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Duas versões de "Shéhérazade" no Municipal

A Orquestra Experimental de Repertório estréia, sábado, no Teatro Municipal a peça de Maurice Ravel e a de Nicolai Rimski-Korsakov, inspiradas na personagem Xerazade, com regência de Jamil Maluf

Por Agencia Estado
Atualização:

A Orquestra Experimental de Repertório estréia, sábado, no Teatro Municipal, o espetáculo Shéhérazade, que reúne duas obras compostas a partir da personagem Xerezade e suas histórias: a suíte sinfônica Shéhérazade, de Nicolai Rimski-Korsakov e Shéhérazade, do francês Maurice Ravel. Com regência de Jamil Maluf, o espetáculo conta com a participação da Imago Cia. de Animação, dirigida por Fernando Anhê. A soprano Cláudia Riccitelli também participa das apresentações. Shéhérazade busca recriar a imagem de Xerezade e o imaginário que cerca as histórias por ela contadas, que povoam a mente do ocidente desde que Antoine Galland fez a primeira tradução - considerada, por muitos, na verdade, uma adaptação tendo em vista a falta de fidelidade aos textos originais - no século 18. Para tanto, foram escolhidas as obras de Ravel e Rimski-Korsakov, sempre tendo em mente os diferentes olhares a respeito do mito de Xerezade propostos pelos compositores. Segundo Fernando Anhê, Ravel - que musicou poesias de Tristan Klingsor a respeito da personagem - preocupa-se em entender as motivações de Xerezade. "Está por trás de sua música a busca pela compreensão de seus estratagemas, seu lado intimista, como ela reagia perante as dificuldades colocadas pela situação que ela vivia", diz. Enquanto isso, Rimski-Korsakov está interessado na fábula, na recriação musical de alguns dos acontecimentos narrados por Xerezade, como O Mar e o Navio de Simbad e O Jovem Príncipe e a Jovem Princesa. "Rimski-Korsakov não tem a sutileza de Ravel, está preocupado com a ação, a fábula, o fantástico", indica Anhê. Musicalmente, as diferenças apontadas por Jamil Maluf também são grandes. "A leveza de Ravel opõe-se ao peso orquestral de Rimski-Korsakov. Trata-se de dois tipos bastante diferentes de brilhos e apelos dramáticos", diz o maestro, que faz questão de ressaltar, porém, o fato de que ambas as peças mostram compositores no auge de suas capacidades. "Ravel disse certa vez que colocou em sua Shéhérazade todos os princípios que regiam sua estética em composição orquestral. Assim como Rimski-Korsakov, ele mostra um compositor que sabe fazer alusões a temas musicais estranhos à sua realidade, com extremo bom gosto, sem transformar a peça em um pastiche de temas e sons." Fernando Anhê ressalta, porém, que há pontos em comum nas duas obras, que também orientaram a criação da coreografia a ser interpretada pelos atores da Imago, que utilizam a técnica do teatro negro. "Os dois compositores mostram o poder de sedução de Xerezade, e a transformação pela qual ela passa, a força que ela adquire", acrescenta. Shéhérazade faz parte da série Música e Cena, inaugurada no ano passado com o espetáculo Dois, em que Fernando Anhê criou uma coreografia para os atores da Imago sobre a peça Os Planetas, do compositor Gustav Holst. A intenção da série é criar uma interpretação cênica e visual a partir de obras consagradas do repertório sinfônico. "As obras de Ravel e Rimski-Korsakov não foram criadas com a intenção de ser encenadas. Acreditamos, porém, que ao estabelecer esse universo cênico possibilitamos a descoberta de maneiras de aprofundar as questões despertadas pela música desses grandes compositores", diz Maluf. Orquestra Experimental de Repertório. Participação da Imago Cia. de Animação. Regência de Jamil Maluf. Direção e criação de Fernando Anhê. Sábado, às 21 horas; domingo, às 17 horas. DeR$ 5,00 a R$ 8,00. Teatro Municipal. Praça Ramos de Azevedo, s/n.º, tel. 222-8698

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