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Elton Medeiros homenageia Zé Ketti no CCBB

Por Agencia Estado
Atualização:

O sambista Elton Medeiros acha que o compositor Zé Ketti - de quem se considerava amigo pessoal, discípulo, além de parceiro - nunca será suficientemente lembrado, apesar de suas músicas estarem constantemente em rodas de samba. Por isso, ele dirige a série de quatro shows que começa quinta-feira no Centro Cultural Banco do Brasil, abordando o repertório que soma mais de 300 músicas, pelo menos dez delas clássicos do samba. "Não me lembro quando o conheci, mas tenho certeza de que foi ele quem me ensinou o profissionalismo", diz Elton Medeiros. "Eu já tinha até música gravada, mas o Zé brigava sempre para que encarássemos a música como um trabalho sério." Zé Ketti, apelido de José Flores de Jesus, morreu em novembro de 1999, aos 78 anos, em plena glória. No ano anterior havia ganho o Prêmio Shell de Música Popular Brasileira e suas composições estavam (e ainda estão) no repertório de qualquer cantor que quer popularizar e dar prestígio à sua carreira. Mas Elton Medeiros acha pouco. "Fala-se pouco de sua participação no Cinema Novo compondo canções e atuando na parte técnica, pois ele tinha profundo conhecimento desse ofício também", diz Medeiros. "E sua atuação como diretor musical do Zicartola, o restaurante da Zica e do Cartola, um foco de resistência cultural nos anos 60, está praticamente esquecida." Para reavivar a memória, Elton reuniu a nata do samba carioca para os quatro shows, divididos por temas. Na primeira semana, Dona Ivone Lara e Zé Renato vão cantar as músicas feitas para o cinema. A Voz do Morro é a mais conhecida, por causa da polêmica cena em que servia de fundo para a imagem do Cristo Redentor em Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos. Há outras também importantes como Leviana, Mexi com Ela, Dama de Ouro, etc. Zé Renato pode ser considerado um dos responsáveis pela volta ao sucesso de Zé Ketti por ter gravado um disco só com músicas dele em meados dos anos 90. Dona Ivone acrescenta sucessos seus com Délcio Carvalho, como Acreditar e Sonho Meu. Noca da Portela - Na segunda semana, a partir do dia 10, Noca da Portela e Marilia Medalha vão lembrar a participação de Zé Ketti no Zicartola. Mascarada, Peço Licença, Acender as Velas e Márcara Negra (talvez sua música mais tocada e conhecida) estão no repertório que tenta reproduzir as noitadas do lendário restaurante da Rua da Carioca, no centro do Rio. "Tudo começou porque a Zica e o Cartola faziam rodas de samba na casa em que moravam, na Praça Tiradentes. A gente comprava umas cervejas, a Zica servia uns quitutes e o samba ia até de manhã", lembra Elton Medeiros, com saudade. "Quando a casa ficou superlotada, alguém teve a brilhante idéia de oficializar a coisa. O restaurante durou três anos e cumpriu seu papel." A partir do dia 17, o show Zé Ketti e a Boemia, com o próprio Elton Medeiros e a novata Tereza Cristina, vai relembrar essa faceta do compositor. Apesar de nunca ter deixado de trabalhar como músico e levar sua profissão a sério, Zé Ketti atravessava noites nos bares que tocavam samba, nos pagodes da zona norte e dos subúrbios cariocas. "Naquele tempo, as escolas de samba não tinham quadras e funcionavam nos terreiros que também serviam para cerimônias de candomblé", conta Medeiros. "Às vezes, quando estávamos reunidos, pela madrugada, o Zé chegava da zona sul com mais de 20 carros cheios de bacanas que vinham nos ouvir. Naquela época ele era, talvez, o único sambista que tinha trânsito nos dois lados da cidade." A Velha-Guarda do Império Serrano fecha a série de shows a partir do dia 24, com o espetáculo Zé Ketti: A Voz do Morro, com clássicos como Acender as Velas e Opinião. Esta última, deu nome ao show que Zé Ketti fez com Nara Leão, então musa da bossa nova, e João do Vale, que deu toda diretriz da música brasileira a partir de então. Além disso, Zé Ketti sempre foi um homem de escola de samba, portelense de primeira hora, sem deixar de lado seu amor por outras agremiações. Homenagens - Elton Medeiros espera que esta série de shows seja apenas o início das homenagens. No mesmo CCBB, haverá uma exposição de fotografias, Diz Que Fui por Aí, Imagens de Zé Ketti, com curadoria de Renata Cholbi, também vice-presidente do Centro de Referência Carioca do Samba. "Os meninos de hoje querem usar qualquer música como forma de protesto e resistência cultural, mas se esquecem que o Zé já fazia isso há mais de 40 anos, sempre em ritmo de samba", observa Elton Medeiros.

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