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Ecletismo vai marcar o Free Jazz Festival

Por Agencia Estado
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Separados por cerca de 200 metros, três artistas de naturezas diferentes mostram sua arte. Num palco maior, com um violãozinho, está Richard Ashcroft, ex-Verve. No palco menor está Moby, novo Midas da música eletrônica. Mas é de uma tenda à esquerda que sai o som mais forte, mais violento. Na tenda menor do V2000 Festival, mostra de música na região de Staffordshire (150 km de Londres), apresentou-se, no sábado, o duo eletrônico inglês Leftfield, que será também uma das próximas atrações do Free Jazz Festival. Eles tocam juntos no Museu de Arte Moderna do Rio no dia 20 e no Jockey Club de São Paulo no dia 21 de outubro. O som do Leftfield é uma massa sonora dura, biônica, regida pelos computadores e norteada pela bateria de Paul Daley (ex-Primal Scream) e pelos teclados e a programação de Neil Barnes, também baterista na origem. "Estive em São Paulo há seis anos, como DJ, e vi uma cena noturna excitante, agitada", disse Daley ao Estadao, horas antes do seu show no V2000. Ele estava sentado numa confortável poltrona xadrez instalada num pequeno trailer atrás do palco principal do festival, que levou 50 mil pessoas a Stafford. O Leftfield tem dez anos de experiências no mundo da música eletrônica, embora Daley e Barnes só tenham estourado em 1995, com o disco Leftism. "Acho que, se a banda terminasse hoje, depois desse show, eu não diria sobre ela que ajudou a criar algo novo, mas que teve uma marca, uma assinatura", ele afirmou. "No mundo da música eletrônica, o grande desafio é firmar uma personalidade, uma linguagem pessoal", ponderou. "Eu realmente fico orgulhoso do resultado de nosso trabalho", afirmou. O show do Leftfield é simples, sem muitos penduricalhos cênicos. No fundo do palco há um telão em forma de biombo japonês, sanfonado. No início, vê-se algo que parece uma lâmpada balançando, como se alguém acabasse de resvalar nela. A música abre sem batidas, sibilina, e vai crescendo até estourar em beats quebrados. Eles abrem o show com Rino?s Prayer, carro-chefe (assim como a onipresente Swords) do seu novo e celebrado disco, Rhythm & Stealth (Sony Music). Mas é nos dubs que o Leftfield conquista a platéia. Eles têm uma pegada mais black, menos punk e mais hip-hop do que o Prodigy, por exemplo. Na segunda música, Dub Gussett, o som que sai da tenda do Leftfield já encobre Bitter Sweet Symphony, que Ashcroft canta de forma acústica no palco ao lado, e turva a sutil e bluesística Why Does My Heart Feel so Bad, que Moby rege a 400 metros dali. A maior parte do repertório é composta pelo disco novo, como Double Flash, Chants of a Poor Man, Dub Gussett, Rino?s Prayer, Afrika Shox (que tem a participação do pioneiríssimo Afrika Bambataa) e Dusted. No bis, tocam um dos seus raros hits, Phat Planet, que foi recentemente tema de comercial da mais famosa marca de cerveja do Reino Unido. "Com Rhythm & Stealth nós quisemos um som mais direto, mais techno", disse Paul Daley. "O disco que nos projetou, Leftism, tinha soul, funk, era mais eclético e agora nós optamos por fazer algo com uma única direção, bem definida." Realmente, a palavra para o disco Leftism é ecletismo, já que ele trazia o punk John Lydon (bem antes de o Prodigy ter tido essa idéia, é bom dizer) e o reggaeman Earl 16. Em 1995, aquilo foi considerado revolucionário e chegou a levar o Mercury Prize. Daley e Barnes iniciaram sua colaboração há dez anos, quando se juntaram para produzir apenas uma faixa, Not Forgotten. Gostaram do negócio e estão juntos até hoje, embora pareçam bem diferentes ? Paul é mais calado e introspectivo e Neil é falante, simpaticão. Suas habilidades parecem ir além do palco, já que têm bom faro para a música. No novo disco, por exemplo, revelam os estranhos e desconhecidos cantores Cheshire Cat (Chant of a Poor Man) e Rino Della Volte (em Rino?s Prayer). É uma dupla do barulho.

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