Em duetos desiguais, a arte de Roberto Carlos em CD e DVD

Duetos marca encontros do ´Rei´ com Tom Jobim, Bethânia, Gal, Caetano...

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Por Agencia Estado
Atualização:

Seria chover no molhado dizer que o melhor do CD e DVD Duetos, de Roberto Carlos, são seus encontros com as vacas sagradas da MPB: Tom Jobim (em Lígia), Bethânia (Amiga), Gal Costa (Sua Estupidez) e Caetano Veloso (Alegria Alegria). De fato, são os pontos altos do material, garimpados em 93 duetos que ele fez desde os anos 70 nos especiais de fim de ano da TV Globo. No disco, Roberto privilegiou os românticos (e até um tanto bregas) anos 1990, que conta com oito encontros, ante quatro encontros dos anos 80, dois dos anos 70 e dois dos anos 2000. Parece um baile nostálgico, daqueles em que se exibem fotos antigas no telão. Roberto surge em 1985, com uma já combalida e quase esquecida Jovem Guarda cantando Jovens Tardes de Domingo, e é emocionante o encontro, que mostra um leque de vozes diferentes se alternando em versos iguais - Erasmo, Wanderléa, Wanderley Cardoso, Rosemary, Jerry Adriani, Martinha, Waldireni, Ed Carlos, Ed Wilson, Márcio Augusto, Ari Sanches, José Ricardo, Cleide Alves. O critério, segundo Roberto, foi sua própria emoção. Aquilo que lhe falou mais alto ao coração entrou no repertório.Há uma preocupação simétrica, no entanto, em dar vez a diversos estilos e gêneros: música romântica, moda de viola, bossa nova, sertanejo, o magnífico pot-pourri de rock?n?roll, do repertório de Elvis Presley (ele e Erasmo cantando Tutti-Frutti, Long Tall Sally, Hound Dog, Blue Sued Shoes e Love me Tender em 1977). O que sobressai é a capacidade infinita de intérprete de Roberto. Colocando sua voz privilegiada entre coisas extremadas, como os excessos de Ângela Maria e o diamante vocal de Milton Nascimento, e sempre prevalecendo, Roberto mostra nesses CD e DVD por que é considerado um dos maiores cantores de nossa época Sua voz engole os menos dotados, como Rogério Flausino, do Jota Quest, e dialoga com suavidade com os gênios, como Milton e Caetano Veloso. Luxo da moda de viola Sua teimosia até nos ensina muitas coisas. Os que torcemos o nariz quando ele levou, oportunisticamente, Sérgio Reis e Almir Sater ao seu show anual em 1996, hoje temos de admitir: aquela cantoria de viola está simplesmente um luxo. Na divertida letra de O Rei do Gado, a história do peão que é achincalhado numa festa de bacana até que se descobre que ele é mais rico que todos os latifundiários presentes, Roberto, Almir e Sérgio Reis nos levam aos rincões da música brasileira. A coragem de Roberto Carlos é sempre desafiar as unanimidades, mas ele mesmo diz que também há um critério que observa desde sempre: ele gosta de chegar perto do que faz sucesso, para aprender como se faz. Deve ser gozação: Roberto precisa aprender com alguém? Nessa toada, ele acaba pisando na bola aqui e ali - os duetos com Fagner (em Mucuripe, 1991), Ivete Sangalo (Se Eu não te Amasse tanto Assim, 2004) e Chitãozinho e Xororó (Amazônia, 1991) não fariam a menor falta se tivessem ficado de fora.

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