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Elba Ramalho grava novos discos e fala sobre seus mistérios

Ao comemorar 35 anos de carreira, cantora paraibana narra experiências com a santa em sua própria casa: 'Ela chorou mel'

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

RIO DE JANEIRO - A casa fica no alto da floresta do Joá, em São Conrado, no Rio, ao lado de uma inspirada obra da natureza chamada Pedra Bonita. Faz um frio de gelar os ossos no inverno e muito calor no verão. A sala branca e arejada tem imagens de santos barrocos e porta-retratos que vão dando pistas da história de Elba Ramalho enquanto ela se prepara para a entrevista. Elba saiu de Conceição do Vale do Piancó, na Paraíba, para se tornar cantora e atriz. Fez seu primeiro disco em 1979, Ave de Prata, e imprimiu a si um ritmo de quem quer viver com urgência. Aos 63 anos, faz até 18 shows por mês, grava dois álbuns ao mesmo tempo, corre na areia fofa, pratica ioga, levanta pesos, reza terços, vai à missa todos os dias, viaja pelo mundo para dar testemunhos cristãos e tenta convencer mulheres a não praticar abortos.

Leoa: a paraibana participa de um grupo anti-aborto Foto: Alex Ribeiro / Divulgação

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Sua devoção é à Nossa Senhora, de quem se tornou uma estudiosa. Mais do que isso. Elba acaba de voltar da cidade de Medjugorjie (a pronúncia é Mediugóri), na Bósnia, onde presenciou sinais com os quais, conta ela, a própria Nossa Senhora se comunica com a humanidade há 33 anos. “Você olha para o céu e o sol aparece às dez da noite para fazer um zigue-zague diante de 60 mil pessoas”. Sua sensação não é boa. A santa que, diz Elba, entregou segredos a seis videntes bósnios, está prestes a mandar o sinal definitivo, que pode significar o final dos tempos.

Antes disso, Elba vai lançar dois discos. O primeiro, patrocinado pela empresa Natura, é 'Cordas, Gonzaga e Afins', com participação do grupo Sagrama e um repertório com forte presença de Luiz Gonzaga. No show que fez há duas semanas no Teatro Castro Alves, em Salvador, ela usou um manto e cantou 'Ave Maria Sertaneja', de Júlio Ricardo e Osvaldo de Oliveira, e 'Ave Maria', de Bach e Charles Gounod, além de declamar o texto 'Ave Maria', de Newton Moreno. Seu outro projeto é o disco que grava no estúdio que montou em casa, produzido pelo filho Luan Mattar e por Yuri Queiroga, chamado 'Livre'.

Você parece ter se espiritualizado mais nos últimos anos. Isso também está em sua música?

Eu sempre tive uma devoção especial a Nossa Senhora da Conceição, minha padroeira. O Nordeste é cheio de misticismos, cheio de religiosidade. Antes de aprender sobre religiões, o nordestino aprende a ter fé. Eu nunca vi um sertanejo desanimado. Essa fé é seu bálsamo, sua bengala. Quanto à música, estou fazendo dois discos. Em um, 'Cordas, Gonzaga e Afins', faço uma parte para Nossa Senhora bem bonita e, no outro, tenho convidados como a portuguesa Carminho em duas músicas inéditas de Dominguinhos, 'Nos Ares de Lisboa' e 'Passarinho Enganador'. São duas em uma, Canto de Chico Science a Serge Gainsbourg. Tem ainda uma inédita da Zélia Duncan e outra do Zeca Pagodinho, que ele compôs para mim há 30 anos.

Sua recente viagem à Bósnia foi em busca de algo espiritual?

Vou para a Bósnia há três anos. O que acontece lá? Nossa Senhora aparece naquela cidade, e são aparições vivas. É um lugar onde o céu se liga à terra. São 50, 60 mil pessoas do mundo todo buscando esse retiro.

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O que são essas ‘aparições vivas’?

Quem vai a Medjugorjie que não é convertido, se converte. O sol de lá pulsa e gira, parece uma lanterna no céu. Isso é filmado por dezenas e centenas de peregrinos. Qualquer pessoa pode tirar uma foto e Nossa Senhora vai estar na foto, Jesus Cristo pode estar na foto. Aquilo que parece não parece, é. O cara vai lá, liga a câmera e a coloca na montanha. Quando filma, lá está Nossa Senhora. E ele diz: “Mas será que é Nossa Senhora mesmo? Meu Deus!” Você vai às dez da noite na Montanha das Aparições e os videntes estão lá. Quem não é vidente não está vendo nada, apenas orando. Mas, então, você olha para o céu e o sol aparece às dez da noite e faz um zigue-zague diante de 60 mil pessoas. Em outra montanha, você olha e vê uma cruz iluminada girando. O que você vai dizer? Que Deus não existe? Aquela cruz desaparece e aí vem uma outra do céu, desce e fica ali. São muitos sinais. Nossa Senhora já escreveu no céu a palavra ‘paz’ várias vezes. O mundo deveria estudar suas mensagens.

