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Edvaldo Santana flutua nos metais em novo disco

Agora reforçado pelos sopros, cantor lança álbum de inéditas, 'Só Vou Chegar Mais Tarde', o oitavo da carreira

Por Adriana Del Ré
Atualização:

Um poeta urbano. Um cronista atento aos detalhes do cotidiano. Aos 61 anos, o cantor e compositor Edvaldo Santana construiu, ao longo de sua carreira, uma obra sensível, coerente, inspirada pelo que ele capta ao seu redor, mas também pela sua vivência, impregnada muito de seu São Miguel, bairro da zona leste de São Paulo onde foi criado. Outro traço marcante de seu cancioneiro é a incursão pelos diferentes ritmos e gêneros, e pelas fusões sonoras – pela música negra, os sons nordestinos, o blues, os ritmos latinos e por aí vai. A cada disco, todos esses elementos são potencializados, mas trazem nuances que conferem frescor a um jeito de fazer música já sedimentado por Edvaldo. É assim também em seu novo disco de inéditas, Só Vou Chegar Mais Tarde, o oitavo da carreira – e que será lançado nesta quinta-feira, 1.º, em show que apresenta no Sesc Pompeia (leia mais abaixo).

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O disco, autoral, vem nessa atmosfera desde a primeira faixa, 40, numa levada rockabilly, em que se sobressaem baixo, bateria e metais. E já dá uma amostra da sonoridade de big band que chama atenção no repertório do álbum – que reúne 13 faixas. O naipe de metais, em especial, é a grande sacada desse novo trabalho. Não que os metais já não tivessem sido incorporados em outros álbuns de Edvaldo, mas não dessa maneira, digamos, encorpada. Diferentemente do que fez em seu álbum anterior, Jataí, de 2011, que vinha com uma base forte de baixo, percussão, guitarra e violão. Agora, o protagonismo fica por conta dos metais, junto com baixo e bateria.

“O Jataí é um disco semiacústico e o seguinte tinha de ser diferente. Depende das composições para saber o que você vai usar, mas eu já tinha em mente essa mudança. Eu tinha feito 40 e Só Vou Chegar Mais Tarde, que já mostravam essa pegada. E, com o Luiz (Waack, que assina a produção do trabalho com Edvaldo, além de tocar no disco), comecei a pensar a arregimentação disso”, afirma Edvaldo, após um dia de ensaio para o show em São Paulo. “Os arranjos de metais do disco são feitos em cima dos meus vocalises.”

Independência. Liberdade de cantar o que lhe faz bem Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Logo na sequência da canção 40, Só Vou Chegar Mais Tarde transporta o ouvinte para outro universo, com sua sonoridade country, misturada com músico nordestina e dixieland (subgênero do jazz criado no começo do século 20, em Nova Orleans). Predicado é conduzido pelo piano. Ando Livre se envereda pelo bolero, cuja sanfona faz ponte também com o Nordeste. Em Gelo no Joelho, Edvaldo retorna ao samba – e segue pelo disco percorrendo pelo rock, blues e jazz e mais sambas.

Autobiografia. Edvaldo Santana gosta das crônicas, como faz em Predicado (Metrô tá cheio passageiro tá sozinho/Essa viagem é quase todo dia assim/Com redfone tablet smarthfone chiclets), mas suas letras autobiográficas também são saborosas. Na canção 40, ele conta sobre sua trajetória, as influências e os parceiros de vida e de música. “Quem joga atrás joga com medo/ Tom Zé Lelê Bashô Pinduca Arnaldo Lepetit/ Um jet black zona leste”, diz num trecho. Em Sou da Quebrada, fala das suas origens: “Sou da quebrada mas eu sou das antigas/ Se precisava tinha quem socorria”.

Gelo no Joelho (parceria dele Luiz Waack) também é autobiográfico – das dores no corpo que sente depois de bater bola com os amigos –, mas, mais do que isso, mostra o amor dele pelo futebol, tema recorrente em sua obra. Outro momento do novo disco em que ele volta a esse universo é na música Dom, em homenagem a Sócrates, ídolo do Corinthians. Edvaldo conta que foi, há alguns anos, convidado para fazer a trilha do que seria um documentário sobre o jogador, mas o projeto acabou não saindo. Mas o músico, que é admirador do craque, morto em 2011, ficou com aquela ideia na cabeça. “Como o documentário não deu certo, pensei em fazer uma música. Fui fazendo devagar.” “É doutor pra jogar no meio tem que ter o dom/ É doutor mas pode chamar de magrão”, canta no refrão. Na faixa bônus, Canção, tem uma outra espécie de tributo, feita a partir de uma versão de Augusto de Campos do poema provençal de Guillaume de Poitiers.

Com o pé na estrada, sempre, Edvaldo Santana não tem pressa para fazer seus discos. O fato de ser músico independente também lhe dá essa liberdade. Gosta de ficar “burilando” suas composições para “ver no que vai dar”. Com Só Vou Chegar Mais Tarde foi assim. E o resultado do novo álbum valeu a espera.Cantora Alzira Espíndola será convidada especial do showOs metais são uma presença marcante no novo disco de Edvaldo Santana, Só Vou Chegar Mais Tarde. E Edvaldo não queria perder essa ambientação no momento em que o trabalho fosse transportado para o palco. Decidiu, então, fazer suas apresentações acompanhado de dez músicos, incluindo metais, piano, bateria, percussão, baixo, gaita e violão. E essa formação já poderá ser conferida no show de lançamento do disco, que será realizado nesta quinta-feira, 1.º, no Sesc Pompeia. “Nunca fiz show com essa formação, quase uma big band”, comenta o cantor e compositor. Segundo ele, a experiência do naipe de metais no disco ficou tão boa que, no show, ele estendeu esses arranjos para outras canções do repertório que originalmente não trazem esses instrumentos. Isso vale para canções do novo disco e também para seus trabalhos anteriores, em músicas como Samba de Trem e Samba do Japa. 

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O show em São Paulo conta ainda com a participação especial da cantora Alzira Espíndola (ou Alzira E). Amiga de longa data de Edvaldo Santana, Alzira participou também do novo disco do músico, cantando em Cabeça na Mesa, num dueto com Edvaldo. “O Luiz (Waack) sugeriu o nome dela para participar da música e ela tem uma pegada rock. Ela mandou ver”, conta o músico.  A também cantora Rita Benneditto é outra presença especial no disco, fazendo dueto com Edvaldo (e os assovios) no bolero Ando Livre - mas não estará na apresentação no Sesc Pompeia. “Eu queria uma cantora nessa música e pensei na Rita.” Os dois, que se conheceram há anos quando ela vivia em São Paulo, tiveram de gravar um à distância do outro.  Morando atualmente no Rio, Rita gravou sua voz no estúdio do filho de Lenine, Bruno Giorgi, e o registro foi enviado para São Paulo. “A Rita tem uma voz forte, nordestina, e é uma pessoa querida.” EDVALDO SANTANA Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93, tel. 3871-7700. Hoje, quinta-feira (dia 1º/12), às 21 horas. Ingresso: R$ 20. 

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