Eldorado relança Vanzolini e Guilherme de Brito

Raridades do samba voltam ao mercado, com os discos do carioca Guilherme de Brito e do paulista Paulo Vanzolini, relançados pelo selo Eldorado

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Por Agencia Estado
Atualização:

Além de sambistas, o carioca Guilherme de Brito e o paulista Paulo Vanzolini são autores de canções que embalam a vida dos brasileiros (como "A Flor e o Espinho" e "Quando Eu me Chamar Saudade", de Brito, e "Ronda" e "Volta por Cima", de Vanzolini) sem ter a música como primeira profissão. E também têm pouquíssimos discos, embora cada um guarde no currículo mais de uma centena de músicas (Brito, pelo menos o dobro). Por isso, os CDs que a Eldorado relança são preciosos. Ambos saíram em elepês no fim dos anos 70 e trazem o autor interpretando sua obra. Brito sempre cantou seus sambas, com ou sem seu parceiro, Nelson Cavaquinho, e fez muitos shows depois que se aposentou da Casa Edson, em 1968. Vanzolini, não. Seus shows são bissextos, pois ele diz que não é cantor. "Esse disco foi gravado de cabeça para baixo, um milagre do Heraldo do Monte. Como não sei cantar acompanhando um grupo de músicos, gravei a voz e ele chegou depois com os instrumentos", conta Vanzolini, que é biólogo, lotado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, uma autoridade mundial em répteis. Música para ele sempre foi diversão e, por isso, compõe pouco nos dias de hoje. Diz que perdeu a graça, o interesse e que não gosta de se ouvir cantando. Talvez por isso, seu disco não tenha seus maiores sucessos. "Não gosto de ´Ronda´ porque é muito piegas. Fiz esta música aos 20 anos (ele tem 82), falando sobre uma prostituta, e vejo donas de casa cantando. Gosto de ´Volta por Cima´, mas não na minha voz, não sei cantá-la." Em compensação, lá estão "Tempo e Espaço", sua preferida com conversa de flauta, clarinete e cordas, enquanto a voz fica lá na frente, dolente e contida. Tem o "Samba Erudito", cuja letra destila humor. E "O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma", que desmente a autoproclamada falta de talento para cantar, pois o jogo de palavras dá tropeços em muito canário profissional. Os arranjos são de Heraldo do Monte, que também toca violão de sete cordas, bandolim e cavaquinho. Cordas e percussões dão base para sua voz sem impostação e os sopros comentam as melodias. O disco é importante porque Vanzolini pouco aparece e grava menos ainda. CDs dele são raros, mas a Biscoito Fino lançou uma caixa com 52 canções em 2003, "Acerto de Contas", com os hits, raridades e inéditas, com diversos intérpretes. Compositor sempre foi funcionário da Casa Edson Guilherme de Brito estreou em disco com este que sai agora em CD. Em 1979, aos 55 anos, sua voz guardava a suavidade à la Orlando Silva e ele já havia sido gravado por Paulinho da Viola, Clara Nunes e Beth Carvalho. O compositor foi sempre funcionário da Casa Edson, onde entrou em 1936, como office boy, para sair em 1968, como chefe de setor. Ao contrário de seu parceiro, Nelson Cavaquinho, não passava noites em rodas de samba e era pouco conhecido dos músicos. Isso não impediu o produtor Pelão de levar para o estúdio a nata dos músicos, entre eles Dino 7 Cordas, que fez os arranjos. Os hits de Guilherme de Brito estão lá, os já citados e também "Pranto do Poeta" e "Folhas Secas", outras menos conhecidas com Nelson Cavaquinho, e uma só dele, "Meu Dilema". A partir dos anos 90, Brito gravaria mais dois discos, produzidos por Moacyr Luz, "A Flor e o Espinho", com o Trio Madeira Brasil, e "Samba Guardado", com inéditas. Ou seja, recebeu algumas flores em vida, como pedira, embora nem todas que mereceu. A série de relançamentos comemora os 30 anos da gravadora Eldorado, que se completam em 2007.

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