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Dori Caymmi mostra seu álbum "mais importante"

Em São Paulo, ele dá um prévia de Influências, em que homenageia os grandes nomes da música que mais marcaram sua formação artística

Por Agencia Estado
Atualização:

Dá inveja imaginar um universo musical que tem na sua origem, mais precisamente no berço, o canto de Dorival Caymmi. Para amenizar a inveja dos tristes, Dori, um dos filhos talentosos dessa família, faz uma leitura, estritamente musical, da sua história por meio do CD Influências - previsto para ser lançado no dia 1.º de agosto pela gravadora Universal Music. Enquanto isso não ocorre, Dori dá uma canja desse repertório, que naturalmente se cruza com o melhor da produção da música popular nacional do século passado. Amanhã e quarta-feira, ele se apresenta no Bourbon Street, ao lado de outro sortudo, Danilo. A inveja não surge espontaneamente. Começa quando Dori se propõe a relatar a música que está dentro dele. Ao menos agora, às vésperas da divulgação oficial, ele não consegue escapar dessa trilha sonora, tamanha intensidade desse processo criativo. "É o disco mais importante da minha vida. É o momento em que registro o que me tornou músico. Tudo o que me impressionou", afirma ele. Depois do álbum Cinema: A Romantic Vision, de 1999, Dori já planejava essa "retribuição" aos seus mestres. "Eu queria agradecer a essas pessoas, dando uma leitura moderna - digo moderna por ser atual, não tem nada a ver com essa leitura bossa-nova ácida, que soa como modismo e ganha o mundo como referência de música brasileira", diz. "É uma nova visão harmônica da minha época sobre essas obras que me formaram." Dori cita os "influenciadores" com grande prazer. A começar pelo pai, a primeira fonte de informação. "Até aos 5 anos, era só o que eu ouvi e apreciava muito. Depois, ouvi muito Dick Farney, inesquecível. Quando adolescente, corri atrás do Tom (Jobim), do Baden (Powell), João (Gilberto) e não os deixava em paz. Eu queria tirar o máximo deles", conta. "Quando ouvi o violão de Chega de Saudade, que não gravei, quase morri." Ao se referir a João Gilberto e Baden Powell, Dori não privilegia a bossa nova, mas a rica escola violonística brasileira, que dá margem para homenagens mais sutis, presentes de alguma forma nos seus arranjos. Entre elas, um pouco da forma de tocar de Jacó do Bandolim, um dos mestres do choro. Nesse caso, Radamés Gnatalli também está por perto. A música que impressionou Dori não se prende ao eixo Rio-São Paulo, onde foi criado. As lembranças de Jackson do Pandeiro, João do Valle e Luís Gonzaga, ícones importantíssimos na formação de Dori, estarão representadas por Dominguinhos. "Hoje, ele é o meu herói nordestino, acho que ele sintetiza as nossas grandes influências. Além disso, Dominguinhos é, de fato, um típico nordestino, que mantém a simplicidade, que enfrenta o sertão, tocando pelo interior adentro, com a mesma alegria que toca numa capital", define Dori. A gravação com Dominguinhos foi feita no Brasil, assim como a participação de Maria Bethânia, Gal Costa e Nana. "Além de mim, que não sou exatamente um cantor, os quatros serão as únicas vozes do disco. Eu os imaginava cantando certas músicas. Cada um desses artistas carrega consigo uma forma de interpretação única, característica que eu não vejo mais na música brasileira. Não ouço gente expressiva, com dramaticidade no canto." O restante do CD foi gravado na Califórnia, onde costuma produzir seus trabalhos. "Tenho uma grande banda lá, que sempre toca comigo nos meus discos", informa. "Influências não é uma volta ao Brasil. Ele nunca saiu da minha vida, embora eu não more no País há mais de dez anos. Quando saí, não foi para buscar uma música estrangeira. Fui trabalhar como músico, um proletário. E quando a Tropicália surgiu, eu era a oposição, totalmente radical às novas gerações roqueiras", explica. "Mas gosto da obra de muitas pessoas da minha geração, como Caetano. Adoro a melodia de Sampa. Meu próximo disco será com canções dos meus contemporâneos." Nesta terça e quarta, Dori aproveita para mostrar algo do novo CD. Mas não deve esquecer o belíssimo Cinema: A Romantic Vision. O álbum, dedicado ao seu mestre Henry Mancini é composto por um repertório predominantemente norte-americano, de qualidade inquestionável. Dori não é tão radical quanto parece. Dori Caymmi. Terça e quarta-feira, às 22h30. Couvert artístico R$ 35,00 e R$ 45,00 (amanhã) e R$ 40,00 e R$ 50,00 (quarta).Bourbon Street Music. Rua dos Chanés, 127, tel. 5561-1643.

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