta da Filarmônica de Berlim.

 

No domingo, o primeiro concerto, na Praça do Capivari, uniu os músicos da Sinfônica Jovem do Estado, comandados por João Maurício Galindo, e o violonista Fábio Zanon. A "Estadualzinha", como é conhecida, vez ou outra surpreende com a programação de uma peça raramente – ou nunca – tocada por aqui, bem-vindo ingrediente à mistura de seu trabalho, que tem como objetivo formar instrumentistas. No domingo, a surpresa foi a Serenata de Castelnuovo Tedesco, para violão e orquestra, com Zanon em posse de um virtuosismo que não sacrifica em momento algum a musicalidade, em especial no difícil terceiro movimento, Quase Scherzo, que vai desaguar na bem-humorada marcha com que a obra se encerra.

 

À tarde, mais uma orquestra, agora a Sinfônica de Sergipe. O grupo ganhou espaço nos últimos dois anos, desde que o maestro Guilherme Mannis devolveu a Aracaju uma programação regular de concertos – e que a pianista Maria João Pires começou a falar na instituição, por lá, de um projeto de formação musical nos moldes de seu célebre centro de ensino em Belgais. Eles tocaram em Campos o Romance de Dvorak e as Árias Ciganas de Sarasate, com solos de Daniel Guedes; a Sinfonia n.º 3 Renana, de Schumann; e a Toccata Amazônica, pastiche minimalista do brasileiro Dimitri Cervo. O balanço final mostra que, se houve avanços, ainda há muito chão pela frente na construção de uma sonoridade coesa e diferenciada, que apenas com apoio constante será alcançada.

 

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Pesos pesados. A primeira semana do festival continua hoje com a Experimental de Repertório em um programa Mahler, com a Sinfonia n.º 1 e canções do ciclo Des Knaben Wunderhorn; amanhã, o Quarteto Arditti faz interessante imersão pelo repertório contemporâneo, que também foi tema do concerto de segunda-feira da Camerata Aberta. Na quinta, sobe pela primeira vez ao palco o duo Antonio Meneses/Maria João Pires. Mais Mahler na sexta com a OSB interpretando a Sinfonia n.º 3. E, no sábado, Nelson Freire de volta, com o Concerto n.º 2 de Brahms.

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