Elza Soares tempera black e eletrônica

Em Volta por Cima, os versos em francês, de hip hop. cantados lado a lado com o vozeirão descontrolado de Elza, dão em uma grata surpresa Clique para ouvir Volta por Cima

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Nega maluca de altos e baixos na MPB, Elza Soares deixou-se tutelar recentemente por jovens de tendências eletrônicas, o que a tirou do fundo do poço. Em "Do Cóccix até o Pescoço", sucesso absoluto do ano passado, ela já fazia umas investidas aqui e ali pelo hip hop e pela eletrônica, mas agora ela radicalizou. Vivo Feliz, o repertório que Elza apresenta nesta sexta-feira em show em São Paulo, é nome também desse seu novo disco, produção da Reco-Head Records. O álbum tem um nome por trás da produção: Arthur Joly, também responsável pelo projeto eletrônico Mugomango. Há uma vantagem inegável na adesão de Elza à eletrônica: ela traz uma bagagem black e uma legítima excitação rítmica ao gênero, que estava vivendo daquela assepsia do drum´n´bass de Fernanda Porto e Janaína, do Caleidoscópio. Para a cantora, a vantagem é que ela se distancia um pouco mais dos rótulos que carregou recentemente, do samba-jazz à metralhadora de scats que não serviam a causa nenhuma. Em Vivo Feliz, Elza Soares não abre mão nem de um nem de outro penduricalho, mas passa tudo pelo filtro da eletrônica. Ela faz sua alquímica com bom resultado. Opinião, de Zé Keti, por exemplo, ganha um tecladinho meio Shaft de fundo, e uma bela seção de metais (Hugo Hori, no saxofone; Guilherme Mendonça no tromepete; e Tiquinho, no trombone). Eu Gosto da Minha Terra, de Randoval Montenegro, é um standard ao estilo Sérgio Mendes, que ela trata com graça e bossa. O samba ganha tinturas franco-africanas com a participação do rapper Pyroman na faixa Volta por Cima, do honorável Paulo Vanzolini. Os versos em francês, de hip hop, cantados lado a lado com o vozeirão descontrolado de Elza, dão em uma grata surpresa. Como não podia deixar de ser, tem Nando Reis também na parada. Ele está presente em 11 entre 10 discos das cantoras da MPB. E divide os vocais com Elza, além de assinar a faixa "Concórdia". Nando é especialmente feliz nos duetos, como com Cássia Eller, e essa não é uma história diferente. O mangue também bate cartão, com "Computadores Fazem Arte", de Fred Zero Quatro. É a mais experimental das faixas, com climas de ficção científica dos anos 60 e sintetizador e minimoog. Elza supervaloriza sua "ousadia" de gravar música eletrônica. Não é mais algo tão insólito. A cantora dedica seu disco a uma miríade de astros: Einstein, Gagarin, Galileu, Joana D´Arc, Colombo, Van Gogh, Clementina de Jesus. "Longe de mim querer me comparar a todos esses grandes e destemidos precursores de filosofias e atitudes determinadas. Alvos de críticas, alguns foram chamados de loucos, outros forma discriminados. Mas foi a determinação que deu rumo a seus atos e objetivos, hoje tão definitivamente reconhecidos. Não tenho medo de me atirar ao vento mesmo sabendo que não tenho asas para voar. Se isso é ser louco, então chamem-me de louca", diz ela. É uma desvairada do bem, essa Elza. Elza Soares. Sexta e sábado, a partir da meia-noite. R$ 15,00 (mulher) e R$ 30,00 (homem). Urbano Club. Rua Cardeal Arcoverde, 614, em São Paulo, tel. 3085-1001.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.