Femi Kuti, a voz da nova música africana

Cantor e multiinstrumentista filho do nigeriano Fela Kuti vem ao Freez Jazz Festival mostrar seu afrobeat dançável e internacionalizado

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Por Agencia Estado
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Filho de Fela Kuti, um dos maiores nomes da música nigeriana, Femi Anikulapo-Kuti é a representação da nova música africana no Free Jazz Festival. Uma música globalizada, que flerta com o pop internacional, vale-se da tecnologia e de diálogos com gêneros externos, mas que nunca deixa de ser africana na essência. "Meu objetivo é apenas tocar música e fazer as pessoas dançarem e se divertirem", disse Kuti à reportagem, em entrevista por telefone na terça-feira à noite. Ele toca no domingo, dia 22, às 22h30, dividindo a noite com o cantor norte-americano D´Angelo. "Levarei um grupo de 15 pessoas, incluindo três dançarinos", avisou o cantor e multiinstrumentista africano, que desembarca pela primeira vez no Brasil com seu grupo The Positive Force e com o repertório principalmente calcado em seu mais recente disco, Shoki Shoki. "Quero conhecer tudo que for possível no Brasil." A revista Rolling Stone disse que Femi Kuti tem "os mesmos grooves musculares de James Brown", mas isso não parece entusiasmá-lo. "Não costumo ler essa revista", disse simplesmente o cantor. "Acho que são estilos muito diferentes e não é possível compará-los", ponderou. Femi também revelou que considera Gilberto Gil um músico que se parece muito com seu pai, Fela Kuti. "Toquei com Gil na América, e é impressionante como ele tem abordagem semelhante à de meu pai, na maneira de abraçar todos os gêneros", afirmou. O pai de Femi, Fela Kuti, foi músico e ativista político de grande importância na Nigéria dos anos 60 e 70. Perseguido pelo poder, esteve preso por diversas vezes, e foi numa dessas vezes que o filho Femi teve de entrar em cena para substituí-lo. Seu primeiro disco foi lançado ainda nos anos 80, No Cause for Alarm, que já misturava vários gêneros: soul, jazz, funk e ritmos afro. Em 1994, chegou a assinar contrato com a lendária gravadora Motown, berço da moderna soul music e do funk americanos. Fez um disco mal-sucedido na companhia, Wonder Wonder. No ano passado, lançou este Shoki Shoki, que recuperava o rótulo afrobeat com o qual seu pai foi enquadrado por um bom tempo. Uma turnê recente pelos Estados Unidos, onde tocou em um clube famoso de Washington, o 9:30 Club, voltou a projetá-lo como um nome de relevo na nova cena da world music. O afrobeat de Femi Kuti tem uma levada mais dançável e internacionalizada que seus correlatos. Ele canta também em inglês, toca sax e sua banda tem trompetista, guitarrista e tecladista. Femi toca basicamente o saxofone, e promove encontros entre o acid jazz, o hip hop, a soul music e os ritmos ancestrais de sua terra. As letras são politizadas, como não poderia deixar de ser, mas ele não tem a radicalidade do pai, morto de aids em 1997. O pai, Fela Kuti, nasceu em Abeokuta, Nigéria, em 1938, de ascendência iorubá. Seu pai e seu avô tinham sido pastores de igreja protestante. Sua mãe era professora e tornou-se política de considerável influência. Enviado a Londres em 1958 para estudar medicina, Fela trocou de curso e foi para a Trinity School of Music, onde ficou por cinco anos. Fela retornou a Lagos, capital nigeriana, em 1963, três anos após a independência. Tocou jazz em clubes até 1969, quando foi para os Estados Unidos e passou a tocar com o grupo Fela Ransome-Kuti and Nigeria 70. Arrumou uma namorada, Sandra Isodore, que vinha dos Panteras Negras e que o apresentou às idéias de Malcolm X, Eldridge Cleaver e outros ativistas. Foi em Los Angeles também que ele criou o afrobeat, que lançou como estilo em uma série de singles com a banda Fela Ransome-Kuti & Africa 70, agora rebatizada. Em 1979, já de volta ao seu País, lançou-se candidato a presidente e criou seu próprio partido, Movement of the People (M.O.P.). Sua candidatura não foi aceita. Tentou de novo quatro anos depois, mas a polícia nigeriana o combateu duramente. Em seguida, veio o golpe de Estado do general Buhari. Femi Kuti é o herdeiro legítimo desse legado político e musical.

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