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ENTREVISTA-'O clássico nunca fica velho', diz Chuck Berry

Por FERNANDA EZABELLA
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Aos 81 anos, a lenda do rock Chuck Berry não dá sinais de cansaço e promete uma turnê sem firulas em sua passagem por quatro cidades do Brasil neste mês. "Vamos dar o que as pessoas querem ouvir", disse à Reuters por telefone, de Nova York. Na estrada há mais de 50 anos, Chuck Berry é considerado o pai do rock and roll, autor dos hits "Roll Over Beethoven", "Sweet Little Sixteen" e "Johnny B. Goode", eleita a melhor canção para guitarra da história pela revista Rolling Stone deste mês. O cantor, guitarrista e compositor norte-americano, que influenciou nomes como Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones, já fez alguns shows no Brasil -- o último em 2002, no rodeio de Jaguariúna --, dos quais diz ter boas lembranças. "Foram maravilhosos, a recepção e as pessoas de seu país são tão animadas. Não poderia esquecer nada disso, não importa qual a minha idade", disse Chuck Berry. "Você tem que se sentir bem quando vai para outro país e as pessoas apreciam tanto sua música, sabem o que você está fazendo." Chuck Berry tocará dia 17 de junho no Rio de Janeiro, dia 18 em São Paulo, dia 20 em Curitiba e dia 21 em Porto Alegre. Ao contrário de shows anteriores, quando o músico viajava para as turnês sozinho e descolava uma banda local, desta vez ele tocará com seu filho Chuck Berry Jr., na guitarra, e sua filha, Ingrid Berry Clay, na gaita e vocal. "Vou fazer basicamente o que tenho feito. Tenho algumas coisas novas aqui e ali, mas só de estar aí, de volta ao seu país, com os brasileiros, será o suficientemente para mim." NO PALCO COM CHUCK O músico protagonizou momentos célebres no Brasil, como quando veio a São Paulo no começo dos anos 1990. Sem guitarra e sem banda, usou a Gibson de Marcelo Nova para dois shows. A banda escalada era um trio de MPB, sem intimidade com o rock. Chuck Berry entrou sozinho no show do Pacaembu, deixando a banda para trás, que só conseguiu acompanhá-lo no final da primeira música. Em outro concerto, deixou dois garotos "invadirem" seu palco para dançar "Johnny B. Goode". "É muito especial estar no Brasil e as pessoas quererem se juntar a mim no palco, não só por causa da música, mas para estar comigo", disse. "Porque estamos falando da minha música dos anos 1950, que ainda tem esse efeito nas pessoas que nem eram nascidas quando ela foi lançada." Marcelo Nova lembra do rápido momento que teve com o ídolo após ele devolver sua guitarra: "É um homem de poucas palavras, disse apenas algo como 'é uma boa guitarra, boy, tome conta dela"', contou Nova. "Ele é um mau humor ambulante, não tem paciência para nada, mas engraçadíssimo." Sem lançar um disco de inéditas há mais de 20 anos, Chuck Berry continua a repetir, como faz desde 2001, que um novo álbum está prestes a sair. Para os shows no Brasil, ele prometeu algumas canções novas, sem dizer quantas, ou quais. "Sempre tentamos entrar em novos territórios, mas não queremos ir longe do que nos trouxe sucesso e é mais confortável", disse. "Sabe, as pessoas não vêm para ver Chuck Berry cantando Michael Jackson ou hip-hop." ORGULHO POR TER OBAMA Tocar as mesmas músicas, no entanto, por tantas décadas, não acaba entediando? "Como disse um jogar de beisebol, sobre fazer sempre as mesmas tacadas, isto nunca fica velho, nunca", disse. "As músicas antigas viraram clássicos, e o clássico nunca morre, nunca fica velho. Não importa onde você vá, sempre irá ouvir 'Garota de Ipanema', por exemplo", disse. Chuck Berry, autor também de "Memphis" e "Maybellene", inventou as bases do rock ao misturar influências dos blues e do country. Tinha como ídolos Nat King Cole e Muddy Waters, e inaugurou em 1986 o Hall da Fama do Rock and Roll. O músico diz lembrar de quando compôs "Johnny B. Goode", uma época cheia de altos e baixos. "Naquele tempo estava apenas tentando sobreviver. Era um período que eu tinha que tentar manter um teto na minha cabeça e comida no meu estômago." Ele também cita o preconceito contra os negros, fato que o faz saudar com entusiasmo o democrata Barack Obama na corrida presidencial. "Você tem que se sentir bem quando a América finalmente chega a esse ponto de escolher um homem de cor e isso não é um problema. Definitivamente, é um momento de orgulho para todas as pessoas deste país, e não apenas para o negros", disse. "Quero dizer, nos anos 1950 havia lugares nos quais não podíamos pegar um ônibus, ou entrar nas casas pela porta da frente. E agora, temos a possibilidade de um homem negro na Casa Branca. Graças a Deus, finalmente livres."

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