Dona Onete promove os ritmos paraenses, do carimbó ao brega

Com novo disco, show e evento culinário, cantora e compositora vem a São Paulo apresentar as músicas de 'Rebujo' e participar de evento culinário, em que cozinha e conta suas histórias

PUBLICIDADE

Por Guilherme Sobota
Atualização:

Outra personagem de Amazônia Groove – o documentário de Bruno Murtinho que explora os caminhos da música paraense e chega aos cinemas nesta quinta-feira, 6 – é Dona Onete, como não poderia deixar de ser. 

PUBLICIDADE

Em maio, ela lançou Rebujo, seu terceiro disco, prestes a completar 80 anos. Professora de história e estudos amazônicos durante toda a vida, sempre com um fraco pela música e pela cultura local, foi apenas na sua sétima década de vida que ela entrou de fato na indústria da música – e os dois primeiros discos a colocaram num tipo de evidência nacional que nem ela nem seus produtores imaginavam (No Meio do Pitiú e Jamburana se tornaram obrigatórias em espaços de música brasileira em São Paulo nos últimos anos).

Ela apresenta as músicas do novo trabalho nesta sexta-feira, 7, no Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82, São Paulo, R$ 80). 

“O que está acontecendo é um grande rebujo musical no Pará”, diz Dona Onete, por telefone desde Belém, pouco antes de embarcar para São Paulo (leia entrevista abaixo) – a palavra diz respeito a trazer à tona o que estava no fundo do rio.

Dona Onete em cena do filme 'Amazônia Groove' Foto: Urca Filmes

As canções do álbum trazem o carimbó “chamegado”, marca característica de Dona Onete, mas passeiam pelo brega, pelo bolero e até pelo samba – Musa da Babilônia, uma parceria com o BNegão, fala sobre uma musa do Leme, no Rio, no ritmo de Noel Rosa e Beth Carvalho.

“Sempre vou mesclando alguma coisa, porque não sou cantora de só um ritmo”, afirma. “Não quis usar o carimbó como escudo. E eu não escrevo nada, só canto e os meninos gravam. Na hora de compor, vem de uma vez, a letra, o ritmo e tom. Essa é uma vantagem que levo por ser compositora e cantora.”

A alegria permanente de sua voz, cantando e falando, entrega o motivo de ela continuar fazendo e produzindo música nova, mas a própria Ionete da Silveira Gama acredita que precisa seguir abrindo os caminhos nos ritmos dominados historicamente por homens. “No sertanejo você vê o que aconteceu. As mulheres só ficavam na parte de trás, mas agora vieram para o palco e deu certo. Mulher canta, toca de tudo, guitarra, banjo, maracas”, completa.

Publicidade

Antes de subir ao palco, porém, Dona Onete apresenta, também em SP, seu “cooking show” a Cozinha Maravilhosa de Dona Onete, nesta quinta-feira, 6, no Centro Cultural Rio Verde (Rua Belmiro Braga, 119). Com habilidades culinárias testadas e famosas inclusive na cena musical do Pará (Gaby Amarantos garantiu, numa entrevista recente), a cantora apresenta a experiência gastronômica, cozinhando em um bate papo com o público – que ao final, tem direito a prato principal (peixada ao molho caboclo) e sobremesa (pudim parauara). Os ingressos custam R$ 180. O evento já foi apresentado na Austrália e Nova Zelândia, onde Dona Onete esteve no início deste ano.

“Não dá para desligar a culinária do que eu falo, com tanto tempo de estrada”, conta. “Está totalmente ligada ao trabalho artístico.” Balanço do Açaí é uma das faixas do novo disco, mas desde o sucesso de Jamburana, de 2013, as comidas típicas aparecem nas suas letras, numa mistura típica e inconfundível.

Entrevista — Dona Onete

Como você explicaria o carimbó para alguém que nunca ouviu o ritmo e, também, o que te atrai de maneira fundamental nele?

PUBLICIDADE

Dona Onete: A gente ainda não sabe o que atrai tanto. Muitas pessoas vêm aqui para ver a música do Pará e perguntam pelo carimbó. Basta bater dois tambores, um banjo, uma maraca: pronto, tira o sapato e dança descalço. É um som indígena, tem poucas coisas de negro. O corpo balança, não tem aparelhagem ou tecnologia, bastam somente os instrumentos. O fraseado vai ficando bonito, começa fraquinho, mas depois de umas cervejas, de uma cachaça jamburana, vai até de manhã (risos).

Você se sente “a” mulher do carimbó? Como manter esse trabalho num ritmo historicamente dominado por homens? 

Eu continuo. Se eu parar, as mulheres não entram. Homem é muito dominador. Como em todos os ritmos. Mas a mulher dá alegria, e agora misturou. Digo como se fosse uma rosa balançando no vento e os beija-flores em volta. Carimbó graças a Deus.Aí em São Paulo, o carimbó faz sucesso.

Publicidade

Qual é a diferença compor carimbó e os outros ritmos?

Só canto e os meninos gravam. Não escrevo nada. Vem tudo, a letra, o ritmo e tom.

Ouça Festa do Tubarão, uma das músicas novas de Rebujo, de Dona Onete:

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.