PUBLICIDADE

Elomar traz poética do sertão a SP

O músico que vive recolhido no interior da Bahia faz uma de suas raras aparições na cidade, onde apresenta recitais apenas neste fim de semana no Sesc Pompéia

Por Agencia Estado
Atualização:

O poeta Vinícius de Moraes, o crítico José Ramos Tinhorão e o mestre Muniz Sodré estão entre aqueles que recepcionaram com entusiasmo Elomar, Das Barrancas do Gavião, o primeiro disco do compositor e cantador Elomar Figueira de Melo, em 1974. O imediato e amplo reconhecimento da qualidade musical da obra deste artista, hoje com 15 discos gravados, não provocou um súbito ´modismo´ Elomar pelo Brasil afora. Nem poderia. Ninguém mais avesso ao sucesso superficial e à banalidade do que esse compositor de sólida formação erudita que recria a musicalidade sertaneja em óperas, sinfonias, canções e autos com inusitado requinte. Quem ainda não teve o privilégio de conhecer a música de Elomar poderá ouvi-la neste fim de semana, quando ele faz apresentações, amanhã e depois, no Sesc Pompéia. "Conhecer Elomar é mais do que preciso: é urgente", escreveu Tinhorão em uma de suas críticas. A oportunidade é rara. Há cinco anos ele não se apresentava em São Paulo. E seus concertos tendem a ser cada vez mais raros. Atenção - concertos ou recitais, jamais ´shows´, termo pelo qual ele tem verdadeira ojeriza. Antes de mais nada pelo estrangeirismo desnecessário. "Quando não há substituição, o termo estrangeiro é bem-vindo, enriquece o idioma. Mas se há um sucedâneo, porque ceder à ditadura da língua inglesa imposta via Estados Unidos?" Mas sua indignação com a expressão show não se limita à preservação do idioma. "Não faço shows porque não tenho competência para isso. Não tenho competência para balançar o cabelo de forma tal, correr no palco, fazer remelexo com a bunda", ironiza. Ele prefere ser chamado de cantador, em vez de cantor. "A distância que separa o cantor e o cantador é a mesma que separa a Idade Média européia da Era Industrial", explicou por ele o mestre Muniz Sodré em artigo sobre a obra de Elomar. Desde 1964 Elomar optou por viver no sertão baiano, "a Bahia ibérica", nada a ver com a Bahia do axé music, onde cria bodes às margens do Rio Gavião, a 100 quilômetros de Vitória da Conquista. Para ele, o tempo esticado do sertão é fundamental para chegar ao fim de sua obra, boa parte dela criada "de temática sertânica e em linguagem dialetal", como escreve em uma curta autobiografia, que pode ser lida no site www.elomar.mus.br. Ter de se deslocar até um centro urbano é outro obstáculo para apresentações mais freqüentes. "Vir para a cidade é como fazer uma passagem pelo purgatório", diz Elomar em entrevista à Agência Estado no apartamento de seu filho, o músico João Omar, no bairro da Saúde. No noite de amanhã, junto com os músicos Cristina Geraldine (violoncelo), Daniel Felipe Allain (flauta) e de seu filho João Omar (violonista), Elomar vai mostrar árias de algumas de suas óperas, entre elas Lamento dos Vaqueiros" e , de O Retirante, Peão Engaiolado, de A Casa de Bonecas, e, o que considera inevitável, canções já conhecidas de seu público. Serviço - "Elomar". Amanhã, às 21 horas; e domingo, às 18 horas. De R$ 10,00 a 20,00. Teatro do Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, em São Paulo, tel. (11) 3871-7700.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.