PUBLICIDADE

Documentário mostra que Villa-Lobos foi responsável por definir uma noção do que é o Brasil

O Tempo e a Música: Villa-Lobos estreia nesta segunda-feira, 9, no canal Arte 1, às 21 h

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Villa-Lobos é o Rio Amazonas, repleto de afluentes que se cruzam, afastam, convergem, se separam. A definição é do maestro Isaac Karabtchevsky e é oferecida em um dos oito episódios do documentário sobre o compositor apresentado pelo pianista Marcelo Bratke e dirigido por Janaína Dalri. A ligação com a natureza brasileira é simbólica da proposta do projeto: mostrar que, com sua música, mais do que representante da cultura nacional, Villa-Lobos foi responsável por definir uma noção do que é o Brasil.

Marcelo Bratke imita foto famosa de Villa-Lobos Foto: Romulo Fialdini/Divulgação

PUBLICIDADE

O Tempo e a Música: Villa-Lobos estreia na segunda-feira, dia 9, no canal Arte 1, às 21 h, onde será apresentado semanalmente às segundas-feiras. É o novo lance de um projeto amplo que Bratke tem dedicado ao compositor, Villa-Lobos Worldwide, que inclui ainda séries de concerto em todo o mundo, a gravação da sua obra para piano, palestras e um programa semanal na Rádio Cultura FM. “Sempre atuei em diversas frentes em minha carreira”, explica o pianista ao Estado. “Mas há algum tempo senti a necessidade de mergulhar mais a fundo em Villa-Lobos. E descobri um autor fascinante, uma estrada repleta de bifurcações. E segui esse caminho.”

Todos os episódios seguem um mesmo formato. “Minha primeira ideia era fazer um documentário de 40 minutos, uma hora, sobre o Villa. Mas quando conversei com o pessoal do Arte 1 surgiu a possibilidade da série com oito episódios. Precisei, então, repensar o projeto, de maneira mais ampla. Cada episódio tem quatro eixos: a história de Villa, sua música, o testemunho de pessoas ligadas a seu trabalho e uma preocupação com um olhar íntimo, que colocasse o compositor na sala da casa das pessoas”, explica Bratke, que trabalhou com a produtora Cine Group. 

Do primeiro ao último episódio, são tratados temas como a infância, a descoberta da música, a relação com a natureza, com o folclore, as viagens pelo mundo, seu trabalho como educador e o seu legado para as artes brasileiras. Entre os convidados, que dão depoimentos e se apresentam, estão artistas como Gilberto Tinetti, Arthur Nestrovski, Fabio Zanon, Camila Titinger, Mariannita Luzzati, Ligia Amadio, Yamandu Costa, Edu Lobo e o crítico musical Irineu Franco Perpetuo. 

Por todo esse trajeto, há como guia o olhar do próprio Bratke. Um olhar que se construiu com o tempo. “Desde que comecei o envolvimento mais próximo com a música de Villa-Lobos, tenho feito descobertas importantes. Quando faço concertos em teatros como o Carnegie Hall ou o Queen Elizabeth Hall, o público reage fascinado a um compositor que, de certa forma, soa exótico para eles. Já quando percorro o interior do País tocando, é interessante ver como as pessoas se reconhecem na música do compositor, cantam junto. Tocar para crianças, por sua vez, é testemunhar um momento rico de descobertas – e essas descobertas também me impressionaram quando fiz uma série de recitais em presídios de São Paulo, onde a relação da música de Villa com a natureza chamou a atenção especial dos presos. Por fim, no programa de rádio, tenho semanalmente um convidado, que compartilha a sua visão a respeito do compositor. Quando eu somo todas essas experiências, e o olhar microscópico da partitura quando se está gravando uma obra, me dou conta de como a minha própria percepção foi se transformando.”

Para Bratke, há algo de interessante no que ele chama de “assimetria” do compositor. “Villa foi um autodidata, não tem um olhar acadêmico. Por isso, sua obra segue em diferentes direções. Costuma-se dizer que a distância mais curta entre dois pontos é uma linha reta. Mas a distância mais curta entre dois pontos é, na verdade, a imaginação, o sonho. Villa-Lobos sonhou um Brasil e deu cara musical a ele”, diz. “Villa entendeu a colcha de retalhos que era o País e fez dela música. Suas obras são um espelho de um Brasil que existia e ninguém percebia, diverso e musicalmente harmonioso. Por conta disso, suas criações oferecem um olhar muito interessante a respeito do que é a formação de uma ideia de cultura”, acrescenta Marcelo Bratke.

Correções

O texto foi atualizado para reforçar que o documentário é apresentado pelo pianista Marcelo Bratke e dirigido por Janaína Dalri.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.