Dorival Caymmi faz 90 anos e ganha CD dos filhos

Nana, Dori e Danilo gravam o CD Para Caymmi, com 20 sambas clássicos do pai para festejar seu aniversário

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Por Agencia Estado
Atualização:

O compositor Dorival Caymmi faz 90 anos em 30 de abril, mas o presente para as dezenas de milhares de brasileiros que embalam a vida com sua música já está pronto. É o CD Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo, seus filhos, que gravaram 20 sambas dele, todos clássicos. A idéia foi de Nana, que há um ano e meio lançou O Mar e o Tempo, com as canções praieiras de Caymmi. Este disco é complemento daquele e também uma reunião da família na data. "A causa de tudo é a mamãe (a cantora Stella, casada com Dorival há 64 anos) que quer o Dorivalzinho (como a família chama Dori) por perto. É preciso arrumar trabalho para ele aqui", brinca Nana, lembrando que o CD vai virar DVD, em show no Canecão, dia 30 de abril, com repeteco em São Paulo e Salvador. A escolha do repertório foi pragmática. Entraram 20 sambas feitos só por Dorival e que todo mundo canta desde que se entende por gente, mas nem sempre lembra que é dele. "No Brasil, costuma-se atribuir a música ao cantor, como acontece agora com A Vizinha do Lado (tocando sem parar na novela Celebridade, tema da manicure Jacqueline Joy)", comenta Dori. Ele assina os arranjos e optou pela simplicidade. "Procurei me manter dentro do espírito dele, que é muito dono de suas músicas. Ele nem sempre gosta dos arranjos que faço, pois acha jazzístico demais. Agora gostou. Senti sua satisfação e e ele até falou: ´Chorei de emoção, mas vocês não viram.´" Para Caymmi é mesmo emocionante. A qualidade técnica é perfeita, mas o astral dá a impressão de surpreender um sarau familiar, como tantos que acontecem Brasil afora, em que os sambas de Dorival são o repertório básico. Nana queria um som para animar churrascos de fim de semana e conseguiu. Mas tem muito mais, junta sofisticação e simplicidade: é puro Dorival Caymmi, feito porque quem melhor o conhece. Dorival nasceu em Salvador, em 1914, chegou ao Rio com 24 anos, já sambista, tentando ser jornalista. De cara, encantou dois poderosos da época, o empresário Assis Chateaubriand, dono de poderosas rede de rádios e jornais, e a cantora Carmem Miranda, estrela absoluta da época, a quem ele ensinou ginga, malícia e a cantar sambas brejeiros como O Que É Que a Baiana Tem?, primeiro hit do compositor, em 1939. De lá para cá foram cerca de 200 músicas e todas fizeram sucesso de alguma forma. Os três filhos, de temperamentos diferentes mas unidos como poucos, conviveram com isso e, fato raro no show biz mundial, são músicos bem sucedidos, independente da fama do pai. "Para mim ele é vital, porque eu, ainda criança, esperava ouvi-lo cantar no rádio para dormir e os músicos e amigos que ele trazia para casa foram responsáveis pela minha formação musical", comenta Dori. Nana lembra que, ainda criança, não tinha dimensão da importância do pai. "Mamãe mostrava que ele era o dono da casa, mas eu achava engraçado ver lá pessoas que eram famosas, da televisão. Imagine chegar da escola e encontrar Elizeth Cardoso, Procópio Ferreira, ter João Gilberto e o Trio Yraquitan tocando na sua festa de 15 anos", diz ela. "Canto desde os dois anos, adorava as músicas dele, mas só mais tarde, já adulta, percebi sua importância." Danilo admite ter o pai como modelo. "Quando comecei a compor, busquei me aproximar do público, como ele. Como fiz sucesso logo de cara com Andança (em parceria com Paulinho Tapajós e Edmundo Souto), sempre busquei essa forma direta de comunicação com o povo." Quem ouvir Para Caymmi vai concordar, pois não há tradução melhor do Brasil que O Samba da Minha Terra, Dois de Fevereiro, Eu não Tenho onde Morar, Saudade da Bahia, Vatapá, Rosa Morena e outros sambas do disco. No show do dia 30, praticamente a única comemoração dos 90 anos, Nana vai cantar parte do repertório de O Mar e o Tempo. "E vai ter também aquelas músicas que o público exige, como Peguei um Ita no Norte", conta ela, avisando que o ciclo Dorival Caymmi ainda não se encerrou. "Mais para a frente, vou gravar um disco só com seus seus samba-canções."

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