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Entrevista com Carlos Santana, que se apresenta hoje em SP

O cantor mexicano se apresenta hoje, às 22 horas, no estacionamento Anhembi

Por Agencia Estado
Atualização:

O guitarrista Carlos Santana, de 58 anos, conversou com o Caderno 2 poucas horas antes de subir ao palco do ginásio de esportes Gigantinho, em Porto Alegre, e botar para dançar uma platéia animada de cerca de 13 mil pessoas. A conversa, como o repertório do show, foi bastante variada. De espiritualidade a prêmios recebidos, passando por política e religião, Santana fez questão de passar suas mensagens de união, iluminação e consciência. Você tem passado por muitas mudanças ao longo de sua carreira musical. Como lhe parece que seu público encara isso? O público hoje é muito mais ativo do que já foi antigamente. E aceita muito bem a minha música, que é uma fusão das coisas que fui unindo ao longo do caminho. Houve um tempo em que havia líderes como Martin Luther King. Hoje acho que há espaço para uma nova consciência. A minha música nunca foi o rock do Império. A minha música engloba John Coltrane, Bob Marley. Há artistas mais preocupados com os patrocinadores do que com as pessoas que estão lá para ver o show. Acho que é interessante que existam grandes patrocinadores para a música, mas essas empresas também poderiam devolver um pouco do muito que lucram em investimentos em países carentes de educação, por exemplo. Isso não é comunismo. É senso comum. É consciência. Você diz que não se preocupa em vender discos, mas é um artista que vendeu milhões de discos ao longo dos anos. Isso não provoca mudanças de comportamento? Como é lidar com todo esse sucesso? Eu ainda moro na mesma cidade em que sempre morei, São Francisco. Ainda tenho o mesmo número de telefone e continuo casado com a mesma mulher. Minha vida pessoal não mudou muito. Alguns números a mais na minha conta bancária não vão fazer a diferença, exceto pelo fato de que agora posso tentar ajudar mais pessoas. E são muitas que precisam de cuidado ao redor do mundo. Veja bem, a Copa do Mundo é uma competição. Os times estão querendo vencer. Música não é uma disputa. Eu não estou disputando com Eric Clapton ou com B.B. King. Eu só quero a chance de poder tocar com eles. Eu continuo procurando a emoção do primeiro beijo. Tenho 58 anos, mas dentro de mim existe uma criança de sete. Você fala muito em nova consciência, espiritualismo. Como é para você essa idéia de religiosidade? Não gosto de religião. Nem de política. São coisas ruins. Na política, não existe realmente nenhum poder. Os políticos obedecem aos interesses do dinheiro. O próprio George Bush não tem poder nenhum. Ele vai lá e lê algumas coisas que mandam ele ler. Quanto à religião, não acredito em alguma coisa que diz que você vai para uma coisa chamada inferno se não fizer tudo certinho. E se você acredita em Alá ou Jesus ou Buda, mas tem o ódio no coração, então eu lhe digo que você está cheio de lixo. E também não acho que Alá ficaria zangado por causa de umas caricaturas nos jornais. O que as pessoas têm de ter presente em suas consciências é que há um Deus que nos criou e que nos ama acima de tudo. Quando falo de espiritualidade, falo de uma água clara e límpida, falo uma luz interior. Como é para você receber prêmios da indústria fonográfica, como o Grammy? Eles têm algum significado? Na verdade, isso é tudo muito engraçado. Eu já recebi oito, talvez nove Grammys, mas não me lembro bem. Eu lembro do primeiro que recebi, porque foi anunciado por Bob Dylan. Ele me olhou, mesmo antes de abrir o envelope, e disse com aquele seu jeito típico: ?Este é para você.? Meus últimos três discos têm seguido uma mesma linha, com convidados e tudo, mas é algo que gosto de fazer. Gosto de tocar com as pessoas. Não importa se é Alice Coltrane ou Justin Timberlake. E também não tenho medo de cometer um suicídio profissional a cada três ou quatro anos, gravando projetos que gosto, influenciado por nomes que me são guias, como Miles Davis. O que podemos esperar de seus shows no Brasil em termos de repertório? Meu show é como um bufê muito variado. Tocamos durante cerca de três horas, às vezes mais. Tocamos coisas antigas, Black Magic Woman... Coisas mais recentes. E também há espaço para o jazz, para muita improvisação. Os mais jovens da platéia geralmente fazem uma cara de ?o que é isso?? quando partimos para o jazz, mas isso faz parte da minha música. Se você mostra a uma criança uma banana e um diamante, ela vai querer a banana, porque é mais divertida, mas é preciso ensinar a elas o valor do diamante. Não quero ser didático em meus shows, só quero que as pessoas curtam muito. Se eu olhar para trás, fui um garoto pobre que se criou em Guanajuato sem ter nem água em casa. Mas eu tinha sonhos. Sonhos de tocar com B.B King, John Lee Hooker... Realizei meus sonhos. E é isso que eu digo às pessoas: vão atrás de seus sonhos. Santana. Arena Skol Anhembi(21 mil pessoas). Av. Olavo Fontoura, 1.209. 846-6000. Hoje (17), às 22 horas. Abertura dos portões: 18 horas. Início do Show: 22 horas. Previsão de término: 24 horas. Ingressos de R$ 150 a R$ 170 (arquibancada) e R$ 500 (cadeiras numeradas).

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