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Discos recuperam sedução da pianista Guiomar Novaes

Trabalhos revelam um repertório clássico que ela voltou a interpretar

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Por Redação
Atualização:

Guiomar Novaes já conquistara Fauré e Debussy em Paris e estreara aos 20 anos em Nova York. Retornava à cidade três anos depois, em 1919, para pisar num estúdio pela primeira vez. Gravou uma penca de pequenas peças para a Victor Talking Machine Company lançar em discões de 78 rotações. A primeira foi a mesma com que estreou num palco em São Paulo aos 11 anos: A Grande Fantasia sobre o Hino Nacional, de Gottschalk. O produtor Ward Botsford ficou nervoso quando acabou o tempo de Guiomar e Duke Ellington, o seguinte a gravar, lá entrou e em silêncio ouviu-a tocar. Imediatamente enfeitiçado por Guiomar, Duke acalmou-o dizendo-lhe que estava adorando aquela “crazy pianist”. 

Outro que meio século depois também foi por ela enfeitiçado para sempre é Nelson Freire. “Charme e espontaneidade foram duas características marcantes no toque de Guiomar”, diz o guiomarmaníaco ao Estado. “Sua música transcendia e você ‘ouvia’ histórias ou visualizava luzes e cores infinitas. Tudo fluía com uma naturalidade assombrosa. Para aqueles que como eu tiveram o privilégio de assisti-la pessoalmente, era também uma festa para os olhos. Seu porte digno, a completa concentração que impressionou até Debussy, a facilidade com que tocava ficaram para sempre na minha memória. Infelizmente, o único vídeo existente tornou-se posse exclusiva de um de seus admiradores que não o compartilha com a legião de fãs de Guiomar com menos de 50 anos espalhados pelo mundo afora!”

Pianista. "Sua música transcendia", afirma Nelson Freire Foto: Divulgação

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Este poder de sedução ainda encanta todos os que a ouvem em gravações pela primeira vez - e confirma, para os que já a conhecem, as razões de tamanha paixão. Por isso é importante o lançamento da gravadora APR reunindo pela primeira vez tudo que ela gravou - e foi lançado no mercado em 78 rotações - entre 1919 e 1947. A primeira fornada de 20 faixas, de 1919-27, para a RCA Victor; a segunda, de 33, para a Columbia Recording Corporation, de 1940-47.

Danem-se os chiados. Eles não impedem que se tenha uma ideia da arte de Guiomar num repertório que ela raramente revisitou. Estão lá, entre outros, a Dança dos Espíritos de Gluck, que Nelson incorporou como extra preferido; tributo a seu professor em Paris Isidor Philip; peças de Liszt, Moszkowski, Chopin, Mendelssohn, Ibert e os brasileiros Alexandre Levy (Tango Brasileiro) e Villa-Lobos (Polichinelo). O ciclo Victor encerra-se em 1927 com a Fantasia de Gottschalk em versão mais “limpa”.

No pacote 1940-47 da Columbia, de melhor qualidade técnica, há o catalão Mompou, quatro sonatas (2 de Scarlatti e as outras de Daquin e Couperin, dois cravistas franceses do século 18), um Bach (Tocata BWV 912) e um Mozart(Rondó K.511) diferentes. As quinze peças de Villa-Lobos são curiosamente creditadas a “Villa-Lobos/Novaes”, como se fossem arranjos. Cinco cenas infantis de seu marido Otavio Pinto e a Tocata de Camargo Guarnieri, um moto perpétuo de menos de 3 minutos, completam a “viagem”.Nelson Freire comenta as três peças

A pedido do Estado, de Barcelona, onde toca neste fim de semana, Nelson Freire comenta as três peças que mais o impactaram nestes 53 registros:

Triana, no. 3, segundo caderno, de "Iberia", de Isaac Albéniz: "Impressionante a verve e o vigor aliados a um transcendente pianíssimo. Pulsação eletrizante. Uma obra dificílima pianisticamente, em que a maioria dos intérpretes ‘acomoda’ o andamento em função das passagens mirabolantes. Guiomar mantém o tempo ( bem mais rápido que o usual) do princípio ao fim.

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