Elba Ramalho faz tributo a Luiz Gonzaga em projeto lançado em DVD

Cantora interpreta os maiores clássicos do Gonzagão

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Por Adriana Del Ré
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Elba Ramalho atravessa a plateia. Vestindo uma espécie de manto, ela caminha cantando - quase declamando - Pau de Arara, de Luiz Gonzaga e Guio de Moraes. Na letra, a história de quem sai do sertão, levando consigo somente a cara e a coragem, e viaja no pau de arara em busca de melhor destino. “Eu penei, mas aqui cheguei”, diz a música. Esse é o caminho percorrido por muitos e muitos nordestinos. E por Gonzagão, por Elba. Ainda entoando Pau de Arara, Elba Ramalho chega ao palco e se posiciona à frente do grupo instrumental SaGrama e do quarteto de cordas Encore, para emendar Algodão, de Gonzaga e Zé Dantas. É o começo do belo espetáculo Cordas, Gonzaga e Afins, cujo registro feito no Recife acaba de ser lançado em DVD. 

Elba Ramalho tem estreita intimidade com a obra de Gonzagão - e tem, como poucas cantoras brasileiras, pleno domínio sobre ela. Assim, o show presta tributo ao Rei do Baião, mas também à própria cantora. “Me senti homenageada. O André (Brasileiro, diretor artístico e um dos roteiristas musicais do show) me disse isso: ‘quero contar a história de Gonzaga, mas estou contando a sua’”, conta Elba, em entrevista ao Estado.   “Eu também nasci no sertão, numa cidade bem próxima à de Luiz Gonzaga (ele é de Exu, Pernambuco, e ela, de Conceição, Paraíba). Também fiz todo o percurso que Gonzaga fez, atravessei toda aquela estrada, vivenciei aquela seca, eu nasci embaixo do sol calcinante, caminhei até o mar atravessando rios cheios, rios secos, vi pássaros cegos, eu vivi tudo aquilo na minha infância. Minha história se assemelha muito à de Gonzaga, me senti muito feliz”, descreve ela. Uma curiosidade: André Brasileiro é sobrinho-neto do diretor Luiz Mendonça, que a acolheu no Rio, quando ela viajou para lá para se apresentar no show A Feira, com o Quinteto Violado, em 1974, e resolveu ficar na cidade. Na época, Elba Ramalho era uma atriz que também cantava.

Elba. Em sua casa, no Rio: repertório traz outros autores influenciados por Gonzagão Foto: Wilton Junior|Estadão

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O repertório tem como mote, claro, a obra de Gonzagão, trazendo outros exemplares como Adeus, Iracema e Sabiá, mas o tal Afins do título do projeto permite que ele avance para canções de outros autores que são influenciados por ele. Dentre esses outros compositores, estão Chico Buarque, Caetano, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Dominguinhos, Lenine e Gilberto Gil. “Todo mundo tem um pouco de Gonzaga, bebeu da fonte dele. A obra dele é muito rica, ele realmente é uma escola. Não é à toa que ele é chamado de o Rei do Baião, a voz do Nordeste”, diz Elba. Inter. Criado pela produtora cultural Margot Rodrigues, Cordas, Gonzaga e Afins saiu em tour por sete capitais. O patrocínio para turnê e gravação veio do programa Natura Musical. A estreia do projeto ocorreu em Salvador, “para uma plateia arrebatada”, lembra a cantora, mas a gravação foi realizada no Recife. Segundo Elba, algumas razões pesaram para se registrar o show na capital pernambucana - sobretudo, logística. “Acho que primeiro pelo fato de o SaGrama e o Enconre serem orquestras de lá. É uma produção muito grande, pesada, cara. Seriam 40 e poucas pessoas viajando, seria muito complicado”, justifica a cantora. A Elba, SaGrama e Encore, se juntam ainda o baterista Tostão Queiroga e os sanfoneiros Beto Hortis e Marcelo Caldi. Já Marcelo Jeneci e Naná Vasconcelos, dos quais Elba diz ser fã, surgem como convidados especiais. 

Além de cantar, Elba é exigida dramaturgicamente. E retoma, satisfeita, seu lado atriz. Lê textos de Newton Moreno (como Aboio Mudo) e José Cabral de Melo Neto (o emblemático Morte e Vida Severina). Há esmero ainda em cenografia e figurino. “Tudo é sempre um desafio quando se trata de palco, de espetáculo, de show”, descreve ela. “Você está sendo desafiado, um disco novo, uma leitura nova, o sistema de ter de decorar. Ai, meu Deus, lá vai a senhora Elba tendo de memorizar tudo. Tenho uma memória excelente. É um trabalho duro.” Foram seis meses de ensaios, viajando do Rio para Recife e vice-versa. 

Elba quer dar continuidade ao projeto em outras praças. “A gente precisa de apoio para esse projeto se apresentar, perdurar. Fico assim meio cobrando: ‘gente, vamos cair na estrada, mostrar mais. É nossa memória, nossa história que está sendo contada. Mas tenho certeza que a gente vai voltar. Quero que siga.” 

CORDAS, GONZAGA E AFINSLançamento: Coqueiro Verde/Natural MusicalPreço: R$ 29,90 

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