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Família de Hekel Tavares vence processo contra Fagner

Tribunal considerou o cantor e compositor culpado por plágio de música

Por Agencia Estado
Atualização:

A família do compositor Hekel Tavares (1896-1896) ganhou em definitivo o processo contra o cantor e compositor Raimundo Fagner. O Superior Tribunal de Justiça deu ganho de causa em definitivo aos Tavares, que tiveram sua canção Você copiada e editada por Fagner com o título de Penas do Tiê. O nome de Hekel foi omitido e a canção lançada no primeiro disco do cantor cearense, em 1973. A conquista dos Tavares coroa uma fase de redescoberta da obra de Hekel no Brasil. Neste ano, o jovem violonista americano David Garre vai apresentar o concerto para violino e orquestra Em Formas Brasileiras com a Orquestra Petrobrás Sinfônica. Nascido na pequena cidade de Satuba, em Alagoas, Hekel Tavares era compositor, regente e arranjador. Desde criança ligado à música, estudou piano com uma tia a aprendeu harmônica e cavaquinho e criou uma música entre o erudito e o popular, sob a influência da Semana de Arte Moderna de 22 e dos companheiros Valdemar Henrique, Marcelo Tupinambá e Henrique Vogeler. A partir de 19221 ele foi viver no Rio de Janeiro. Escreveu mais de cem canções. Uma das mais famosas Casa de Caboclo, Hekel Tavares e Luiz Peixoto, de 1938, continha versos que se tornaram dito popular: "Numa casa de caboclo / um é pouco / dois é bom / três é demais". Entre as obras que deixou inacabadas estão Rapsódia Nordestina e Fantasia brasileira, ambas para piano e orquestra, e o drama folclórico Palmares. Outros processos O primeiro disco de Fagner Manera Frufru Manera, de 1973, rendeu ao cantor dois processos por plágio. Este com a família de Hekel Tavares e um outro, com a da poeta Cecília Meirelles. Em Canteiros, baseada no poema Marcha de Cecília Meirelles, da mesma forma que ocorreu com Hekel Tavares, o músico omitiu o nome da poeta nos créditos. Uma briga na Justiça com as filhas de Cecília levou à retirada do disco das lojas. A música só voltou a ser regravada por Fagner em 2000, no disco Raimundo Fagner, ao vivo, após acordo da gravadora Sony Music com as herdeiras de Cecília. O fato se repetiu mais tarde, em 1978, quando Fagner musicou novamente sem os devidos créditos outro poema de Cecília, Motivo, e por conta disso seu disco Quem Viver Chorará também foi retirado do mercado. A carreira de Fagner despontou em 1968, quando ele conquistou o primeiro lugar no 4.º Festival de Música Popular do Ceará, com Nada Sou, em parceria com Marcus Francisco. Depois, em 1971, classificou-se em primeiro lugar no Festival de Música Popular do Centro de Estudos Universitários de Brasília com Mucuripe, em parceria com Belchior. A canção foi gravada por Elis Regina, no ano seguinte, e estourou em todo o país. Para lembrar das letras das canções: Canteiros Quando penso em você fecho os olhos de saudade Tenho tido muita coisa, menos a felicidade Correm os meus dedos logos em versos tristes que invento Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento Pode ser até amanhã, cedo claro feito dia Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa Pra correr entre os canteiros e esconder minha tristeza Que eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza E deixemos de coisa, cuidemos da vida, Pois se não chega a morte ou coisa parecida E nos arrasta moço sem ter visto a vida Penas do Tiê Vocês já viram lá na mata a cantoria da passarada quando vai anoitecer e já ouviram o canto triste da araponga anunciando que na terra vai chover já experimentaram guabiroba bem madura já viram as tardes quando vai anoitecer e já sentiram das planícies orvalhadas o cheiro doce das frutinhas muçambê pois meu amor tem um pouquinho disso tudo que tem na boca a cor das penas do tiê quando ele canta os passarinhos ficam mudos sabe quem é o meu amor ele é você Motivo Eu canto, porque o instante existe E a minha vida está completa Não sou alegre nem sou triste, sou poeta Não sou alegre nem sou triste, sou poeta Irmão das coisas fugidias Não sinto gozo nem tormento Atravesso noites e dias no vento Se desmorono ou se edifico Se permaneço ou me desfaço Não sei se fico ou passo Eu sei que eu canto e a canção é tudo Tem sangue eterno a asa ritmada E um dia eu sei que estarei mudo, mais nada

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