Estréia no Municipal uma "Salomé" como nunca se viu

Ópera de Strauss ganha o palco em São Paulo com ousada direção cênica de Ana Carolina, cineasta de Amélia e Sonho de Valsa

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Por Agencia Estado
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Um comentário ouvido na segunda-feira à noite, no Teatro Municipal, no fim do ensaio com figurinos da ópera Salomé, de Richard Strauss, dá bem uma idéia do que Ana Carolina pode ter plantado para colher esta noite, quando se iniciar a primeira das cinco récitas que ocorrerão, dia sim dia não, até o sábado da próxima semana. "Que mujer! Que mise-en-scène más loca", disse, em espanhol, uma convidada presente ao Municipal. Você nunca viu uma Salomé como a de Ana Carolina. Não é a primeira ópera montada pela talentosa diretora de Mar de Rosas, Das Tripas Coração, Sonho de Valsa e Amélia. Ana Carolina já dirigiu outra ópera de Strauss, Ariadne em Naxos, no Teatro Municipal do Rio, em 1988. "Estou me divertindo muito", diz a diretora, que se arrisca a desagradar aos puristas, pela ousadia de suas concepções cênicas. Ao mesmo tempo, justamente por causa delas, Ana Carolina ganhou a admiração da soprano nigeriana Morenike Fadayomi, naturalizada inglesa, que já participou da montagem de Salomé na Ópera de Dusseldorf, com direção musical de Ira Levin, que assina agora a regência do espetáculo no Municipal. A diretora tirou a ação de dentro do palácio, onde costuma ser encenada, e a transferiu para o deserto, retomando a idéia das areias de Copacabana. É uma concepção plástica muito forte, mas não é a única, nem a maior, ousadia. Ana Carolina tirou João Batista da cisterna onde se encontra, nas montagens tradicionais da ópera, e inventou uma solução cênica original para o seu isolamento. Morenike aprova."Encenar a ópera no deserto me dá uma liberdade muito grande de movimentação." Morenike é uma bela mulher e Ana Carolina explora sua sensualidade na dança dos sete véus, celebrada no cinema, no teatro e na literatura, quando Salomé dança para Herodes e seduz o amante da mãe, Herodíade. Ele lhe oferece o que ela quiser, mesmo que seja metade do seu reino. Salomé pede a cabeça de João Batista, o profeta que prega no deserto, anunciando a próxima chegada do Messias, Jesus Cristo. João Batista é contra a união pecaminosa de Herodes e Herodíade, resiste ao assédio de Salomé. Na montagem de Ana Carolina, ela rola diante, oferecendo-se ao homem desejado. Usa uma capa preta para separá-los do mundo, na hora em que tenta fazer amor com ele. Rejeitada, vinga-se pedindo a cabeça do profeta. Salomé é uma ópera de paixões bárbaras. Tem sexo e sangue. A heroína esfrega-se na cabeça decepada, beija os lábios mortos de João Batista. Canta, com paixão, que ele estaria vivo, se não a tivesse rejeitado. O vermelho irrompe no derradeiro efeito que explica a afirmação da observadora, na capa - que mise-en-scène tem Ana Carolina! Salomé. Obra em um ato de Richard Strauss. Regência e direção musical: Ira Levin. Direção cênica: Ana Carolina. Regência do coro: Mário Zaccaro. Hoje, às 20h30; domingo, às 17 horas; terça e quinta, às 20h30; sábado (1.º), às 17 horas. De R$ 15,00 a R$ 100,00. Venda antecipada pelo telefone 6846-6000. Teatro Municipal. Praça Ramos de Azevedo, s/n.º, tel. 222-8698. Até 1.º/11. Estréia hoje às 20h30.

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