Em 40 canções, a história subversiva dos Stones

Celebrando seus 40 anos de carreira, banda lança coletânea que cobre todas as suas fases. Disco traz também quatro faixas inéditas, que mostram que Mick, Keith, Charlie e Ron, sessentões, continuam em plena forma

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Por Agencia Estado
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Com quatro músicas inéditas, chega amanhã às lojas do mundo todo (e na quarta-feira às do Brasil) o disco Forty Licks (EMI) (clique para ouvir as músicas), álbum duplo que celebra os 40 anos de carreira da banda britânica The Rolling Stones. Reunindo canções de todas suas fases, desde a primeira formação, com Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, o guitarrista Brian Jones e o baixista Bill Wyman, à atual, com Jagger, Richards, Watts e Ron Wood, o disco tem apelo incontestável para novos e velhos fãs. Para os fãs novidadeiros, o atrativo são as quatro canções inéditas: Stealing My Heart, Losing My Touch, Keys to Your Love e Don´t Stop, todas da dupla Jagger e Richards. Para os fãs de carreira, algumas músicas dos primórdios estão de volta com uma plumagem nova, como Paint it Black (1966), Get Off of my Cloud (1965) e Not Fade Away (1964). Quando os Stones começaram sua carreira, nos idos de 1960, eles amavam o blues e o R&B americano. Seu primeiro disco, gravado em 27 de outubro de 1962, tinha as seguintes canções: Soon Forgotten, de Muddy Waters; Close Together, de Jimmy Reed; e You Can´t Judge a Book (By Loooking at the Cover), de Bo Diddley. Nenhuma dessas fagulhas "primitivas" está no álbum Forty Licks. As quatro faixas inéditas dos Stones mostram que eles estão em plena forma, que continuam dominando a carpintaria do rock básico, seja no formato de balada (Keys to Your Love) ou fazendo artesanato da sujeira (Don´t Stop, com geniais riffs de guitarra). Losing My Touch é cantada pelo cigano Keith Richards, com seu fiapo de voz de bêbado - "uma balada de after-hours de saloon", como definiu o jornalista David Wild. Já Stealing my Heart tem uma modernidade estranha, como se fosse música de um desses grupos de garage rock que surgiram recentemente. Os vampiros Rolling Stones seguem sugando o sangue do seu tempo. O guitarrista Keith Richards, apropriadamente na capa da revista Rolling Stone deste mês, diz em entrevista que seu "maior vício, maior que a heroína, é o palco e a platéia". E que não tem superstições: ainda hoje, 40 anos depois, entra no palco sem nenhum ritual especial, a não ser umas partidinhas de sinuca com Ron Wood. Sessentões, os Rolling Stones estão na estrada e vão até à China, celebrando os 40 anos de carreira e desafiando várias leis do show biz. "Você está o tempo todo lutando contra a visão preconceituosa de que não pode fazer isso nessa idade", diz Richards, que vai fazer 59 anos em 18 de dezembro. Sempre acompanhado de uma garrafa de vodca e maços e mais maços de cigarros, ele é a própria imagem da sobrevivência de um estilo de vida. "As pessoas deveriam dizer: não é maravilhoso que esses caras se movimentem dessa forma? É um sinal de esperança para todos vocês." Logo a seguir, volta ao seu sarcasmo habitual. "Só não sigam a minha dieta." Richards falou sobre as novas canções dos Stones. Don´t Stop, por exemplo, ele disse que é "basicamente de Mick". Segundo o guitarrista, Mick tinha a canção pronta quando eles foram para Paris gravar, e ele apenas procurou encaixar a guitarra nela. "Eu vivo na América, ele vive na Inglaterra", afirmou. "Em Don´t Stop, meu trabalho foi o de colocar o pó de pir-lim-pim-pim." Nos outros 36 clássicos do disco, vamos encontrar de tudo, desde a gaita de Sugar Blue em Miss You à voz de Marianne Faithfull, em Sympathy for the Devil, passando pelos arranjos de cordas do mítico John Paul Jones em She´s a Rainbow e pelo coral The London Bach Choir em You Can´t Always Get What You Want. Keith Richards diz que não está, em absoluto, cansado de tocar as velhas músicas dos Stones, apesar de fazer isso há tanto tempo. "Os Stones sempre acreditaram no presente. Mas Jumpin´ Jack Flash, Brown Sugar e Start Me Up são sempre divertidas de tocar", revelou. "É como montar um cavalo selvagem." Além de trazer as 40 preciosas canções do grupo inglês, o álbum Forty Licks tem generoso encarte com fotos de diversas fases da banda. É um belo presente da mais longeva banda de rock aos seus admiradores. E pensar que tudo isso começou com uma missa. Em 1960, Michael Philip Jagger e Keith Richards fizeram parte de um coro que cantou o Messiah, de Haendel, na Abadia de Westminster, na presença de Sua Majestade, a Rainha Elizabeth 2.ª. Algum tempo depois, reencontraram-se em um trem - e o restante todo mundo conhece.

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