Você falou em videntes?

São seis videntes que começaram a ter contatos com a santa quando eram crianças. Agora já cresceram e se casaram, mas continuam em contato. Alguns a veem todos os dias. A santa passou dez segredos a cada um deles, e eles vão anunciá-los ao mundo em breve. Minha sensação é de que estamos bem próximos de viver coisas muito turbulentas.

Mais turbulentas do que as que estamos vivendo?

Mais. O mundo é maravilhoso, mas o comportamento do homem, não. Uma sociedade que insurge contra ela própria entra em decadência. Se as mães matam as crianças no ventre, como vamos pensar na paz? Olha, eu não falo mais coisas que vivi por obediência à Igreja. Eu nunca sei se devo ou não devo falar. Um padre diz: “Guarde pra você”. O outro fala: “Passe adiante”. Se eu te dissesse cinco milagres que vivi, você não iria acreditar.

Fique à vontade. Milagres não são para servir de testemunhos?

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Só que eu sou Elba Ramalho. Imagine eu dizer a você que a santa está chorando mel na minha casa? Vão fazer uma romaria aqui. Eu convivo com evangélicos, ateus, espíritas, budistas. Nos encontros que faço aqui, há pessoas de todas as religiões. Quando Nossa Senhora chorou mel, veio um monge budista que nem falava nada. Ele não sabia quem era Nossa Senhora, mas quis ficar a noite toda no santuário, diante de sua imagem.

Você não tem medo de estar se enclausurando?

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Olhe para mim e diga se eu pareço uma enclausurada? (Elba está maquiada e bem disposta às 10h30 da manhã). Parece que estou infeliz, que estou mal, que fiquei pior nos últimos anos? Estou bem, serena, tranquila. Eu sempre fui meio mística desde pequena, mas tive de tomar umas pancadas e chegar à lama para poder gritar. Eu precisei sair da grande luz e ir para a escuridão e, na escuridão, olhei e percebi que eu era a luz.

Se o mundo acabar mesmo, não vai ser um fracasso também da Igreja? Os homens que a representam não terão cumprido sua missão.

Ah, pelo amor de Deus, culpar a Igreja? Ela é o corpo de Cristo! Quem provoca mais guerras no mundo? O governo norte-americano ou a Igreja? Chegamos ao limite da ambição humana. 

As religiões estão fazendo suas guerras também.

Mas elas oferecem o néctar. São as pessoas que não querem receber. A primeira grande tragédia do mundo é o esfacelamento da família. Quando a família se desmancha, a rua se desmancha, o bairro treme, a cidade treme, o País treme. Eu estou com uma menina me ligando, grávida de sete meses, querendo matar o filho, querendo abortar. E eu estou há dias tentando convencê-la a não fazer isso. Não há diferença de uma gravidez de oito ou de dois meses. Há sempre um ser vivo ali. E dezenas de médicos praticando abortos por seis mil reais.

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Mas você também praticou um aborto (em 1973).

Sim, eu pratiquei. Eu passei por essa experiência e posso dizer que nenhuma mulher apaga isso. Você quer fingir que não aconteceu, mas vai passar a vida toda sabendo que fez aquilo.

E como se vive com isso?

Algo que me deixa muito feliz são as mais de 150 crianças que nasceram pela minha intervenção. Não é fácil. Em uma dessas conversas que tive com uma mãe que queria abortar, eu disse a ela: “Posso fazer uma proposta? Você não quer me matar?”

E ela?

Ficou muda. E eu disse mais: “Eu vou até você, você pega o revólver e me mata. Eu troco minha vida pela vida do seu filho. Vai ser menos covarde de sua parte. Eu sou grande. Se sentir medo, posso sair correndo, posso gritar ou posso rezar no momento de minha morte. Seu filho não pode.” O mundo de hoje é esse: as mães que deveriam cuidar rejeitam os filhos e os médicos, que deveriam salvá-los, os matam.

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