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Ela merece herdar o banquinho

Por Agencia Estado
Atualização:

E que disquinho bacana esse da Bebel, Tanto Tempo (Universal Music). Fuzzy bossa, new bossa, tecno-samba, acid samba, cocktail music com grooves de samba. Seja o que for, é parte da atualização clubística da bossa nova, que já começa lá nos anos 80 com o grupo paulistano Fellini e chega às raias da delícia nos anos 90 com o grupo inglês Smoke City - encabeçado por Nina Miranda, brasileira filha do artista plástico Luiz Áquila Miranda. Não é por acaso que Bebel Gilberto, filha do maior totem bossa-novista, João Gilberto, chega à sua estréia de mãos dadas com essa geração. A melhor canção do disco é justamente August Day Song, que ela canta com Nina Miranda e que tem um inglês tocando pandeiro e percussão. Não é por acaso que o produtor do disco seja Suba, um iugoslavo paulistano que plugou toda uma geração na eletrônica. Da internacionalização vem a reciclagem. Só ponho bebop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim. Bebel Gilberto sabe melhor que ninguém que macumba não é rumba e prova isso até mesmo na batucada gringa de Close Your Eyes, com João Parayba na percussão e Suba na programação de teclados. Mas testa os limites principalmente nos três clássicos que entraram no repertório de Tanto Tempo (Samba e Amor, de Chico Buarque; Samba da Bênção, de Vinícius e Baden; e Bananeira, de João Donato e Gil). Em Samba da Bênção, que abre o disco, ela radicaliza no climão eletrônico - com um groove meio havaiano - com as bênçãos do DJ Amon Tobin, carioca que vive na Inglaterra há 20 anos e é uma fera do drum´n´bass. Há até um sampler do próprio disco de Tobin, Permutation. Em Bananeira, a coisa vai mais para o lado do jazz fusion, com o baixo de Jorge Helder ditando o rumo da improvisação, mais Robertinho Silva na bateria e o próprio João Donato nos teclados. Chique até a medula. Em Samba e Amor, é só voz e violão, esse último a cargo de Celso Fonseca. "Eu tenho muito sono de manhã", ela canta, acentuando a preguiça bossa-novística própria do clã dos Gilberto. Sem sacralizar a herança. A impressão inicial sobre Bebel Gilberto, desde que ela apresentou-se com o pai num show no Palace, em tempos recentes, era que a moça não tinha estofo suficiente para sentar-se naquele mitológico banquinho com o tapete persa debaixo. Ela cuidou de dissipar essa impressão. E criou uma nova expectativa.

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