Doors, para amar ou odiar

O novo pacote de álbuns da banda, que está chegando agora ao mercado, dá razão tanto aos que achavam Jim Morrison um grande poeta como aos que o achavam só um chato

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Por Agencia Estado
Atualização:

Todos sairão satisfeitos com a nova Coleção do Doors. Aqueles que procuram mais razões para relembrar o quanto insuportável Jim Morrison poderia ser, encontrarão munição suficiente em The Bright Midnihgt Sampler (coletânea de músicas gravadas durante shows nos EUA) e Doors Live in Detroit (CD duplo gravado numa apresentação em Detroit). Aqueles que o consideram um poeta e provocador que derramou nas gerações do incenso e da loucura um coquetel venenoso, terão seus sonhos igualmente satisfeitos, particularmente em No One Here Gets Out Alive, um bajulador registro fonográfico sobre Doors, produzido em LP, em 1979, e agora lançado em quatro CDs. O lançamento dos três álbuns pela gravadora Bright Midnight, disponíveis no site do Doors (thedoors.com), e Stoned Immaculate, um álbum tributo com a participação de estrelas como Greed, Stone Temple Pilots e Aerosmith, dão continuação a expansão do franchise Doors. Mesmo após quase 30 anos da morte de Morrison, a fascinação do público pela banda não apresenta sinal de decadência. No verão de 1969 até 1970, quando os concertos de The Bright Midnight Sampler foram gravados, Morrison tornou-se um alvo de críticas após, supostamente, ter tirado sua calça durante show em Miami. O incidente incluiu o Doors na lista negra de algumas cidades e fez do quarteto um show de circo para os novos "rock-and-roll voyers" Sem medo do ridículo - A atitude de Morrison de não se importar em parecer ridículo é o que o torna tão especial. A excentricidade era sua marca registrada, os discursos feitos pela banda, histeria dos fãs e os inconscientes improvisos (como Dead Cats, Dead Rats), era algo de que ele não abria mão. Numa versão de 17 minutos de When the Music´s Over, no show Live in Detroit, o quarteto viaja de um fraco clímax a um absurdo de cair os queixos: a guitarra de Krieger bate no alçapão sob o pé de Morrison enquanto este uiva como um animal queixando-se sobre como ele quer ouvir "o grito da borboleta". Ao mesmo tempo, Manzarek responde com uma agitação de notas e Densmore faz o seu instrumento estremecer na expectativa de interromper o grito. É uma maratona viajar com uma banda no seu auge, três excelentes músicos em desentendimento com um vocalista que nada teme - até esgotar as possibilidades de se fazer de bobo. Morrison transforma-se de bombástico a brilhante aparentando apenas se divertir com a monstruosidade de sua imagem ao invés de sucumbir a ela. Em No One Here Gets Out Alive, a banda tem o problema de se manter fiel ao script de rock de Morrison, ou seja, sem a dissensão de uma voz que traga sanidade ou ao menos um mínimo de humor. Crítico literário notório, Krieger define seu velho companheiro "um dos mais importantes poetas dos últimos 50 anos", e o grupo sugere que não estariam surpresos se Morrison ainda estivesse vivo. É claro que ele não está, porque se estivesse provavelmente daria um chute no traseiro de todos os envolvidos em Stoned Immaculate, incluindo os sobreviventes da banda. De alguma forma, Krieger, Densmore e Manzarek não poderiam deixar de participar de seu próprio álbum tributo, por mais estranho que isso pareça. O mito Riders On The Storm, que surgiu das cinzas e virou um sucesso explosivo, retorna após John Lee Hooker ser persuadido a fazer um dueto com a voz de gravada de Morrison em Roadhouse Blues - uma proeza que não faz nenhum favor a uma lenda.

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